Correio da Cidadania

Atentado ao Charlie Hebdo: “choque de civilizações”

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Os atentados na França ao semanário Charlie Hebdo, o tiroteio em Montrouge e sequestro no mercado kosher resultaram no assassinato de pelo menos 17 pessoas, dos quais 12 eram os jornalistas e chargistas do semanário e três supostos terroristas, autores dos atentados, entre os dias 7 e 9 de janeiro de 2015. Segundo a mídia ocidental, notória por sua “objetividade” serva dos interesses do poder global dos EUA, os dois irmãos terroristas Said e Chérif Kouachi atacaram a equipe de redação por causa da publicação das caricaturas do profeta Mohammed, sempre retratado em situações degradantes. Os dois irmãos supostos autores do atentado seriam “muçulmanos radicais” que invadiram o prédio do jornal aos gritos de “Allah u Akbar!!!” (“Deus é grande!!!”).

 

As imagens confusas mostradas pela mídia ocidental mostraram apenas homens mascarados atirando nas ruas. Segundo a mesma mídia ocidental, os dois terroristas seriam altamente profissionais e que um deles teria deixado cair a carteira de identidade ... verdadeira, o que teria facilitado a identificação dos autores (e até mesmo a religião deles) em poucos segundos de investigação.

 

Na verdadeira caçada humana empreendida pela polícia e forças de segurança francesas, os dois supostos assassinos teriam sido encurralados e mortos na cidade de Dammartin-en-Goële. Um dos policiais envolvidos na caçada teria se suicidado. De qualquer forma, o ataque ao jornal foi um ato covarde e atroz não porque foi um atentado contra “liberdade de expressão”, que não é um valor e nem um direito absolutos, mas, sim, porque foi um ato contra a vida. Por este motivo, todas as lideranças muçulmanas e todos os governos árabes repudiaram e condenaram duramente o atentado.

 

Reforçando o ódio ao Islã

 

Tomando a narrativa veiculada pela mídia ocidental como verdadeira, faremos algumas breves considerações sobre este crime hediondo. Em primeiro lugar, o semanário Charlie Hebdo teria sido fundado no espírito dos protestos de maio de 1968, adotando uma linha “anarquista”, onde se caracterizava pelas charges “iconoclastas”. Segundo a mídia ocidental, a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos EUA, o semanário passou a ter uma linha de ataque ao chamado “extremismo islâmico”, dedicando inúmeras charges de “sátiras” às religiões. Em 2006, teria reproduzido as caricaturas do profeta Mohammed publicadas originalmente num jornal dinamarquês, que gerou protestos nas comunidades muçulmanas em todo o mundo, pois a religião islâmica condena a representação imagética do profeta, o que é considerado uma idolatria.

 

A partir de então, o semanário francês passou a sofrer ameaças. O fato é que observando as charges do Profeta e dos muçulmanos publicados pelo jornal, nota-se claramente a intenção de vilipendiar as imagens do profeta Mohammed, dos muçulmanos e da própria religião islâmica, muito longe da suposta crítica aos “extremistas islâmicos”. Há charges também ofensivas e degradantes dos personagens centrais do cristianismo. Os judeus são retratados de forma diversa, pois o jornal deixa explícito que os judeus caricaturizados são os “maus judeus”. Foram raras as charges de personagens bíblicas do judaísmo. As charges publicadas mostram os muçulmanos e o profeta Mohammed sempre da forma mais degradada possível e em frequentes cenas explícitas de sodomia, que remetem a uma obsessão com a homossexualidade. Além do racismo explícito, há homofobia.

 

Não há dúvidas de que, em que pese o passado supostamente “anárquico” e “libertário”, a revista prestou(a) grandes serviços à islamofobia e ao ódio aos árabes (que não têm sequer o direito de ser considerado antissemitismo), disseminados na Europa pelos partidos políticos ditos de extrema- direita, que certamente “lucraram” duplamente: primeiro com uma revista dita de esquerda que dissemina racismo; segundo, com o atentado supostamente cometido por dois extremistas “islâmicos”, mais uma justificativa para o ódio aos imigrantes.

