O que nos preocupa
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Por Wladimir Pomar
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Não foi apenas o governo que transformou o MST em alvo de caça. A grande imprensa, sem exceção, concentra suas baterias para destruir aquele movimento, com uma virulência aparentemente inexplicável. E, talvez prevendo a desconfiança que sua ação suscitaria, credita a brutalidade à presidência da república, através de seu ministro da propaganda. Não há dúvida quanto aos laços umbilicais entre o bloco que domina o Estado e o poder midiático. Ambos se amparam e se beneficiam, seja através de favores do poder público aos meios de comunicação, seja através do apoio quase incondicional destes ao bloco no poder, acobertando suas políticas antinacionais e antipopulares com uma enganação jamais vista na história da imprensa no Brasil.

Entretanto, o poder midiático também se desdobra para mostrar certa independência, sem o que se arriscaria a perder a credibilidade e, portanto, o próprio poder que lhe permite gozar das verbas de publicidade e dos favores do governo e das empresas privadas. Meios de comunicação desacreditados não servem ao propósito de vender ilusões e mentiras como se fossem verdades objetivas.

Os meios de comunicação e seus escribas sabem que estão divulgando farsas e mentiras. Mas, mesmo tomando-as como fabricadas pelo Palácio do Planalto, só se arriscariam a publicá-las sem revisão, como estão fazendo, se para ambos estivesse em jogo a mesma questão. Ou seja, se estivesse em jogo a própria continuidade do bloco no poder, a continuidade do mesmo sistema, iniciado por Collor e levado à frente por FHC, mas ameaçado pela mobilização popular. O bloco no poder sabe a extensão da insatisfação e do descontentamento populares. Não desconhece que está se configurando um cenário em que basta um empurrão, uma frase de efeito, para que o povão comece a se movimentar e encurrale o governo. O fiasco das comemorações dos 500 anos, mais a
mobilização nacional dos índios, dos movimentos populares e do MST, tocou o sinal de alerta máximo para a adoção de medidas preventivas. Medidas que, como sempre acontece na história do Brasil, passam primeiro pela repressão aos movimentos populares e das oposições.

Nessas condições, o que está em jogo não é apenas o MST, mas os movimentos populares e as oposições. O MST é apenas o pretexto. Se ele for golpeado, será aberto um flanco enorme na defesa das forças que combatem o bloco das corporações transnacionais no Brasil. Por isso, na luta em defesa dos sem-terra não é admissível qualquer concessão, nem a de aceitar a hipótese,
não demonstrada, de que membros do MST teriam depredado prédios públicos e constrangido funcionários. Um governo que se esmera em depredar o país e constranger não só funcionários, mas milhões de brasileiros, a enfrentar as agruras brutais do desemprego e da miséria não tem qualquer moral para reclamar das ações legítimas de camponeses.

E nós, da esquerda, em lugar de nos desculparmos por excessos e culpar o MST pelo possível risco de isolamento, devemos é denunciar a ação e as políticas violentas e brutais do bloco dominante. Sem o que, repetimos, correremos o risco de sermos os próximos atingidos pela repressão preventiva do poder. É isso que está em jogo. O resto é desinformação. E quem duvidar basta ver como foram tratados os professores paulistas pela polícia do social-democrata Covas.

 

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