Correio da Cidadania

Temer explica Getúlio

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Nos dias presentes, tem invadido minha consciência a sentença macabra: “nada é tão ruim que não possa piorar!” Esta frase expressa exatamente minha desesperança com o governo Temer, pois, a cada dia, surge uma nova má notícia, muitas vezes pior que as anteriores. Seu governo é muito ruim sobre vários pontos de vista, sendo o principal o social. Representa a implantação no Brasil de uma sociedade agressiva em que se busca roubar dos menos conscientes, mais vulneráveis e menos protegidos – dinheiro, horas de trabalho, condições de subsistência, enfim, a vida.

 

Acabaram-se os pruridos. Engana-se descaradamente, aflige-se o outro sadicamente, tira-se o pão alheio sem o menor constrangimento, rouba-se atendimento médico e escola, tudo isto dos mais carentes e impossibilitados de reagirem politicamente. Só falta darem a explicação típica de quem não tem o mínimo sentimento, ao rotulá-los de “perdedores”, pois culpam os próprios sofredores pelo que a eles é imposto. Na verdade, eles são feitos perdedores.

 

Tem um único ponto em que sou obrigado a reconhecer que Temer me ajudou. Apesar de ter 70 anos, só agora me conscientizo o que é um governante mau, realmente. Um verdadeiro usurpador, violento, insensível, desmedido, parcial e, por aí vai. Compare FHC com Temer. Ambos neoliberais, privatistas, à busca do Estado mínimo. Mas não me recordo de FHC ter composto com torturadores e assassinos. A usurpação social em FHC era a que a legislação criada pela oligarquia dominante permitia, era a “usurpação legal”. Trata-se de um atacadista. Com Temer, chegou o baixíssimo clero, dos varejistas. Usa-se a usurpação legal e qualquer outra que permita maior acúmulo de rendimentos e posses.

 

Portanto, graças a Temer, consegui entender o Brasil de 1930 quando Getúlio Vargas assumiu o poder. Como poderia Getúlio fazer o Brasil evoluir rapidamente, estando este ainda na fase da revolução industrial? Assim, não é por acaso que, nos dias de hoje, um empresário propõe uma jornada de trabalho de 80 horas por semana, bem próxima da jornada da época da revolução industrial, de 16 horas por dia. Esta jornada gerou um grande número de mutilados por acidentes de trabalho. Dormia-se por estafa, durante o trabalho, esquecendo-se a mão embaixo da prensa, por exemplo.

 

A partir daí, muitas das ações de Getúlio, até então inexplicáveis para a minha pessoa, passam a ser entendidas. Enfim, Temer explicou-me o porquê de Getúlio ter agido com pulso, em muitos casos. O país estava entregue a bandidos. A oligarquia dominante à época, bandida, não se contentava unicamente com a exploração do povo. Estava disposta também a entregar riquezas do país a grupos estrangeiros. Assim, associava-se a grupos estrangeiros para ter pequenas participações nos assaltos ao patrimônio público. Getúlio tinha bem em mente, para felicidade nossa, um projeto de nação para o Brasil, que não permitia a participação subalterna do nosso Estado nacional e da sociedade brasileira. Não havia a possibilidade, naquele passado, de se explicar ao povo o que estava acontecendo. Havia dominação da comunicação de massa, aliás, não muito diferente de hoje. Como consequência, havia uma alienação induzida da grande massa, tal qual existe nos dias atuais.

 

Retornando ao drama atual, Temer está trazendo para o país escuridão análoga ao período da revolução industrial. Assim, trata-se de um obscurantista, incentivador de propostas de massacre da classe trabalhadora e do povo em geral. Conquistas sociais que custaram lutas de muitas gerações que nos antecederam estão sendo perdidas. Imaginem o constrangimento quando tivermos que dizer para nossos filhos e netos: “Pioramos a vida para vocês!” Plagiando JK, o slogan do governo Temer poderia ser: “50 anos (de retrocesso) em dois!”. E o orgulho de ser brasileiro? De possuir uma das empresas que mais descobre petróleo no mundo? De ser um dos países com uma matriz energética invejável pelo pouco uso de combustíveis fósseis? De ter mananciais de água gigantescos? De ser um país miscigenado sem conflitos raciais e religiosos? E mesmo quando levamos em conta o abissal desnível de classes, sem conflitos sociais maiores? Temer se esmera em destruir a nação brasileira, passando por destruir nossa autoestima.

 

Como na República Velha, o Brasil está ameaçado como nação. Querem nos subordinar à hegemonia externa, quando não seremos mais soberanos. Esta hegemonia quer nos concentrar só em exportadores de minérios e grãos, e importadores de produtos industrializados para a grandeza do Império. Muito no passado, abrimos nossos portos a “nações amigas” e permitimos a remessa do nosso ouro, que acabou por abarrotar os cofres ingleses. Hoje, querem abrir nosso petróleo para “nações amigas” para acarretar o entupimento de cofres alheios. Precisamos, urgentemente, no Brasil de hoje, de um Getúlio, pois ele demonstrou saber soerguer o Brasil. Como a história não se repete, mas os dias atuais podem ter grande semelhança com situações do passado, quem poderia ser o novo Getúlio?

 

Finalizando, gostaria de dizer o mesmo que muitos dizem na abertura de qualquer discurso. Digo agora, depois de lhes contar um fato. Um juiz de partida de tênis na olimpíada exclamava: “Out!”, como todo bom juiz faz, a cada bola que caía fora da área de jogo. Esta expressão era sempre secundada pelo brado de um torcedor perspicaz: “Temer!”. Concordo com eles: “Out, Temer!

 

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Paulo Metri é conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania.

Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br/

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