 

Neste sentido, não podemos nos furtar em dizer que a Charlie Hebdo colabora, coopera e se alia taticamente com a “extrema-direita” francesa e, sobretudo, europeia, que vê nos imigrantes a causa do desemprego que se abate na Europa desde o início da crise econômica em 2008. No entanto, esta islamofobia, nada inocente da revista francesa, não podemos deixar de recordar, é um excelente instrumento para a geoestratégia imperial ianque de subjugar o mundo árabe-muçulmano e a África, visando conquistar a hegemonia mundial.

 

Há cerca de 6 milhões muçulmanos (descendentes de árabes principalmente, mas também de africanos subsaarianos) vivendo na França, que correspondem a mais de 10% da população do país. A grande maioria é pobre subempregada e desempregada, habitando as periferias das grandes e médias cidades, não sendo difícil o ingresso no mundo do crime, alvo fácil e preferencial da segregação/repressão social-policial. Estes muçulmanos são majoritariamente oriundos dos países colonizados pela França entre os séculos 19 e 20.

 

O preconceito das elites social-política-econômica francesas não recai apenas sobre os muçulmanos, mas também sobre os demais africanos e asiáticos não muçulmanos (nos quais se incluem os árabes não muçulmanos), europeus orientais e os ciganos. Em outubro de 2013, o ódio aos ciganos gerou um escândalo nacional, quando uma adolescente de origem cigana foi deportada, por ser imigrante ilegal, para o país de origem, o Kosovo, um protetorado ianque não declarado, onde grassa um Estado racial nos moldes de Israel e dos EUA (até a década de 1960). Ao chegar deportada no país eslavo e vassalo dos EUA, a criança foi linchada e por pouco não foi assassinada; seu destino atual é desconhecido.

 

O Ocidente armou e treinou os assassinos

 

Se os irmãos Kouachi são verdadeiramente os assassinos dos 12 jornalistas e chargistas do Charlie Hebdo, conforme os informes da mídia ocidental, somos obrigados a responsabilizar primeiramente o governo francês pelo massacre ao semanário, pois, segundo o jornal ianque USA Today, publicado no dia seguinte ao crime, os dois irmãos assassinos lutaram na Síria para derrubar o governo nacionalista e laico do Ba’ath do presidente Bashar al-Assad, um aliado do Irã, da Rússia e da China.

 

Os dois supostos assassinos foram, até 2012, integrantes dos grupos “rebeldes armados”, um eufemismo ocidental para denominar os terroristas mercenários wahhabitas (membros da seita extremista herética do Islã, disseminada mundial e oficialmente pelo reino da Arábia Saudita), armados, treinados e contratados pelos EUA e vassalos regionais (especialmente pela Turquia, Israel e Arábia Saudita). Os mercenários eram recrutados primeiramente para lutarem no Exército da Síria Livre (ESL) e na Frente al-Nusra (a ala síria da al-Qaeda), e, a partir de 2014, no Daesh (o “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”), com o objetivo explícito de derrubarem o governo nacionalista sírio e o implícito de destruir o país árabe berço do cristianismo, para abrir caminho a um ataque ao Irã no futuro.

 

Não é segredo para ninguém que a França tem uma participação privilegiada na geoestratégia ianque de desestabilização do Oriente Médio. Os franceses deram início à desestabilização da Síria, em 2004, por meio do envio da resolução 1559 à votação na ONU, que exigia a retirada das tropas sírias estacionadas no Líbano desde 1976. Pelo fato de Bashar al-Assad ter se recusado, ao contrário do que fizera seu pai Hafez em 1990, a participar da coalizão liderada pelos EUA para o segundo ataque/invasão do Iraque, em 2003, a Síria foi colocada na lista do “eixo do mal” (ao lado do Irã e Coreia do Norte) pelo governo de George W. Bush. Como a França se recusou a participar da segunda invasão do Iraque, Jacques Chirac elaborou a tal resolução que desestabilizava as relações sírio-libanesas, visando se reaproximar da Casa Branca.

