Correio da Cidadania

Estados Unidos: o golpe militar do 1º de abril

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Lyndon Johnson, então presidente dos Estados Unidos

Registra a história do Brasil golpes de Estado de toda sorte em dois séculos de independência formal: o mais duradouro ocorreu durante a Guerra Fria (abril de 1964 a março de 1985), ao ser executado por tropas sublevadas do Exército a partir de Juiz de Fora, cidade próxima do Rio de Janeiro, capital federal até abril de 1960. O objetivo imediato da rebelião foi o de defenestrar o presidente João Goulart, depois exilado no Uruguai, onde faleceria em dezembro de 1976.

Juscelino Kubitschek havia expirado em agosto do mesmo ano e Carlos Lacerda, apoiador da medida de exceção, morreria em abril de 1977. Em decorrência da proximidade temporal e da importância partidária de cada um, malgrado a divergência de postura diante do autoritarismo, haveria a datar de então a circulação de teorias da conspiração, ao envolverem-se as três mortes em um ato político conjunto.

A justificativa alegada para a indevida deposição do mandatário eleito em outubro de 1960, ao lado de Jânio Quadros, era o suposto espraiamento do comunismo no país, de maneira que o Brasil pudesse se transformar em Cuba, recém-convertida à ideologia poucos antes, graças ao auxílio da União Soviética (URSS), ou dividir-se em duas nações como acontecido com a Coreia, cindida até hoje em função de conflito civil com alcance multilateral, ao ter sido objeto de marcante decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS/ONU).

Atônita, a administração federal demoraria para preparar-se e resistir em face do crescente motim castrense, apoiado também por civis como o próprio governador de Minas Gerais: por exemplo, a demissão em 31 de março da dupla de generais desencadeadores da trama no dia anterior já não surtiria efeito prático.

Na primeira semana de abril de 1964, encerrava-se o regime democrático, fincado, por sua vez, ao final de 1945 de modo frágil, e se iniciava um longo ditatorial, em cuja fase final seria representado pelo Partido Democrático (sic) Social (PDS) – ao se traçar sua linha descendente chegar-se-ia ao União Brasil (UB), base corrente de sustentação do Planalto, após transitar sob dois nomes: Partido da Frente Liberal (PFL), entre 1985 e 2007, e Democratas (DEM), entre 2007 e 2022.

Além do traço barroco – violação constitucional a fim de preservar a pluralidade – a deflagração da movimentação ilegal havia sido influenciada pela astrologia, conforme depoimento do general Carlos Guedes, um dos patronos da derrubada de João Goulart: 31 de março seria o último dia da lua cheia e por isso a antecipação do golpe concluído no 1º abril – nos Estados Unidos, o dia dos tolos; no Brasil, o da mentira.

Em dezembro de 1976, o Jornal do Brasil publicaria, sob a pena de Marcos Sá Correa, reportagens sobre a participação norte-americana na ruptura – na época, chamada de revolução – devido à liberação da documentação governamental de Lyndon Johnson pela Casa Branca. Sob a rubrica Brother Sam, o comandante da operação, brigadeiro George Scratchley Brown, seria na década seguinte chefe do Estado Maior das Forças Armadas.

Às vésperas da sexagésima efeméride do golpe, o governo federal proibiu menção positiva a ele, fato ocorrido no quatriênio presidencial antecedente. Não é suficiente o agir passo a passo: o Planalto deveria lamentar em nota oficial de pronto o soturno episódio do período da Guerra Fria e outrossim desculpar-se perante a população por duplo decênio ditatorial.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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