Correio da Cidadania

EUA: o caminho diplomático de Biden para a paz e para a eleição

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Senadora Kamala Harris é escolhida vice de Biden nas eleições dos EUA | Agência  Brasil
No início de 1972, Richard Nixon, republicano, viajou à China a fim de encontrar-se com Mao Tsé Tung. Como parlamentar da Califórnia (janeiro de 1947 a janeiro de 1953), ele havia-se destacado como ferrenho anticomunista.

Na altura da visita, os norte-americanos estavam em combate havia anos contra os norte-vietnamitas sem perspectiva animadora – Pequim, em decorrência da proximidade ideológica, amparava Hanói.

Estafados com o conflito, cuja vitória no campo de batalha lhes parecia cada vez mais distante, os estadunidenses tiveram de valer-se da negociação para encerrar a confrontação e para relacionar-se de maneira diferente com os opositores.

Desta forma, no mesmo ano, o mandatário norte-americano iria à União Soviética (URSS), também aliada do Vietnã do Norte, com o propósito de conversar com Leonid Brejnev sobre a contenda.

No primeiro deslocamento, a Casa Branca a apoiaria na substituição de Formosa como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS/ONU) – assim, sairia do seleto grupo onusiano dos cinco a China insular para ser sucedida pela continental.

No segundo, assinaria o entendimento diplomático-militar conhecido como Tratado de Limitação de Armas Estratégicas (em inglês, o acrônimo SALT) – com ele, limitar-se-ia o emprego de artefatos nucleares pelas duas superpotências.

Os dois avistamentos internacionais auxiliariam o dirigente a candidatar-se à reeleição no final de 1972 com êxito. Seu adversário, George McGovern, democrata, havia feito sua campanha com posicionamento antiguerra. Com as medidas de Nixon rumo à paz, seu discurso se enfraqueceria perante a população na última fase da disputa.

Ao cabo de contas, os republicanos chegariam a pouco mais de 60% dos votos, porém, no colégio eleitoral a primazia da agremiação seria impressionante: sucesso em quarenta e nove estados com derrota apenas em Massachussetts e no distrito de Columbia, onde se localiza a capital Washington.

Por consequência, a obtenção da interrupção dos combates, embora provisória por cessar-fogo, seria componente significativo da vitória de Nixon sobre McGovern – somente em janeiro de 1973 o país firmaria os acordos de Paris do fim da guerra e restauração da paz no Vietnã com os representantes das duas nações.

Meio século depois, compõem o governo estadunidense os democratas. Embora sem conflito direto, após a corrosão de anos com o envio de contingentes ao Afeganistão a partir de 2001 e ao Iraque a datar de 2003, a Casa Branca enredou-se na Guerra da Ucrânia, começada em fevereiro de 2022 pela Rússia de modo inopinado.

Diante disso, o titular do Departamento de Estado, Antony Blinken, deslocou-se a Pequim, aliada de Moscou na confrontação ora em andamento, com a finalidade de serenar os ânimos entre as potências nucleares.

De forma simultânea, o presidente Joe Biden recebeu com pompa e circunstância o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, outrossim apoiador de Vladimir Putin. Seria a terceira visita de Estado, acompanhada de jantar, do dirigente em três anos de administração, demonstração, portanto, de notoriedade do líder indiano - a inicial entre os dois países havia sido em 1961 com John Kennedy e a última em 2009 com Barack Obama - https://www.whitehousehistory.org/press-room/press-backgrounders/history-of-state-dinners-at-the-white-house.

A pouco mais de um ano da eleição presidencial, Joe Biden emula Richard Nixon, ainda que a intensidade do envolvimento militar da Casa Branca com Mariyinsky seja bem menor do que o das décadas de sessenta e setenta. Contudo, nem por sonhos os Estados Unidos (EUA) podem deixar de lado o amparo à Ucrânia.

Uma vez que o auxílio bélico não tem tido o efeito esperado, haja vista a frustração com a recente contraofensiva de Kiev, a articulação diplomática parece, tal qual decênios antes, o caminho apropriado para interromper o conflito russo-ucraniano e proporcionar êxito ao candidato democrata na disputa eleitoral de 2024.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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