 

Entretanto, as tropas sírias que ocupavam o Líbano desde 1976, durante a Guerra Civil (1975-90), já estavam sendo retiradas lentamente desde a posse de Bashar al-Assad, em 2000, enquanto que o exército israelense permanecia ocupando um pequeno território libanês, as Fazendas de Shebaa. Quando, finalmente, as tropas sírias saíram do Líbano, sob pressão, sobretudo, da França e dos EUA, Israel promoveu a quinta grande invasão do Líbano, no verão de 2006, que exterminou mais de 1.200 árabes (libaneses e palestinos). A invasão israelense deveria alastrar a guerra para a Síria, para romper a aliança entre sírios, iranianos e o grupo xiita Hizbollah, mas seria neutralizada pela resistência árabe armada liderada pelo grupo libanês xiita, que expulsou os israelenses do Líbano.

 

Quando o grosso das tropas ianques foi retirado do Iraque, em 2010, sendo a maioria deslocada para o Afeganistão, França e EUA retomaram a geoestratégia de desestabilização da Síria, em março de 2011, na onda da “Primavera Árabe”. Recrutaram secretamente terroristas wahhabitas, os “rebeldes”, para derrubar o governo de Bashar al-Assad e destruir a Síria, numa geoestratégia semelhante à adotada no Afeganistão (1978), em Nicarágua (1980) e menor escala no Iraque (1991, 2003).

 

Com as repetidas vitórias do governo sírio sobre os terroristas, no verão de 2013, os EUA repetiram o roteiro adotado no Iraque, em 1988 (sobre o suposto ataque das tropas iraquianas à aldeia iraquiana-curda de Halabja, na verdade, realizado acidentalmente por tropas iranianas), com apoio da mídia ocidental, e fizeram parecer um ataque químico a um bairro de Damasco como de autoria do governo sírio. Desta vez, com a internet, a mentira que foi bem-sucedida com Saddam Hussein foi facilmente refutada no caso sírio.

 

A contínua repartição territorial da África e da Ásia

 

No entanto, presidente ianque Obama não pode recuar nem na acusação e nem na ameaça de ataque à Síria, que supostamente teria ultrapassado a “linha vermelha” estabelecida por Washington D.C. Sem provas concretas de que Assad ordenou o ataque químico, a Inglaterra se negou a participar da guerra dos EUA à Síria, somente a França foi o único país a apoiar a declaração de guerra de Obama aos sírios, que poderia ter aberto o caminho para uma Terceira Guerra Mundial, uma vez que Rússia, Irã e China já deslocavam tropas para as proximidades da Síria, caso o presidente russo Vladimir Putin não interviesse diplomaticamente, evitando o muito pior. Hoje o governo sírio controla apenas 40% de seu território e continua enfrentando a invasão mercenária wahhabita, patrocinada pelos EUA e França.

 

No último trimestre de 2014, enquanto Barak Obama fazia o Congresso dos EUA aprovar lei autorizando o envio de US$ 500 milhões para os “rebeldes sírios”, o presidente francês declarava que a França estava enviando mais armas aos “rebeldes” na Síria, isto é, estava armando os terroristas, entre os quais os irmãos Kouachi, que retornaram à França para atacar o semanário Charlie Hebdo. Uma grande parte dos mercenários wahhabitas patrocinados pelo Ocidente que ataca a Síria, o Iraque e a Líbia é de origem europeia e sequer tem descendência árabe ou africana. As potências ocidentais temem o retorno destes terroristas aos seus países de origem, se as guerras no Oriente Médio e no norte da África terminarem.

 

O ativismo militar francês contra os países muçulmanos, do qual a islamofobia alimentada pelo Charlie Hebdo e pela direita francesa serve como combustível, não se restringe à Síria e nem ao Iraque. A França liderou, ao lado da Inglaterra, as forças da OTAN que atacaram e destruíram a Líbia, em 2011, sob ordens dos EUA, durante a chamada “Primavera Árabe”. Mais de 150 mil líbios foram exterminados em 8 meses, “apenas” durante os bombardeios de saturação, que expulsaram mais de 2 milhões de líbios e imigrantes africanos subsaarianos, num país cuja população mal alcançava a cifra de 6 milhões de pessoas.

