Correio da Cidadania

Petróleo: razões para o aumento do preço

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A recente – e inimaginável até pouco tempo atrás - escalada significativamente ascendente dos preços do petróleo conduz os governos a ir ao encalço de alternativas: no começo dos anos 70, quando do primeiro choque do petróleo, muitos deles passaram a investir na melhoria do transporte público, com a ampliação das redes metroviárias por exemplo; outros buscaram novas fontes energéticas - de preferência - renováveis como o álcool, caso do Brasil.

 

Paralelamente, a indústria automobilística dedicou-se a projetar carros mais econômicos. No final daquela mesma década, o segundo choque do petróleo faria com que vários países intensificassem os seus esforços para a viabilidade de alternativas. Por outro lado, a alta da cotação do produto estimularia a prospecção em novas áreas, outrora desinteressantes tanto em função dos custos como das dificuldades técnicas para o acesso aos poços.

 

Hoje em dia, há uma situação similar, porém a atenção mais imediata dos prospectivistas volta-se para locais em território norte-americano, onde nem a técnica nem os custos são dificultosos. O embaraçoso para o aproveitamento comercial refere-se tão-somente à localização: regiões ambientalmente protegidas por leis, como o Alasca.

 

Mencionar, mesmo discretamente, a possibilidade de explorar reservas ambientais com o objetivo de reduzir os preços do petróleo ou do gás, embora enrubesça parte da opinião pública, pode destinar-se, no entanto, à satisfação de outro fim no curto prazo: a redução de impostos para as companhias petrolíferas, conquanto os seus lucros sejam bem significativos, principalmente se considera-se a evolução de 2007 para o presente momento.

 

Isto ensejaria ao poder público um outro posicionamento: a ampliação temporária do percentual do imposto sobre o produto, a fim de incrementar o orçamento direcionado para as pesquisas sobre combustíveis alternativos e, de modo concomitante, subsidiar parcialmente os setores mais pobres da população em seu consumo energético.

 

Tal iniciativa não encontra margem política para circular, em decorrência da debilidade administrativa do governo Bush, já em seus últimos meses, desnorteado diante de uma política externa malograda e a cujas ações no Oriente Médio e adjacências se creditam, ao menos em parte, os substanciais reajustes do petróleo.

 

A despeito dos resultados melancólicos de seu mandato, ainda perdura em setores importantes da Casa Branca o desejo de punir o Irã, por causa da condução de seu programa nuclear. Na realidade, a idéia em si não é nova, ao assemelhar-se em suas linhas gerais às aplicadas ao Iraque.

 

Assim, o roteiro traçado é basicamente este: defenestrar de um país um regime autoritário, independentemente do matiz secular ou religioso, do governo em cujo subsolo se assinale a existência de fartas reservas de combustíveis fósseis de relativa facilidade de extração e cuja imagem, perante a opinião pública internacional, esteja bastante desgastada.

 

Caso se obtivesse êxito na deposição do governo do Estado temporariamente renegado, a cotação do petróleo decresceria. Isto ocorreria porque estaria, em tese, assegurada por muitos anos a exploração regular do produto, já não influenciada por intempéries políticas de dirigentes ou de partidos políticos extremistas, em oposição às diretrizes de governos ocidentais, visto que não há restrições de ordem alguma a países como Arábia Saudita ou Kwait.

 

Além da restrição por lei das áreas de exploração do subsolo e dos alegados altos impostos, há mais uma justificativa invocada pelas grandes empresas do setor energético para a manutenção dos preços em alta: a proximidade do pico petrolífero na produção. Todavia, isto não tem estimulado investimentos necessários do setor privado na pesquisa de combustíveis renováveis.

 

Por último, faltaria mais um elemento – o mais importante talvez no presente - para embasar a subida no valor do preço: a especulação.

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais da UNB.

 

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