Correio da Cidadania

Até quando os EUA vão insistir na guerra do Afeganistão?

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Ao completar 17 anos, a Guerra Afeganistão continua liquidando dezenas de bilhões de dólares e milhares de civis e soldados.

Absolutamente em vão. Os líderes militares dos EUA estão carecas de saber que se trata de uma guerra perdida. Mas se negam a entregar os pontos.

Conforme Jim Mattis, secretário da Defesa dos EUA, seu governo pretende “fortalecer as forças de segurança afegãs de modo a convencer os talibãs que eles não podem vencer no campo de batalha, forçando-os a escolher a reconciliação”.

Ele deixou de mencionar que as forças norte-americanas estão ajudando Cabul. E com o maior empenho, haja vista o grande aumento dos bombardeios aéreos e das ações das forças especiais contra o inimigo.

O general Joseph Votel, comandante das forças amadas, pode insistir que a situação está mostrando progressos e Mike Pompeo, o secretário de Estado, afirmar (ao lado do presidente afegão) que “a estratégia está funcionando”, mas a realidade é bem outra.

O inspetor-geral do Departamento de Defesa recentemente concluiu: “Medições disponíveis mostraram pequenos sinais de progresso”. Ele citou informações da ONU: “As vítimas civis atingem níveis recordes. Oficiais da inteligência dos EUA preveem que a situação geral da segurança e da economia no Afeganistão deve se deteriorar neste ano”.

Portanto, apesar das intensas ações militares dos EUA e do exército afegão nos últimos 12 meses, muito pouco se avançou.

Pesquisa da BBC, em janeiro, desmentiu esses senhores. O Talibã governa 4% de todo o Afeganistão. E tem presença ativa em 66% do território nacional.

A metade da população vive em regiões onde os ataques talibãs são rotineiros. Eles “avançaram além do seu tradicional bastião no sul, entrando pelo oeste, leste e norte do país”.

Em abril, no segundo dos seus relatórios quadrienais, John Spoko - Inspetor Geral Especial para o Afeganistão (SIGAR) - escreve que o panorama da segurança está “altamente instável”. O governo afegão aumentou ligeiramente a porcentagem da população governada, em relação a 2017. Houve um pequeno aumento no número dos distritos sob controle oficial, mas o número (de distritos) controlados pelo Talibã também aumentou. O resultado permanece no seu segundo nível mais baixo e a insurgência atinge seu nível mais alto, desde que o SIGAR começou a receber informações sobre o controle de distritos, em novembro de 2015”.

Alcançar uma situação tão discreta em 17 anos de guerra, nos quais foram gastos 1 trilhão de dólares e morreram 2.400 soldados e 3.500 combatentes contratados, é desanimador.

O que não se conseguiu em 2011, quando havia 100 mil soldados norte-americanos e 30 mil de países aliados, não poderá ser conseguido agora com 15 mil soldados estadunidenses e 7 mil aliados.

Cerca de 2.400 soldados e 3.500 mercenários dos EUA já morreram. Em 2018 já foram vitimados 1.692 deles, um recorde nestes 17 anos de combates. Somente neste ano, Washington vai gastar 45 bilhões de dólares.

Apesar do otimismo de alguns generais e políticos, o Pentágono sabe que uma vitória final sobre os talibãs será impossível.

O general Mattis, secretário de Defesa, afirmou recentemente: “não ficaremos aqui para sempre”.

Talvez, mas a julgar pela praticamente imutável situação no front, os norte-americanos ficarão por muitos e muitos anos, caso não se retirem antes que as coisas se agravem.

O fato é que os EUA e o Talibã estão disputando um cabo de guerra. Quem vai aguentar menos as perdas humanas e territoriais, acabando por entregar os pontos e pedir um acordo?

A resistência do comando guerrilheiro parece ser inesgotável, pois a luta pela defesa do país contra um invasor estrangeiro oferece uma motivação poderosa.

Além disso, o Talibã mostrou ter facilidade para recrutar guerrilheiros. A prova é que, desde o início da guerra, seus efetivos triplicaram, passando de 20 mil para 60 mil combatentes, atualmente.

Já nos EUA, os governos costumam levar em conta a opinião do seu povo, particularmente em tempos eleitorais. Sucessivas pesquisas mostram a população cada vez mais contrária à Guerra do Afeganistão. E esta posição tende a aumentar pari passu ao desenvolvimento das operações militares e das mortes de soldados.

Em 2020, haverá eleições presidenciais nos EUA. A reeleição é o principal objetivo de Donald Trump.

Sabe-se que ele não deseja ser o presidente que perdeu a Guerra do Afeganistão.
Mas, até 2020, mais um certo número de soldados dos EUA deve morrer. Mais cidadãos serão favoráveis ao fim da guerra, com veemência cada vez maior.

Qual destes dois fatores pesará mais na escolha do eleitorado? Apostamos que The Donald já está pensando nisso.
 

Luiz Eça

Começou sua vida profissional como jornalista e redator de propaganda. Escreve sobre política internacional.

Luiz Eça
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