Correio da Cidadania

EUA: ineficiência da reforma do Departamento de Defesa

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Desde o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, o Pentágono alarga sua atuação administrativa, ao aprofundar no exterior o monitoramento de atividades relacionadas, à primeira vista, com o terrorismo, a despeito de um possível desconforto da Agência Central de Espionagem (CIA), órgão tradicionalmente encarregado de acompanhar, dentre outras responsabilidades, o extremismo político.

 

Oficialmente, a Secretaria de Espionagem – ou Inteligência - do Departamento de Defesa e a Agência Central (CIA), por meio de seus titulares, compartilham informações e análises ao menos duas manhãs por semana. Embora disponha de um quadro enxuto – cerca de 250 pessoas -, o que não lhe permite coletar ou analisar dados, a Secretaria está encarregada de zelar pela contra-espionagem interna e avaliar o custo do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias para a área militar, mesmo não exclusivamente.

 

Contudo, a força da novel Secretaria é evidente, ao ser colocada na terceira posição em termos de sucessão de poder dentro do Departamento de Defesa, em função de um decreto presidencial de dezembro de 2005. A par da Secretaria, o Pentágono expande suas missões reservadas no exterior, efetivadas, de início, com a colaboração da CIA, porém, diante da frustração na obtenção de resultados imediatos, executa-as mais e mais por seus próprios meios.

 

A partir de 2007, o Parlamento norte-americano autorizou as Forças de Operações Especiais a remunerar diretamente informantes e recrutar combatentes paramilitares. A justificativa do Pentágono para maior poder foi a demora de sua contraparte nas ações conjuntas no Afeganistão e a necessidade de ajustar a sua forma de combate no exterior, não mais voltada apenas para exércitos regulares.

 

De todo modo, a dilatação do Departamento de Defesa segue pari passu o projeto de aproximar-se mais dos principais centros produtores de petróleo e de gás do globo. No passado, a ideologia pesou bastante, de modo que Alemanha e Japão – onde os Estados Unidos ocupam 1/5 da ilha de Okinawa - receberam bases após o fim da Segunda Guerra. Atualmente, o cumprimento materializa-se na edificação de complexos bélicos em torno do Oriente Médio.

 

O número total aproximar-se-ia de 850 bases militares, em mais de 140 países, apesar de muitas vezes ser difícil distinguir um posto avançado de uma base, em decorrência do seu tamanho ou da sua localização geográfica - no Iraque, a princípio, há pouco mais de 100 bases e mais de 500 postos avançados. A despeito de certa imprecisão, porque em alguns países não se reconhece oficialmente a presença militar estadunidense, a área ocupada externamente pelo Departamento de Defesa corresponderia em torno de 1/4 do total.

 

No entanto, a extensão do poder do Departamento de Defesa mostra-se insuficiente para a afirmação da presença global dos Estados Unidos. Em vez de continuar a espraiar-se militarmente de modo unilateral, os Estados Unidos deveriam avaliar o insucesso de tal postura, diante da presente configuração internacional.

 

Nela, muitos Estados periféricos - incapazes de adaptarem-se plenamente ao novo compasso econômico neoliberal - assistem à aniquilação de sua coesão social, normalmente já frágil, e decompõem-se em instâncias distintas de poder, reguladas politicamente por meio da força de agrupamentos, para onde convergem, de forma constante, aspectos religiosos e étnicos.

 

Assim, os Estados Unidos não conseguem mais contrapor-se, de maneira eficiente, ao Afeganistão e o Iraque, onde o confronto não se desenrola de maneira tradicional, ou seja, entre forças armadas nacionais, mas entre exército e guerrilhas, onde há mais dificuldade de identificar seus membros, por misturarem-se facilmente no meio da população.

 

Destarte, a reforma administrativa do Departamento de Defesa não desaguou em maior eficiência porque a ampliação de sua competência sobrepôs-se, de certo modo, à da CIA, de maneira que o ajuste necessário para atuar na nova ordem mundial estaria ainda em compasso de espera.

 

 

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais na UnB.

 

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