Triste povo brasileiro
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- Paulo Metri
- 19/10/2018
Tenho recebido conselho de amigos e familiares para não escrever sobre política no momento atual. O pedido é inusitado, pois cansei de fazer críticas, por exemplo, às decisões de FHC, quando ele era presidente e nunca me aconselharam nada parecido. Tento, a seguir, somente trazer lógica para o imenso nonsense atual. Para tranquilizar meus amigos, não tenho gana de criticar Bolsonaro, até porque as críticas às suas falas são obviedades ululantes. Qualquer uma delas fere a ética e o senso de humanidade.
Contudo, a questão estarrecedora, ligada a tudo isto, se prende às seguintes perguntas cruciais: 1) A maioria dos brasileiros, que dão votos válidos a Bolsonaro, aprova o estupro de mulheres (sem entrarmos no mérito de considerarem-nas bonitas ou feias)?
2) Esta maioria é também composta de racistas?
3) Nossa sociedade, representada por sua maioria, aprova a homofobia?
4) Os brasileiros reconhecem a inferioridade da mulher em relação ao homem?
5) Os conflitos na sociedade podem ser resolvidos através do uso de armas?
Além de inúmeras outras agressões a princípios humanísticos. Enfim, por que a reação da população tem sido de apoio às declarações de Bolsonaro?
Soltas no meio destas barbáries, as desgraças econômicas, principalmente para os mais carentes, declaradas por assessores do Bolsonaro, como o término do 13º salário, a alíquota comum de imposto de renda de 20% para todos os salários, as privatizações, a reforma da previdência, a permanência sem modificação da PEC da morte e da reforma trabalhista etc., ajudam a compor o quadro de horror, um verdadeiro inferno dantesco com todos os seus círculos.
Falando o que todo mundo já sabe, Bolsonaro é fascista, despreparado e, graças a assessores, neoliberal. Mas, tem uma inteligência voltada para a conquista de votos inegável. Seus adeptos querem chavões, imagens e posicionamentos radicais. Eles lembram muito os bebês, pois estes captam as emoções humanas muito antes de entenderem a fala.
Será que o brasileiro precisa passar por uma experiência fascista, que será necessariamente traumática, para poder adquirir anticorpos contra o fascismo? Os Le Pen não convencem os franceses sobre a atratividade de teses fascistas. Hitler proporcionou uma experiência nefasta para espécie humana, muito bem assimilada pelo europeu e mesmo por povos distantes da Europa com capacidade de discernir.
Resta saber como o brasileiro chegou ao ponto de absorver Bolsonaro tão facilmente. Proponho como causa um coquetel composto da mídia irresponsável, representante do capital, de uma Justiça injusta, dos Congressistas canalhas, de membros do Executivo corruptos, de uma corrente fanática dos protestantes, de militares saudosos da ditadura, além de outros atores menores da sociedade. Todos “culpados” do crime de ganância, pois queriam riqueza e poder, em total detrimento da sociedade, quando foram atropelados ou atraídos por um “outsider”, com ideais não menos perversos.
Finalizando, o povo brasileiro é triste porque, sendo facilmente manipulável, por principalmente não existir uma mídia comprometida com a informação e o esclarecimento (com pouquíssimas exceções), ele consegue votar contra seus próprios interesses. Ou seja, consegue votar em quem lhe fará sofrer profundamente.
Paulo Metri
Conselheiro do Clube de Engenharia