Perfeito para as FMs
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Por Leonardo Botti
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"Preço Curto, Prazo Longo", novo CD do Charlie Brown Jr., foi feito para tocar no rádio. O motivo é muito simples: fica impossível ouvir de uma vez só as 25 músicas que compõem o álbum. Como, no seu rádio, você só vai ouvir uma delas - perdida no meio da programação nem sempre agradável das FMs brasileiras -, provavelmente a vontade de correr até a loja de discos mais próxima vai ser muito grande. Tal vontade é justificável por, no mínimo, 5 músicas desse CD.

O leitor então pergunta: "não tá bom?". Para uma banda que é considerada, ao lado de Raimundos e Planet Hemp, um dos grandes nomes da nova geração do rock no Brasil, é pouco. Além de pouco, é desanimador. Se um dos "grandes" só pode oferecer isso, imaginem o resto. É por isso que Ultraje a Rigor e Capital Inicial, ídolos dos anos 80, estão em evidência novamente.

O vocal de Chorão, a salada de influências misturadas aleatoriamente (ska, reggae, rock, hardcore, hip-hop), o excesso de gírias "descoladas" e a grande incidência de temas "do mar" ("Zóio de Lula", "Não deixe o mar te engolir", "Do surf") são os fatores que mais colaboram com a já citada impossibilidade de ouvir "Preço Curto, Prazo Longo" de uma vez só. Quando o Charlie Brown Jr. surgiu, fazendo sucesso com o ska "O Coro vai Comê", tudo isso era novidade. Hoje, a fórmula já começa a ficar desgastada.

"Fera" do Skate

A história do Charlie Brown Jr. começa quando Chorão (vocalista) se muda para Santos junto de seu pai no final dos anos 80. "Fera" do skate, sempre sonhou em tocar numa banda que fizesse um som direcionado a esse público dos esportes radicais. Em 94, a concretização de tal sonho foi possível, quando a ele se juntaram quatro nativos do litoral. Champignon (baixo e vocais), os guitarristas Marcão e Thiago e o baterista Pelado.

Juntos, passaram por toda aquela fase de começo de banda, com shows no circuito underground de Santos e São Paulo. Até que a segunda fita-demo do CBJR chegou até Tadeu Patola, vocalista e guitarrista do Lagoa. Patola apresentou a fita para Rick Bonadio (o descobridor do Mamonas Assassinas e, atualmente, diretor artístico da gravadora Virgin), que gostou do que ouviu. Em 97, era lançado "Transpiração Contínua e Prolongada", primeiro disco da banda e que vendeu cerca de 200 mil cópias.

O outro lado

Já que o conjunto da obra ("Preço Curto, Prazo Longo") já foi analisado, vamos a um outro ponto de vista. As poucas boas músicas desse álbum são realmente boas e, ouvidas individualmente, deixam uma ótima impressão. Além disso, se você é fã de esportes radicais, com idade entre 10 e 18 anos, ou simplesmente gosta de uma trilha sonora divertida para os seus dias, esse CD é ideal. Afinal, rock ‘n roll é, principalmente, diversão.

Abrindo o disco, "Confisco" é puro Red Hot Chilli Peppers, com letra narrando uma situação realmente vivida por Chorão, que já teve móveis de um apartamento confiscados por falta de pagamento de aluguel. "Zóio de Lula", o primeiro single do disco, é um reggae com grande influência de Sublime e uma linha de baixo muito boa. Aliás, todos na banda são grandes músicos.

"O que é da casa, é da casa" conta com o beat-box (aquele efeito de bateria eletrônica feito com a boca) do baixista Champignon. Em "O preço", Chorão fala de como sua vida mudou e tudo que passou para chegar até o sucesso. "Sempre sonhei fazer um som que fosse a cara e então poder chegar em algum lugar, ver a garota sorrir, a galera pular e a multidão a me chamar", canta ele.

Alguns convidados também marcam presença. "Bons Aliados" conta com a participação de Rodolfo (vocalista do Raimundos) e o hip-hop "12 + 1" traz o rapper PMC e o DJ Deco, de Santos.

Confira também os harcdores "Resolve meu problema aí", "Mantenha a Dúvida" e "Cruzei uma doida", o rap "União", o rock romântico "Te Levar" e a surf-music instrumental com o nome criativo de "Do surf".

O lançamento de "Preço Curto, Prazo Longo" gerou um fato bem interessante: uma crítica positiva da revista Veja. Em se tratando de um artista brasileiro e, pior ainda, roqueiro, é um acontecimento raro.

(Sugestões, críticas e elogios para o e-mail: mundorock@zipmail.com.br)

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