Correio da Cidadania - Colunistas - Luiz Antonio Magalhães


O PT e a crise, por Valter Pomar

Luiz Antonio Magalhães
 

A crise política brasileira continua avançando em ritmo alucinante: quando parece que as coisas estão se assentando, eis que surge uma denúncia nova e poderosa, como foi a de Rogério Buratti contra o ministro Antonio Palocci na semana retrasada, que logrou pela primeira vez afetar os mercados financeiros. Se os tempos não fossem tão bicudos e a crise tão ampla e profunda, a imprensa brasileira  estaria dando mais atenção às eleições internas do PT, que ocorrem no dia 18 de setembro. Além do novo presidente, serão escolhidos 83 integrantes do Diretório Nacional da agremiação.

Mas a eleição no PT se tornou um capítulo da crise política brasileira desde a renúncia de José Genoino da presidência da legenda. Tarso Genro assumiu interinamente e deveria ser o candidato do Campo Majoritário, corrente hoje hegemônica na agremiação. Deveria ser, pois até o fechamento desta edição Tarso jogava braço de ferro com o ex-ministro José Dirceu e condicionava a sua permanência na cabeça da chapa do Campo Majoritário à retirada do nome de Dirceu da lista de correligionários que disputarão uma vaga na direção do PT.  

Se o Campo Majoritário ainda não tem candidato certo, a esquerda segue dividida. Para explicar o cenário que se coloca para os eleitores petistas, esta coluna decidiu ouvir os candidatos das esquerdas à presidência. A primeira conversa foi com o postulante da Articulação de Esquerda, o atual Terceiro Vice-Presidente do PT, Valter Pomar. Aos 38 anos, Pomar já é um experiente quadro partidário do partido, no qual milita desde a década de 80. Foi fundador, em 1993, da corrente Articulação de Esquerda, conhecida internamente como AE, e ocupou diversos cargos em prefeituras petistas. A história da militância de Pomar se mistura com a história da esquerda brasileira: seu avô, Pedro Pomar, foi brutalmente assassinado na chacina da Lapa, em 1996; seu pai, Wladimir Pomar, colunista neste Correio, foi militante do PCdoB e depois, já no PT, participou da coordenação da campanha de Lula à presidência em 1989.

“O Valtinho é um brilhante analista político e está me dando trabalho”, elogia Plínio de Arruda Sampaio, um de seus rivais na disputa à presidência do PT. A visão de Pomar sobre a crise política não anda muito animadora. Ele não descarta um cenário de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora diga que a hipótese não é hoje a mais provável. Segundo Pomar, o desenrolar da crise vai depender do comportamento de cinco forças políticas: os partidos de oposição de direita, sobretudo PSDB e PFL, que atualmente preferem uma “morte lenta” do governo Lula; os partidos de oposição de extrema esquerda (PSTU e PSOL), que preferem uma “morte rápida”; o capital internacional, que até aqui dá suporte a Lula; o “partido da mídia”, que segundo Valter tem na revista Veja a sua mais completa tradução e também trabalha para que Lula dure menos do que o mandato para o qual foi eleito; e, por fim, as classes médias conservadoras, que se aliaram ao PT em 2002 e ainda não tomaram uma decisão final, mas estão bem  descontentes com os rumos do governo.

Apesar da gravidade da crise, Pomar acredita que Lula é o melhor candidato do PT em 2006 e avisa que, ainda que o Campo Majoritário vença, sua corrente não deixará o partido. Ele entende que a eleição petista à presidência só será decidida no segundo turno e acredita que, se Tarso Genro continuar candidato, é nome provável na disputa do escrutínio final. Como todo candidato, ele acredita que também estará lá, mas vislumbra uma chance forte de Plínio de Arruda Sampaio ser o dono da outra vaga, a depender do quorum em São Paulo. Se São Paulo pesar mais, explica, as chances de Plínio são maiores; caso contrário, Maria do Rosário, ele próprio e Raul Pont disputarão a segunda vaga.

Pomar critica a admissão de Sampaio sobre a possibilidade de deixar o PT e cutuca: “se o Plínio for para o segundo turno contra o Campo Majoritário, acho que perde; se nós formos, acho que temos chance de ganhar”. Ele explica que o discurso radical do ex-deputado e líder do PT na Constituinte afasta os eleitores “de centro” do partido, mas cai em contradição ao constatar a força de Plínio entre nomes de centro e até da “direita” do partido, como o empresário Oded Grajew e os senadores Eduardo Suplicy e Cristóvam Buarque. “Existe um fenômeno sociológico em torno da candidatura Plínio”, diz ele. “Há os que o apóiam porque o consideram um velhinho conciliador, nome ideal para uma situação de crise; e há os que o apóiam porque o consideram um velhinho ‘porreta’, radical, um comunista sob a máscara de cristão”.

Sobre Raul Pont, Valter também tem uma análise precisa. Segundo ele, trata-se de uma candidatura amorfa, que evita explicitar posições sobre os problemas da legenda e sobre a crise – um reflexo da divisão de seu grupo de apoiadores, na visão de Pomar. Maria do Rosário, de acordo com o representante da AE, tem suas chances aumentadas se a candidatura do Campo Majoritário naufragar ou for trocada de última hora.

Tudo somado, Valter Pomar pensa que chegou a hora de o Campo Majoritário deixar o comando do partido. “Para o bem do PT, eles têm de perder”, diz. Segundo Pomar, tal derrota só não acontece se o presidente Lula interferir no processo eleitoral, jogando seu peso político na disputa, ou se houver fraude. Caso seja eleito presidente, Valter defende uma investigação rigorosa sobre os fatos que levaram o partido à maior crise de sua história, com punições a todos os envolvidos e expulsão dos mentores dos esquemas de financiamento irregular das campanhas eleitorais.  

Luiz Antônio Magalhães é editor de Política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

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