 

Com a destruição da Líbia, pela OTAN, em ação conjunta com os ataques dos mercenários wahhabitas, não foi surpresa a desestabilização da África Central e Ocidental, abrindo caminho para o surgimento e alastramento de mais grupos armados wahhabitas (denominados pelas mídias ocidentais de “terroristas islâmicos” ou “jihadistas”), em países como Nigéria, Níger, Mali, Chade, Costa do Marfim e a República Centro-africana (RCA), dos quais se destaca o Boko Haram, atuante no norte da Nigéria. Na RCA, as tropas francesas armam milícias “cristãs” contra as comunidades muçulmanas do país.

 

A vassalagem francesa

 

O surgimento destes grupos de extremistas wahhabitas, patrocinados direta ou indiretamente pelos EUA e seus vassalos locais, regionais e internacionais, servem de justificativa para as intervenções armadas do Ocidente na África Central, sob o (falso) pretexto de combatê-las. A França tem desempenhado este lamentável papel, sob ordens dos EUA, desde o final da década de 2000, quando assumiu responsabilidades pelo genocídio de Ruanda, quando, na verdade, as tropas mercenárias de Paul Kagame, patrocinadas pelos EUA, foram as principais responsáveis pelo genocídio.

 

A Guerra de Ruanda (1990-94) é considerada pelos geoestrategistas como a guerra dos EUA para expulsar a França da África Central e da região dos Grandes Lagos. Uma vez reestabelecida a vassalagem de Paris a Washington D.C., em 2007, os franceses passaram a ter sinal verde para atuar em sua antiga área de influência, cuja população muçulmana é expressiva, com o objetivo de expulsar a presença chinesa da África. Na Ásia, um outro país de maioria muçulmana também mantido sob ataque francês foi o Afeganistão, invadido pelos EUA, Irã, França e OTAN em outubro de 2001, como resposta aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

 

Assim sendo, testemunhamos a ambiguidade francesa, que ao mesmo tempo em que estimula internamente o ódio aos imigrantes (africanos e asiáticos), a islamofobia, o racismo, enfim, favorece e patrocina o terrorismo wahhabita nos países que ataca na Ásia e na África. Não podemos deixar de apontar, portanto, o governo francês como co-autor do atentado ao Charlie Hebdo, ao armar, treinar e financiar estes extremistas no Oriente Médio e na África. Lembrem-nos que os supostos terroristas que assassinaram os chargistas foram executados pela polícia.

 

Por este motivo, podemos enquadrar as charges racistas do jornal Charlie Hebdo e os ataques terroristas ao jornal e ao mercado kosher, em Paris, na segunda semana de janeiro de 2015, como mais um caso de “choque de civilizações”. O termo inicialmente criado pelo historiador britânico Bernard Lewis, que foi alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA, no final da década de 1970, no célebre artigo “As raízes do ódio muçulmano” na revista neoconservadora The Atlantic, em 1990, foi adotado pelo politólogo ianque Samuel Huntington, no célebre artigo homônimo publicado na revista Foreign Affairs, em 1993. O artigo se desdobraria num livro também homônimo publicado em 1997. No artigo e no livro, Huntington afirma que a cultura, e não mais a “razão de Estado” e a economia, seria a causa última dos novos conflitos que surgiriam no mundo após o fim da União Soviética e da Guerra Fria. Por isto, as guerras não seriam mais entre Estados, mas entre culturas cuja expressão máxima é a “civilização”. A base de cada civilização, de cada cultura, é a religião.

 

Na verdade, o livro Choque de Civilizações de Huntington é também um livro de geoestratégia que preconiza a necessidade de o Ocidente impedir a aliança do mundo muçulmano (a “civilização islâmica”, como diz o politólogo) com a China, pois caso esta aliança ocorra, os EUA perderão o controle sobre a Eurásia, a area-pivot do poder mundial. Trata-se, portanto, de uma “receita” para o imperialismo anglo-saxão manter e aprofundar sua hegemonia mundial.

 

Por este motivo, as charges ofensivas às religiões cristã e islâmica do semanário francês e o atentado terrorista ao jornal são instrumentos perfeitos da estratégia de “choque de civilizações”, pois demonstram aos povos dos países membros da OTAN que o enfrentamento do Ocidente contra o mundo muçulmano é inevitável.

