Correio da Cidadania

Finanças debilitadas podem alterar curso das forças armadas dos EUA

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Desde o fim da Guerra Fria, há a possibilidade de se reduzirem em termos reais os gastos militares no país. Normalmente, o governo alega a imprescindibilidade da manutenção de um padrão de segurança sem par no globo, a fim de enfrentar de modo adequado ameaças decorrentes de grupos terroristas ou de Estados renegados.

 

Desta forma, não se toma normalmente medida alguma no tocante à contenção de custos nas forças armadas. Todavia, a substantiva dívida interna tem influenciado a Casa Branca a considerar a hipótese de atingir também com cortes o segmento castrense.

 

Quase dez anos após o ataque terrorista do 11 de setembro, Washington finalmente admite a desproporcionalidade de seu arsenal e mesmo de sua equipagem perante outros países, isto sem considerar que boa parte deles alia-se-lhe de maneira inconteste.

 

O orçamento militar norte-americano equivale a 2/5 dos dispêndios mundiais, soma apenas igualada caso se enfileirem os recursos dos próximos quinze países da lista; acrescidos os custos de seus aliados, a quantia perfaz aproximadamente 2/3 do total.

 

Se não há adversário algum à vista em termos de eficiência tecnológica no curto prazo, o Executivo inclina-se a pôr de lado onerosos projetos de inovação, com o objetivo de atender mais às demandas imediatas de seus intermináveis dois confrontos.

 

Em geral desacordante quando se menciona a possibilidade de redução da receita militar, o Congresso mostra-se costumeiramente casmurro às iniciativas do Executivo. No fim, a economia orçamentária, se obtida, abate-se da rubrica dos reformados ou dos reservistas.

 

No entanto, finanças debilitadas podem involuntariamente auxiliar o encerramento de uma das confrontações ou ao menos sua forma de operação. Em maio passado, dezoito senadores posicionaram-se a favor da retirada das tropas do Afeganistão, número modesto se lembrado o total de parlamentares da câmara alta – uma centena –, mas superior ao de 2007, treze, relativo ao retorno dos contingentes do Iraque.

 

Na Câmara dos Deputados, subscreveu-se em junho iniciativa similar, com proporcionalmente maior apoio, ainda que também insuficiente – noventa e dois votos de duzentos e dezoito necessários. Em ambas as propostas, solicitou-se que o presidente Obama apresentasse em três meses um cronograma de saída do território afegão, inclusive das companhias privadas de segurança a serviço do governo estadunidense.

 

Vários parlamentares democratas manifestam preocupação com o andamento das duas guerras, tendo em vista os efeitos eleitorais negativos na próxima campanha presidencial. Até lá, na hipótese de sua continuidade, as pelejas já não terão, aos olhos do eleitorado, a rubrica republicana.

 

Em decorrência do desgaste de sua imagem, os Estados Unidos poderiam encerrar um confronto, mas não interromperiam determinadas ações, como as chamadas especiais ou secretas, ampliadas durante a gestão Obama.

 

Com o propósito de anular certos grupos suspeitos de terrorismo, o governo alargou sua atuação em mais quinze países, ao chegar a setenta e cinco, com mais de quatro mil efetivos, sem adicionar os atuantes no Iraque e no Afeganistão.

 

Oficialmente, as unidades especiais treinam forças locais em contraterrorismo ou atuam conjuntamente com elas em ações de retaliação. Entrementes, sua presença pode estender-se a ações preemptivas de forma unilateral e de cunho letal.

 

Especula-se que Washington, sob responsabilidade de Obama, já as tenha enviado para incursões secretas na Bolívia, Equador, Colômbia, México, Paraguai, Geórgia, Paquistão, Somália e mesmo Irã. O objetivo da missão varia: do terrorismo ao tráfico de drogas.

 

A base legal para sua execução lança raízes no início de 2004, através de portaria do secretário de Defesa, Donald Rumsfeld - por estímulo dos neoconservadores daquela pasta -, com o objetivo de refrear a movimentação da Al-Qaida.

 

A partir de então, reduziram-se as exigências administrativas para que unidades especiais operassem fora do teatro convencional de guerra, como países fronteiriços, por exemplo, caso uma ação, como o encalço a militantes extremistas, estivesse em curso.

 

Com o tempo, o arco de operação amplia-se, ao estender-se literalmente, em tese, para todo o globo. Deste modo, a gestão de Obama, à primeira vista, inclina-se para alterar a atuação das forças armadas. A expectativa é colher, com menos custos, resultados mais eficientes. O espalhafato do pós-11 de setembro cederia lugar à discrição, com a conseqüente amenização da imagem belicosa do país.

 

Virgílio Arraes é doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

 

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