Correio da Cidadania

Retrospectiva Econômica 2016

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A análise do desempenho da economia brasileira em 2016 muito se assemelha ao ocorrido em 2015, mas com resultados absolutos e relativos que se acumulam de maneira agravante, ano a ano, considerado o triênio 2014/2016. 

 

Comparando alguns indicadores relevantes da macroeconomia – nível de emprego (ou seu inverso, a taxa de desemprego), arrecadação federal (Tributária e Previdenciária) e Produto Interno Bruto no triênio considerado, observamos claramente uma trajetória, que parte da estagnação em 2014 para um profundo mergulho recessivo nos dois anos seguintes:

 

a) O desemprego aberto, medido pela PNAD, que até final de 2014 estava acomodado nos níveis de 4,5 a 5 % da População Economicamente Ativa, vai a 8,6% na metade do ano de 2015 e a 11,6% na metade de 2016 (significando nesta data 11,8 milhões de pessoas desempregadas e procurando emprego no mês de referência da pesquisa).

 

b) A arrecadação tributária e previdenciária da União em termos reais apresenta o seguinte desempenho em termos incrementais: 2014 (-1,79%); 2015 (-4,5%) e 2016 (-4,5 a -5,5%).

 

c) A evolução do Produto Interno Bruto em termos incrementais é a seguinte: 2014 0,15%; 2015 -3,8% e 2016 entre -3,5 e -4,0 %.

 

Durante o triênio considerado, certamente em 2015 e 2016 concentram-se as terapias ortodoxas de “ajuste fiscal e monetário”, em doses crescentes de profundidade, do ministro Levy em 2015 ao ministro Meirelles em 2016, obviamente a provocar consequências propagativas – de 2017 para diante, uma vez mantida a tese do ajuste estrutural previsto na PEC 55/2016.

 

A continuar a estratégia de “ajuste estrutural”, agora agravado pela PEC 287/2016 (Reforma da Previdência), com suas claras medidas de corte de direitos básicos previdenciários, associada à estagnação na provisão de bens públicos em geral (PEC55/2016), não há nenhum sinal de que se produza por essa via qualquer estratégia de crescimento econômico em 2017.

 

O cenário macroeconômico com que nos defrontamos neste final de 2016, até para economistas muito conservadores, mas com algum grau de refinamento teórico, não recomenda absolutamente o aprofundamento da terapia do “ajuste estrutural” recessivo. Até alguns colunistas econômicos da grande mídia começaram a duvidar ou a “descobrir” neste final de ano que a natureza mais profunda da crise econômica é de crédito e não propriamente fiscal. 

 

A contração violenta do crédito bancário no triênio e a acumulação de dívidas privadas de empresas e famílias para com o sistema financeiro levou a economia monetária a encolher aos níveis de 2012, segundo farta cobertura sobre o tema levantada pelo jornal “O Estado de São Paulo” na segunda semana de dezembro.

 

O leitor tem toda a razão de se encher de dúvidas. Mas se toda a terapia ortodoxa do ajuste fiscal e monetário era e é no sentido de capturar excedentes financeiros dos orçamentos públicos para atender os credores – da Dívida Interna (PEC 55-2016 e PEC 287-2016), não estariam por aí cumpridas as condições requeridas pelos proprietários da riqueza financeira para acionar a máquina do crescimento econômico, segundo a teologia econômica dominante, mediante reanimação do “espirito empreendedor” e da confiança dos mercados?

 

Ao contrário, a estratégia de captura do excedente econômico a qualquer custo, mesmo não havendo excedente, pela acumulação de dívida pública, forjada pela própria política de juros, começa a sinalizar para os mais atilados com a história econômica, que no final pode–se colher e moratória tácita ou explícita desta dívida, no bojo de crise social e política de características destrutivas. E aí não se pode garantir salvação para ninguém!

 

Mas ficando na Retrospectiva de 2016, não há como repeti-lo em 2017, sem consequências políticas muito graves. E seja pela razão ou pelo temor dos enormes e imponderáveis riscos com que ora convivemos, creio que o tempo e o crédito para repetição das terapias ortodoxas e ultraortodoxas deve se encerrar em breve, mas não se sabe como isto ocorrerá.

 

 

 

 

Gulherme Costa Delgado é doutor em economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

 

Guilherme C. Delgado

Doutor em economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

Guilherme Costa Delgado
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