Correio da Cidadania

A Chávez o que é de Chávez

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A entrada da Venezuela no Mercosul vem sendo combatida por senadores do PSDB (sabia que um dia já foi "social-democrata"?), DEM, José Sarney e outros semelhantes.

 

Admitem que as eleições venezuelanas têm sido livres, mas, apesar disso, o país não seria uma democracia plena, como se exige dos membros do Mercosul, já que Chávez teria o controle do Legislativo e do Judiciário, negando-lhes assim a necessária independência. Falam também em violações aos direitos humanos causados por um suposto estímulo do presidente venezuelano à violência contra a oposição. Condenam, severamente, o uso flagrantemente antidemocrático dos canais estatais de TV no último referendo.

 

Ora, um Legislativo submisso ao Executivo é, infelizmente, bastante comum mesmo nos regimes democráticos, Lula que o diga. Lembramos ainda que o mesmo Lula, além de Chávez, nomearam a maioria dos integrantes do Supremo, fato que acaba acontecendo nos mandatos presidenciais longos, sem que se possa garantir que, lá como cá, os juízes sejam vaquinhas de presépio dos presidentes.

 

É verdade que, recentemente, grupos pró-governo andaram ameaçando e até praticando atentados contra membros da oposição. Mas também é verdade que Chávez apressou-se em reprimi-los. Em fevereiro, concitou o procurador geral da República a prender o líder do movimento radical esquerdista La Piedrita. E mandou o exército agir contra as Forças Bolivarianas de Libertação, acusando-as de responsáveis por "raptos e assassinatos" de oposicionistas.

 

Quanto ao apoio das TVs estatais a Chávez no último referendo, bem... Ele tinha radicalmente contra si os dois grandes canais privados (Globovision e RCTV). O que ele fez foi contrabalançar o peso da propaganda adversária.

 

Outra ponderação dos adversários de Chávez é que seu antiamericanismo visceral arrastaria consigo todo o Mercosul, com graves danos às relações comerciais dos outros países com Washington. Aliás, essa natureza belicosa do presidente venezuelano geraria um sem número de conflitos no interior de um Mercosul que ainda luta por firmar sua unidade.

 

Antes de mais nada, é bom considerar que os ataques de Chávez à política americana devem se abrandar, pois Obama não é Bush, com o qual, apesar de tudo, a Venezuela realizou bons negócios, mantendo-se como quarto maior fornecedor de petróleo dos Estados Unidos. "É a economia, estúpido", como diria Clinton.

 

Sim, Chávez brigou com Alan Garcia do Peru, Felipe Calderon do México, e Uribe da Colômbia. Note-se que eram todos direitistas e alinhados com a política externa do governo Bush. Ora, nenhum dos governos do Mercosul nem é aliado incondicional da Casa Branca, nem direitista. Por que Chávez iria brigar com eles? E por falar em brigas, o presidente venezuelano já fez as pazes com aqueles governos citados acima, sendo que a Colômbia é até um dos maiores parceiros de negócios da Venezuela.

 

Alguns dos opositores de Chávez no Mercosul continuam condenando como antidemocrática a "reeleição sem limites" que o povo venezuelano acaba de aprovar. Mas os longos períodos no poder de Adenauer, Roosevelt, Tony Blair e Margaret Thathcher, democratas de carteirinha (Thatcher nem tanto), autorizam Chávez a fazer o mesmo.

 

Se parecem pouco relevantes os argumentos contra a entrada da Venezuela no Mercosul, os favoráveis, ao contrário, são sólidos, especialmente ao se levar em conta os interesses do Brasil. Como se demonstra a seguir.

 

Nos últimos anos, a Venezuela vem aumentando progressivamente suas importações tanto na área industrial quanto agrícola. Sua entrada no Mercosul virá a favorecer muito os países, como o Brasil, que têm condições de atender a essas necessidades

 

Com a moeda local extremamente valorizada pelo "boom" dos preços do petróleo, as indústrias venezuelanas – a maioria antiquadas e fracas – tiveram grandes dificuldades para competir com os importados. Muitas fecharam.

 

O governo procurou socorrê-las, mas os recursos alocados foram insuficientes, pois optou por concentrar a maior parte da renda do petróleo no resgate da pesadíssima dívida social.

 

Abandonada por todos os governos anteriores a Chávez, a população pobre encontrava-se à míngua. Era uma situação profundamente injusta, que precisava mudar radicalmente - e rápido. Foi o que aconteceu.