 

Por este motivo, a eterna Guerra ao Terror, iniciada ainda no governo Ronald Reagan e inflada a partir do 11 de Setembro pelo ditador (ao estilo romano) George W. Bush, não é direcionada ao extremismo wahhabita – financiado pela Inglaterra desde 1811 para enfraquecer o então Império Otomano –, mas, sim, contra a Rússia e China, que já é, desde 2014, a maior economia do planeta, visando a hegemonia mundial absoluta.

 

O ataque “terrorista islâmico” ao Charlie Hebdo surge num momento oportuno para os EUA, Inglaterra e Israel, os verdadeiros fomentadores da geoestratégia do “choque de civilizações” (terá sido uma mera coincidência?). De um lado, governo francês estava reconhecendo que as sanções contra a Rússia deveriam terminar, por outro, o parlamento francês estava prestes a reconhecer a Palestina como Estado soberano, acompanhando a decisão de vários países europeus.

 

Estas ações independentes do governo francês devem ser revertidas em decorrência do lamentável episódio, enquadrando a França aos ditames de Washington D.C. (algo não muito diferente da Guerra de Ruanda, nos anos 1990, o reingresso da França na OTAN, em 2007, e a prisão do francês Domenic Strauss-Kahn, então diretor-geral do FMI, pelos EUA, em 2011). Com os EUA e sua casta racial de proprietários, não há aliança, há vassalagem. Todos os países que tentaram se aproximar, de forma soberana, com os EUA sofreram e sofrem duras represálias: Iugoslávia, Iraque, Irã, Síria, Líbia talvez sejam os casos mais notórios, para não falarmos da Rússia e da China.

 

Uma farsa?

 

Os atentados exacerbaram a islamofobia, que já estava em ascensão desde o início da crise econômica europeia em 2008. O ódio aos muçulmanos está nas praças públicas no velho e degradado continente, seja através de manifestações ou mesmo de agressões físicas, alimentando e sendo alimentado pelos partidos da chamada “extrema-direita”, nem todos muito simpáticos à hegemonia anglo-saxã-sionista-liberal sobre a União Europeia (UE), como é o caso da Frente Nacional na França, liderado pelo clã Le Pen. Sendo assim, estes grupos extremistas de direita são, no presente momento, os maiores beneficiados politicamente no curto prazo. Tendo o Partido Socialista francês adotado uma agenda ultra-liberal, e, portanto, de extrema-direita, a popularidade do presidente francês Hollande subiu significativamente, uma vez que ele era até então um dos mais impopulares lideres franceses.

 

Há claros e evidentes sinais de que o ataque ao semanário francês seja mais uma página da guerra dos EUA contra Rússia e China, mesmo sem levar em consideração as evidências cada vez maiores – e censuradas pela mídia ocidental, serva dos interesses da OTAN –, de que o atentado foi uma operação “false flag” (encoberta) dos serviços de inteligência ocidentais (inclusive israelense), como afirma o ex-secretário do Tesouro dos EUA Paul Craig Roberts. Quem desqualifica a priori estas hipóteses de “inside job” e “false flag” deveria estudar com mais profundidade as Histórias da Operação Condor na América Latina e da similar europeia, Operação Gládio, censuradas convenientemente em nossas universidades.

 

Se os franceses e todos aqueles que realmente quiserem a justiça às vítimas fatais do Charlie Hebdo, em nome do lema revolucionário francês (“liberdade, igualdade e fraternidade”), não devem apenas culpar os dois irmãos Kouachi (se é que foram os verdadeiros assassinos dos jornalistas), convenientemente assassinados pela polícia antes de serem levados aos tribunais, mas, devem, sobretudo, acusar sem hesitações o governo francês e os demais membros da OTAN, liderada pelos EUA, pelo multissecular apoio financeiro e militar a todas as formas de extremismo religioso e político em todo mundo e à destruição de nações e Estados, que se acentuou nos últimos 25 anos.

 

São os líderes ocidentais, especialmente os chefes-de-Estado dos EUA, que deveriam ser presos e julgados pelos maiores crimes contra a Humanidade no último quartel de século. São os verdadeiros e certamente os únicos terroristas em atividade no mundo.

 

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Ramez Philippe Maalouf é mestre e doutorando em Geografia Humana pela USP.

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