Correio da Cidadania

Ocidente e rebeldes começam a engolir Assad

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Quando tudo augurava perigo de guerra, a paz começou a querer pintar na Síria. Depois dos ataques norte-americanos, a base aérea e as forças terrestres pró-Assad e das ameaças de retaliação russas, o mundo passou a esperar pelo pior.

Mas parece que vai acontecer o contrário. Depois de seis conferências pela paz, que não deram em nada, na sétima deu bingo.

Alexei Borodavinski, embaixador da Rússia em Genebra, anunciou que, finalmente, os rebeldes deixaram de exigir a queda de Assad e sua coterie como pré-condição para discutirem o fim da guerra síria.

Pelo menos um dos três grupos, que representam a oposição, o HNC, patrocinado pela Arábia Saudita, parou de criar caso.

Precisa agora reunir-se com os outros dois movimentos rebeldes para todos fecharem com essa posição.

Aparentemente, ninguém, nem mesmo no Ocidente, vai discordar. Macron, o novo presidente da França, já se pronunciou incisivamente que não existe outra autoridade legítima a não ser Assad para dirigir a Síria, enquanto se combate o grande inimigo da humanidade, o Estado Islâmico (EI).

Transformando as palavras do chefe em ação, o ministro do Exterior francês, Jean-Yves Le Drian informou ao CBS News que está propondo a formação de um comitê, formado pelas grandes potências, para resolver o drama da Síria. E já foi esclarecendo: “esta iniciativa pressupõe que não consideramos a saída de Assad como pré-condição das negociações”.

Aliás, Trump já dera sinais de que embarcaria nesta posição. Referindo-se a sua reunião com Putin, durante o G-20 de Hamburgo, ele tuitou: “Nós negociamos o cessar-fogo em regiões da Síria, o que salvará vidas. Agora é tempo de irmos para frente”.

Perguntado se isso significava que The Donald deixaria a questão de Assad para depois, alta figura do governo dos EUA respondeu ao Daily Beast: “É claro que é esta a nossa política. Eu não vejo como vocês, que estão acompanhando o que nós estamos fazendo, ainda não entenderam”.

Até agora, tanto os EUA quanto a França negavam-se a discutir a paz na Síria sem que Assad e seus principais elementos deixassem o governo.

Está sendo interpretado como uma confirmação da mudança a decisão do governo Trump de acabar com o programa da CIA de treinamento e fornecimento de armas a rebeldes sírios.

Seria uma forma de superar os ressentimentos russos com os ataques da força aérea e dos mísseis estadunidenses contra aviões e soldados do exército de Assad.

Desde a campanha eleitoral, Trump já mostrara sua rejeição a esse programa por não haver informações suficientes sobe sua eficiência. Depois de eleito, ele ordenou que a CIA o congelasse.

Nos meses seguintes, a inteligência deve ter descoberto o paradeiro de boa parte das armas norte-americanas: estavam indo para as mãos da Al-Qaeda e de outros movimentos jihadistas, inimigos dos EUA.

O fim deste programa não interrompe as atividades militares dos EUA na Síria. O país continua apoiando os curdos (principalmente) e grupos árabes na luta contra o EI, através de um programa dirigido pelo Pentágono.

Os norte-americanos instalaram 10 bases em território curdo, de onde seus aviões decolam para missões de bombardeio de cidades e concentrações militares do EI.

Além disso, centenas de soldados das forças especiais yankees, usando tanques e lançadores de mísseis, também combatem os fanáticos islâmicos ao lado dos curdos e árabes rebeldes.

E os soldados curdos recebem normalmente armas e treinamentos, através do Pentágono.

Como se vê, Trump parece estar paralisando a guerra contra Assad para poder lançar suas forças militares no aniquilamento do EI. Entrada na revolução síria pra valer, com muitos aviões e tropas terrestres, poderia dar em guerra com Rússia.

