Correio da Cidadania

Eleições na Colômbia: começo do fim da política tradicional

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Nunca antes na história do país um candidato à margem da política tradicional e com um pensamento de centro-esquerda tinha conseguido os índices de apoio que Gustavo Petro atingiu nas eleições presidenciais.

Encerrada neste domingo (17) a totalidade da apuração das mesas no segundo turno, o representante da ultradireita colombiana Iván Duque impôs-se com 54% dos votos frente a 42% da votação atingida pelo ex-guerrilheiro do M-19, ex-congressista e ex-prefeito de Bogotá.

Havia esperança na Colômbia Humana. Por isso, o fundo pesar que invadiu os seguidores de Petro quando souberam da vitória do candidato do Centro Democrático, o partido fundado e liderado pelo ex-presidente Alvaro Uribe.

No entanto, Petro agradeceu e ao mesmo tempo pediu a grande coalizão de forças que o apoiaram para renunciar à tristeza e continuar mobilizada pela mudança. “Aqui não há derrota. Por ora não seremos governo”, afirmou.

“Petro, amigo, o povo está contigo”, cantava uma multidão na noite deste domingo em Bogotá, enquanto o ex-presidenciável tentava fazer um discurso de ânimo e fé em uma vitória futura da Colômbia Humana.

“Somos oito milhões de colombianos e colombianas livres e firmes. Aqui não há derrota”, afirmou, em alusão ao número de colombianos que votaram nele.

Petro comentou que o mundo estava esperando um milagre da Colômbia, por isso o respaldo à Colômbia Humana de figuras tão ilustres como o linguista estadunidense Noam Chomsky e o Prêmio Nobel de Literatura sul-africano John Coetzee, entre outros.

Mas, o poder das máquinas políticas e dos eixos clientelistas que se armaram na campanha de Duque, somado à estratégia do medo contra Petro usadas ao limite pela agenda midiática, pesaram na decisão do eleitorado.

“Na Colômbia, ainda que todos ou quase todos neguem, o ódio tem sido um sentimento construtor da sociedade”, ressalta o analista colombiano Joaquín Robles.

Robles mencionou o ódio existente contra as manifestações políticas de esquerda, as que, em seu entendimento, são satanizadas em nível quase doentio.

Ao explicar o resultado do segundo turno, Petro afirmou: “ganharam de nós dizendo que éramos ateus. Ganharam dizendo que tínhamos matado gente, que íamos fechar igrejas, que íamos nos transformar em uma nova Venezuela. Ganharam com mentira sobre mentira”.

“Assustamos eles tanto que os juntamos. Mas, em algum dia, muito em breve, entraremos no Palácio de Nariño”, sentenciou o representante da Colômbia Humana e da Grande Coalizão pela Paz.

Para o reconhecido sociólogo argentino Atilio Borón, o que ocorreu na Colômbia foi que pela primeira vez em sua história o tradicional bipartidarismo da direita foi quebrado com o aparecimento de uma candidatura de centro-esquerda.

A Colômbia Humana de Gustavo Petro, opina Borón, “marca o começo do fim de uma época”.

Trata-se, estima o catedrático argentino, “de um parto lento e difícil, doloroso como poucos, mas cujo resultado será a construção de uma nova hegemonia política que desloque as forças que por dois séculos exerceram sua dominação na Colômbia”.

O povo da Colômbia se colocou em marcha. “Tropeçou, mas se levantará e, muito em breve, vai parir um novo país”, prognosticou o escritor.


Tania Peña é jornalista do Prensa Latina, de Bogotá.
Tradução: Diálogos do Sul.

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