 

Entre 1997 e 2007, a pobreza caiu de 49,4% para 28,5; a indigência de 21,7% para 8,5%. Só para avaliar o significado desses dados, vale comparar com os resultados bem inferiores do celebrado plano social do governo Lula: pobreza, de 37,5% para 30,5%; indigência, de 12,9% para 8,5%.

 

Tendo atingido os avanços pretendidos na área social, Chávez iniciou em 13 de julho de 2008 um projeto que visa tornar a Venezuela um país industrializado até o fim de 2012. Um dos seus pontos básicos é construir 200 fábricas, com os mais modernos equipamentos, nas áreas de infra-estrutura e alimentação principalmente. Como a indústria venezuelana não tem condições de fornecer esses equipamentos, Chávez já está negociando com empresas do exterior, especialmente brasileiras. Ele quer envolvê-las não apenas na montagem das 200 fábricas, mas também na sua operação. Para isto, estão previstos investimentos de 3 bilhões de dólares. Com a Venezuela no Mercosul, a entrada de máquinas e equipamentos dos países membros ficaria livre de impostos. Desse modo, eles teriam as maiores chances de ganhar os contratos venezuelanos. E o Brasil, que possui a indústria mais avançada do subcontinente, competiria com vantagem

 

A agricultura brasileira também teria muito a ganhar com a entrada da Venezuela no Mercosul. Com os programas sociais do governo Chávez, milhões de venezuelanos saíram da miséria e da pobreza e puderam ingressar no consumo. O resultado foi um grande e rápido aumento da procura por alimentos, tornando necessário multiplicar a produtividade da ineficiente agricultura venezuelana, onde 80% das terras eram latifúndios improdutivos. As políticas agrárias do governo conseguiram melhorar a situação: entre 1997 e 2007, a produção passou de 14 para 20 milhões de toneladas. Mas não basta, a Venezuela continua importando metade dos alimentos que consome. Grande parte deles vem do Brasil. E poderá vir muito mais, graças à eliminação das tarifas entre os países do Mercosul.

 

Uma dúvida séria tem sido levantada: com a crise internacional e a queda do preço do petróleo, a Venezuela terá recursos para manter os volumes atuais de importação? Conseguirá levar a cabo seu plano de industrialização?

 

Chávez garante que sim. Ele disporia de reservas para atender às suas necessidades por ao menos mais dois anos. Anunciou que recentemente o Banco Central da Venezuela havia transferido 12 bilhões de dólares de "reservas excedentes "para o Fonden, um fundo fora do orçamento, destinado a financiar projetos de desenvolvimento (o total dos recursos dos fundos do tipo do Fonden é de 60 bilhões). E o banco ainda ficou com reservas internacionais de 35 bilhões de dólares.

 

Diante de tais fatos, vemos que em condições normais uma Venezuela no Mercosul traria grandes vantagens econômicas ao Brasil. Nos tempos de crise que vivemos serão ainda maiores.

 

Esquecendo um pouco nossos interesses particulares, é inegável que o ingresso de um país com 30 milhões de habitantes e uma das maiores reservas petrolíferas do mundo só pode tornar o Mercosul mais forte. Como também não se pode negar que Chávez, apesar de suas inconveniências, seus arroubos caudilhescos e sua linguagem desabrida, merece participar de um agrupamento de Estados com o mesmo objetivo dele: unir para crescer com independência.

 

Luiz Eça é jornalista.

 

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Comentários   

0 #1 O atraso como parceiroLigeovanio Santos 11-03-2009 14:44
Na verdade a miopia econômica dos nossos políticos, além da hipocrisia pura e simples, tem deixado claro que essas elites políticas não têm o mínimo de interesse em um fortalecimento do Mercosul - o que seria muito salutar para esse bloco econômico, principalmente nesse momento de tantas incertezas na economia "global". Jackson Lago, ao contrário dos Sarney, percebe o que de bom o governo venezuelano pode oferecer na área econômica e de desenvolvimento social. Prova disso foram acordos firmados entre o governo do Maranhão e Venezuela, firmando parcerias nessas áreas. Para Sarney e toda a velha guarda saudosa da ditabranda convém que, assim como o Maranhão, o Brasil conserve relações econômicas da caráter semifeudais. Profundamente indignante e como maranhense que sou registro aqui o meu repúdio a essas posturas dos nossos "democraticamente" eleitos "representantes".
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