Como o povo norte-americano é hoje fortemente contrário a novas guerras, o ibope de Trump naufragaria ainda mais. Sem contar que seriam forçosamente diminuídas as forças da guerra contra o EI, o que as atrasariam. E dar fim no Estado Islâmico é a grande carta que Trump tem nas mãos para deixar a oposição falando sozinha.

É de se crer que a alteração de alvos, se de fato acontecer, será apenas uma pausa. Tirando da frente os bárbaros do Estado Islâmico, os EUA voltariam seus olhos para a criação do novo governo sírio. Duvida-se que aceitem a permanência de Assad.

Isso representaria não apenas uma derrota, mas a refundação de um governo aliado ao Irã, com as bênçãos da comunidade internacional. The Donald deve espumar pela boca quando pensa nisso.

Esfuziante de alegria, ele bradou Iran deleta est na reunião com o soberano medieval da Arábia Saudita e Estados clientes, consciente de que todos vibravam com ele.

Somar com o maior comprador de armas dos EUA une o útil ao agradável, para o presidente republicano.

Acredita-se que as raízes do ódio presidencial ao Irã se devem à profunda inveja que ele tem do ex-presidente Obama. O jeito educado, o respeito dos estadistas da maioria das nações, as reformas, a preocupação com direitos humanos e necessidades do povo – todas estas coisas antagonizam The Donald com seu sucessor. Ele as sente como verdadeiras agressões pessoais.

Seria altamente prazeroso destruir o legado de Obama, do qual a paz com o Irã e o acordo nuclear são itens importantes.

Por sua vez, pessoas que influem na política externa norte-americana também têm razões emocionais para atingir Teerã.

Sabe-se que o secretário da Defesa, general Mattis, tem velhas contas a cobrar do regime islâmico. Teerã apoia o Hizbollah, que matou muitos soldados dos EUA durante as ocupações do Líbano e do Iraque. E ainda por cima é amigo fraternal de Teerã (talvez mesmo seguidor fiel).

Não é à toa que Mattis considera o Irã a maior ameaça aos EUA (ideia compartilhada por apenas 2% dos americanos, de acordo com pesquisa NBC NEWS/Monkey).

Já o General McMaster, conselheiro especial de segurança, também guarda mágoas dos tempos em que serviu como oficial na ocupação do Iraque.

Razões ideológicas integram esse mix beligerante: o império quer manter o controle do Oriente Médio (onde estão as maiores reservas de petróleo e de gás do mundo). O aliado político e grande cliente, a Arábia Saudita, é extremamente útil para impedir que o Irã assuma a hegemonia da região, posição que o rei Salman pretende para sua dinastia. Claro, Israel está sempre pronto para exigir mais sanções e mais restrições anti-Irã e, se preciso, lançar seu poderio bélico contra o governo de Teerã.

Agradar essa gente, Trump acredita que compensa, pois lhe daria muitos votos e recursos financeiros para sua próxima eleição.

Apesar disso, agora há esperanças de que russos, estadunidenses, governo Assad e rebeldes façam um acordo de paz. E se unam para derrotar o inimigo comum, o EI.

Acontecendo a aniquilação dos fanáticos, seria a hora de se discutir uma reorganização da Síria, inclusive marcando-se novas eleições. Possivelmente, deveria acontecer num prazo médio.

Aí pode melar. Dificilmente os EUA e os rebeldes aceitarão um governo de transição com a participação de Assad, mesmo numa posição com poderes limitados.

Assad provavelmente aceitaria, desde que pudesse se candidatar nas eleições que se seguiriam.

Provavelmente, EUA, Reino Unido, Arábia Saudita, rebeldes e Turquia se oporiam. Apesar de todos eles viverem dizendo que o futuro da Síria está nas mãos do povo, nunca permitiriam uma eleição aberta, na qual o povo poderia eventualmente eleger Assad.

Seria inconveniente para os EUA e a oposição síria. Mas não deixaria de ser democrático. Não é mesmo por democracia que todos dizem lutar na Síria?

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“O Estado Islâmico é hoje uma fera encurralada”

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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