Correio da Cidadania

Operação da Polícia Federal de Papua Nova Guiné

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Para os poucos que não sabem, Papua Nova Guiné é um país da Oceania, que tem pouco mais de 450 mil quilômetros quadrados de território, ocupando basicamente a metade da ilha de Nova Guiné. Sua população é de cerca de 6 milhões e 200 mil habitantes, que falam em torno de 850 idiomas e dialetos. Nesta metade de ilha, se concentra grande parte dos idiomas ameaçados de extinção do mundo.

 

O despertador de To Una, um agente da Polícia Federal de Papua Nova Guiné, toca às quatro horas da madrugada, quando ainda está escuro. Ele terá hoje um dia muito cansativo, pois é dia de realizar uma operação de busca e apreensão. Pouco depois de chegar nos escritórios da polícia, às cinco horas, como determinado, participa de uma reunião, na qual seu chefe dá as instruções sobre a operação, que deve ser iniciada logo a seguir, em três cidades do país simultaneamente.

 

A permissão do juiz, que estava sendo pedida também às cinco da manhã, deve chegar a qualquer momento. Exceto o chefe, nenhum dos agentes sabia quem seria investigado e houve a recomendação para ninguém vir com o celular. Uma revista é feita em todos os agentes antes de as instruções começarem a ser proferidas.

 

Chegando a ordem judicial, os grupos partem e começam a acordar os suspeitos, que ficam muito surpresos com a invasão e juram nunca terem feito nada. Os agentes explicam que só estão cumprindo ordens judiciais. Alguns suspeitos não são encontrados, mas, mesmo assim, suas casas e escritórios são vasculhados. Também, alguns suspeitos são levados presos.

 

Ao chegarem de volta nos escritórios da polícia, os materiais e os equipamentos apreendidos são levados para uma sala transformada em depósito, que, agora, tem fechadura reforçada. To Una e seus colegas querem confraternizar, afinal de contas, este é o trabalho deles e tudo ocorreu como planejado. Assim, surge um momento de desconcentração entre os agentes da operação, quando eles tomam café e conversam sobre o dia. Parte desta conversa é reproduzida a seguir, já em português.

 

To Una: Vocês têm idéia de quem estão querendo atingir com esta operação?

 

Colega 1: O que eu soube é que surgiu um pedido de investigação do Ministério Público e a polícia está, há meses, interceptando ligações e lendo e-mails deste grupo, e consta que ela já tem segurança que existem fraudes.

 

To Una: Mas as pessoas, donas deste material, pertencem a qual grupo político?

 

Colega 1: Não sei.

 

Colega 2: Você acha que sempre tem que existir um grupo político por trás dos maus feitos?

 

To Una: Na maioria das vezes, sim!

 

Colega 2: Você não acha que a corrupção pode acontecer só para os bandidos usufruírem do produto do roubo?

 

To Una: Grupos políticos buscam dominar a fraude no setor público, não deixando brechas para grandes atuações de simples larápios. E, se nós estamos neste caso, é porque se trata de dinheiro público.

 

Colega 1: Isto é verdade. Devem existir também fraudes no setor privado, que, quando descobertas, os acionistas e controladores punem os infratores, entram em acordo e, se possível, poucos ficam sabendo do ocorrido.

 

Chefe: To Una, eu não gostei de você ter dito que estamos nos prestando para o papel de colaboradores do linchamento de algum grupo político. Nós estamos fazendo nosso papel de policiais e tocando a investigação que nos foi pedida. Se há erro, foi de quem solicitou a investigação.

 

To Una: Chefe, não há investigação inocente. Não estou querendo eliminar a culpa dos malfeitores e acho que toda malfeitoria deve ser apurada. Mas, que um malfeito só é apurado quando há interesse político de vir à tona, isto é verdade.

 

Chefe: Não concordo com isso. Nós apuramos todas as denúncias, indistintamente.

 

To Una: Sim, chefe. Toda denúncia que recebemos, apuramos. Mas, estou falando das que nós não chegamos a receber o pedido. Também daquelas que já apuramos há muito tempo e, no entanto, o relatório está parado em alguma gaveta. Assim, a sociedade nunca viu as consequências.

 

Colega 2: Ah! Neste caso, você está querendo que a Polícia Federal seja também o órgão de inteligência e o juiz! Impossível!

 

To Una: Estou criticando o sistema, como um todo, e não a Polícia Federal.

 

Chefe: Que operações nós estamos deixando de investigar?

 

To Una: Não sei. Não sou da alta cúpula da inteligência. Mas, tenho certeza que devem existir umas 200 operações possíveis de serem investigadas. Entretanto, só uma dúzia é tocada. Até porque não temos capacidade de tocar muito mais que isso.

E, aí, vem a grande pergunta: “Quem escolhe as operações que irão ser realizadas usa qual critério para escolhê-las?”

 

Chefe: Você está querendo dizer que nós queremos pegar algum político, com a presente operação?

 

To Una: Nós, não. Mas quem a escolheu e nos deu a ordem para executá-la tem objetivo político, sim!

 

Colega 2: E o que você sugere? Que a gente boicote a investigação porque estamos sendo usados para fins políticos?

 

To Una: Não. De jeito nenhum. Temos que ser profissionais e investigar tudo. Mas podemos também ter consciência de que estamos sendo usados.

 

Chefe: Você acha que nosso ministro está nos manipulando?

 

Colega 1: Chefe, este argumento não é bom, pois este ministro não sabe direito o que se passa na pasta dele.

 

To Una: Quanto ao ministro, acho que não. Mas, certamente, existe uma alta cúpula informal na República, não necessariamente com cargos no governo, que força os acontecimentos. Além disso, não importa que grupo esteja no governo no momento, esta cúpula muda pouco. E não pense que falo de funcionários públicos, falo de políticos, homens da inteligência, da mídia, empresários, banqueiros, representantes do capital estrangeiro e por aí vai. Este grupo é o idealizador das ações que, no final, somos obrigados a realizar.

 

Colega 1: Então, você está descrevendo quem realmente tem o poder em Papua Nova Guiné. Por esta tese, o povo, quando participa de eleições, está elegendo somente o síndico?

 

Chefe: Vocês, hoje, estão vendo muito “teoria da conspiração” onde não há nada disso.

 

Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira da Associação de Engenheiros e do Clube de Engenharia.


Blog do autor: http://www.paulometri.blogspot.com.br/

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