Correio da Cidadania

'Banqueiro, sanguessuga da nação'

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“Que diferença existe entre fundar e assaltar um banco?”. Essa pergunta contundente abre um poema do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. A resposta dada por ele é simples: “nenhuma”.   Na essência, são iniciativas da mesma qualidade. Só se distinguem no quantitativo. Os assaltos são eventos isolados e, por mais que se repitam, amealham menos. A rapina legalizada e contínua dos bancos deixa no chinelo qualquer companhia de ladrões.

 

Se alguém duvida, basta ver os jornais da semana. Os dois maiores bancos privados do Brasil, o Bradesco e o Itaú, publicaram seus balancetes do primeiro trimestre deste ano. Cada qual lucrou perto de dois bilhões de reais no período: R$ 1,902 bilhão, Itaú; R$ 1,705 bilhão, Bradesco. Divida estas quantias por três, depois por trinta, dando de lambuja domingos e feriados, e depois pelo número de horas que as agências permanecem abertas para saber a quantia bestial de dinheiro embolsada por mês, dia e hora. E, preste atenção, isso é lucro líquido e declarado. Não contam, além do burlado, as reservas “conservadoras” para cobrir eventuais inadimplências.

 

Foi o melhor resultado dos últimos vinte anos para os dois bancos. Um gráfico, tipo escadinha, compara o desempenho dos primeiros trimestres dos últimos seis anos. Para o Itaú, em escala de bilhão: 0,503 em 2002; 0,714 em 2003; 0,876 em 2004; 1,141 em 2005; 1,460 em 2006; e 1,902 em 2007. Para o Bradesco, na mesma escala: 0,425 em 2002; 0,508 em 2003; 0,609 em 2004; 1,205 em 2005; 1,530 em 2006; e 1,705 em 2007.   Desde que os fenícios inventaram o dinheiro nunca se viu uma seqüência tão absurda de recordes. Vale ressaltar que esta escalada acontece no período de queda continuada da renda do trabalho e de estagnação da economia.

 

As fontes dessa farra acintosa são as de sempre. Todas em linha direta com a política econômica do governo. Ganham com a política de juros altos, que inviabiliza a produção. Ganham com o endividamento público e com a destruição de direitos que achata salários. Ganham com a cobrança de tarifas, um absurdo onde só falta cobrar dos correntistas o ar que se respira nas agências. E ganham também porque não pagam os impostos devidos: é a atividade que mais ganha dinheiro e menos paga imposto.

 

Os banqueiros ganham sempre.  Ganham na alta e na baixa. Operam no limpo e no sujo. Mandam e desmandam. Estão no vértice do poder econômico perverso que nos domina e, a partir deste ponto privilegiado, controlam tudo. Não por acaso, são os maiores financiadores de campanha eleitoral. Basta ver a prestação de contas na justiça eleitoral e o depoimento dos tesoureiros de campanha nos múltiplos escândalos das contribuições “não contabilizadas”. Um círculo vicioso infernal que precisa ser quebrado.

 

O poder emana dos banqueiros e em seu nome está sendo exercido. Não é o que está escrito na abertura da Constituição, mas é como funciona no real. Assim como na ditadura militar tudo passava pelos quartéis, no Brasil de hoje, um verdadeiro paraíso dos rentistas, tudo passa pela casta financeira.  Por conta disto, não há exagero no bancário em greve que grita nas ruas: “banqueiro, sanguessuga da nação”.

 

 

Léo Lince é sociólogo.

 

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