O deslumbrado e o gigante
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Por José Carlos Sebe Bom Meihy
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Ninguém. Ninguém mesmo duvida que o Presidente Fernando Henrique Cardoso é um dos frasistas mais interessantes do folclore político nacional. Depois de soltar pérolas como "eu tenho o pé na cozinha", "esqueçam tudo que escrevi", "O MST é formado por um bando de baderneiros que não têm o que fazer" parece que se superou ao dizer mais que uma frase, um verdadeiro libelo de entreguismo. A Revista Época publicou, na primeira semana de março, mais uma das lapidares frases de FHC e, imediatamente, o espanto ganhou a crítica geral. Uma dessas expressões foi o artigo intitulado "Patas Grandes e Mãos de Gigante", assinado por Paulo Nogueira Batista Jr. publicado recentemente na Folha de São Paulo. Vale a pena reproduzir a frase presidencial: "Bill Clinton é uma personalidade fascinante, impressionante. Além de ter boas idéias e de ser carismático, você não pode parar de olhar para aquele homem de dois metros de altura, umas patas incrivelmente grandes, um nariz de batata, avermelhado, e mãos de gigante".

É assim que o Presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso se coloca em face do também presidente, dos Estados Unidos, Bill Clinton: perplexo, sem crítica, deslumbrado. Mais do que significar mera opinião pessoal, a frase traduz uma tomada de posição ideológica que envolve orientações políticas em sentido amplo. Logicamente é o teor da ideologia neoliberal que serve de moldura para tão conseqüente admiração.

Detectado o sentido dos elogios ao Presidente de lá, o de cá se mostra afinado com o que parece ser uma tendência também dos nossos vizinhos. Mais exagerado ainda que FHC, o então Presidente da Argentinha, Carlos Menem, teria ido além ao afirmar que aquele país mantinha "relações carnais" com os EUA. Batista Jr. em seu artigo se propõe ir além da periférica constatação do deslumbramento. Avançando, o articulista procura evidenciar a coerência entre uma política, norte-americana e outra, da América Latina que, ambas se interdependem sugerindo uma outra, nova Teoria da Dependência. Neste sentido, indicando que o Brasil e a Argentina estariam em sintonia com o que acontece nos Estados Unidos, Bastista Jr. mostra que a estratégia usada para explorar o tema propõe uma reflexão histórica. Na busca de uma lógica pretérita, o articulista salienta o valor da história recente do país. Nessa altura dos argumentos entra em cena os momentos, recentes, decisivos para se pensar um trajeto onde tem havido altos e baixos. Com a audácia de quem critica, Batista Jr. salienta que o momento é insuperável, tendo paralelos apenas ao período de "Castelo Branco ou talvez ao governo Dutra".

A exploração da dubiedade dessa orientação emblemada por FHC leva a sugestão central de que a política norte-americana sobre o Brasil (e países vizinhos como a Argentina) tem se pautado pela combinação de duas estratégias "misto de deslumbramento e temor reverencial". Neste sentido, aliás, fica patente que o instante que atravessamos é de "deslumbramento". Tal constatação implica em ver quais os argumentos, conceitos, e idéias centrais usadas pelo autor do artigo para evidenciar sua proposta.

As expressões "Nova Roma" e "Pax Americana" servem de esteio para exibir o triunfo da política estadunidense atual que não mais precisaria dos recursos da "Pax Americana" (típica da Guerra Fria que impunha armamento como intimidação capaz de manter a paz). Agora vigoraria a "Nova Roma" expressão derivada da "política religiosa" Católica que veria no "novo papa" (Clinton) uma espécie de metáfora. O dogmatismo cego teria acometido nosso Presidente que chega ao limite de identificar na aparência pessoal os motivos da admiração. O que causa pena e convoca temores de quantos que ainda não se comprazem em entregar o país às malhas do globalismo é a falta de disfarces do nosso Presidente. Tomara que o próximo Presidente saiba se defender da Pata do Gigante, ou antes, tomara que tenhamos algo a defender.

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