Correio da Cidadania

Fala PT!

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Nunca será demais repetir que o partido da mídia continua operando sua ofensiva através de duas pinças, desde que ficou evidente a vitória eleitoral de Dilma. Numa, mais soft, quer forçar a presidenta a assumir o programa neoliberal do tucanato, de forte ajuste fiscal, elevação dos juros, flutuação cambial subordinada aos ventos do dólar, cortes nos projetos de crescimento econômico, arrocho salarial, mesmo disfarçado, e redução dos programas sociais.

 

Espera uma sinalização da aceitação dessa proposta, que representaria uma reversão total dos sentimentos que levaram a maioria do eleitorado a votar em Dilma justamente porque rechaçava o retrocesso representado por Aécio. O oligopólio midiático e o mercado querem a indicação, para o ministério da fazenda e para outras posições chaves no governo de figuras que “saibam conversar”. Isto é, que sejam afinadas com o grande capital, e cuja simples menção deixe as bolsas frenéticas de alegria. Tal sinalização poderia, eventualmente, aquietar o mercado e seus leões de chácara, embora uma parte da direita não aceite nem isso.

 

Outra pinça, fortemente hard, reside na campanha diuturna para envolver a presidenta Dilma, Lula e dirigentes do PT nas investigações da Operação Lava Jato. Pretende transformá-los nos principais responsáveis pelas falcatruas de proprietários de empreiteiras e de outras empresas em conluio com ex-diretores e ex-funcionários graduados da Petrobras. E usar tal aberração como principal instrumento para criar uma mobilização social e/ou uma ação militar para depor a presidenta e banir o PT da vida política nacional.

 

Assim, ao mesmo tempo em que oligopólio da mídia insinua que o mercado se satisfaria com aquela sinalização, ele mesmo não esmorece nas acusações de “petralha ladrona”, “sovietização”, “bolivarianismo” e “transformação do Brasil numa Cuba”. Paralelamente, continuam as tentativas da direita em encontrar brechas que justifiquem alguma ação legal de impedimento ou cassação política de Dilma. Isto, seja pela Justiça, seja pelo Congresso.

 

Estimulados por essa campanha, donos de carros Mercedes, Mitsubishis, Toyotas e outras marcas famosas já estão pregando, no para-brisa traseiro, adesivos “Fora Dillma e o PT Junto”. Ou seja, crescem os esforços para colocar gente nas ruas para justificar aquelas tentativas de golpe. Em outras palavras, a direita reacionária não aceita a derrota e quer virar o jogo de uma forma ou de outra, jogando no ralo a democracia, mesmo restrita, que o povo brasileiro tem vivido nos últimos anos.

 

É verdade que o PT, em nota de sua comissão executiva, se opôs à proposta indecente impressa e vocalizada pelo partido do oligopólio midiático, assim como às tentativas golpistas da direita reacionária. Reiterou a necessidade de novas mudanças na sociedade brasileira, através de reformas estruturais, com destaque para o crescimento econômico, a consolidação dos programas sociais, a reforma política, e a democratização da mídia.

 

A comissão executiva do PT também aceitou, mesmo sem reconhecer formalmente, as críticas que acusavam o partido de haver abandonado seu antigo método de articular as atividades institucionais com a mobilização social e com o que denominou de “revolução cultural”. Método cujo abandono levou o PT a ser apanhado de surpresa diante das manifestações de junho de 2013,  a sofrer algumas derrotas eleitorais sérias em 2014, e a colocar em perigo a vitória de Dilma à presidência. Como afirmam antigas decisões de encontros e congressos do PT, sem a aplicação desse método de trabalho partidário será impossível transformar o Brasil. Portanto, não há necessidades táticas que justifiquem seu abandono.

 

A nota da comissão executiva também acatou antigas propostas militantes. Afirmou seu desejo de formar uma frente única com outras forças de esquerda. Expressou a disposição de realizar uma mobilização social e política. Seja para defender as conquistas dos últimos 12 anos, seja para avançar de modo unificado e mais incisivo na conquista de mais direitos democráticos, de maior elevação do padrão de vida social, da expansão do processo de desenvolvimento, e da afirmação da soberania nacional.

 

Em outras palavras, não houve uma autocrítica formal sobre os deslizamentos do partido nas teias exclusivas das atividades governamentais e parlamentares. Ou nas concessões políticas em questões chaves para o desenvolvimento e para a democratização. Ou na leniência diante dos desvios éticos. E no abandono da combatividade social e política que sempre caracterizou sua militância.

 

Mas deve-se reconhecer que a comissão executiva do PT deu um passo, pelo menos em teoria, para superar aqueles deslizamentos. Deslizamentos que reduziram a influência petista sobre grandes contingentes populares e médios, e permitiram à direita crescer e colocar em risco a continuidade das mudanças necessárias para colocar o Brasil e seu povo em novo patamar civilizatório.

 

No entanto, também é preciso alertar que, entre a teoria e a prática, há uma distância considerável que só pode ser vencida através de ações concretas. E o que impressiona muita gente, desde que a nota de sua comissão executiva foi publicada, é a ausência do PT no debate das ruas, das fábricas, das escolas, da imprensa, dos rádios, da televisão. Há 15 anos, as notícias do PT, suas opiniões, decisões e ações chegavam aos militantes sem que estes precisassem procurá-las. Sua comunicação era tanto guerrilheira, através de inúmeros instrumentos de divulgação, quanto institucional, pressionando o oligopólio da mídia a ouvir e publicar o que seus dirigentes diziam e/ou escreviam.

 

Nos últimos anos, porém, até procurando fica difícil descobrir o que o PT pensa, decide e age. Portanto, a nota de sua comissão executiva pode ser considerada boa. Mas não valerá de nada, ou terá pouco efeito, se os dirigentes do PT continuarem com medo de colocar sua boca em trombones e cornetas, e de falarem abertamente para os contingentes populares. Será apenas uma peça literária a ser colocado num museu. Para evitar que isso aconteça, em resumo, fala PT! Grita, berra, estrila, discute, para que todos ouçam e ajam!

 

 

Wladimir Pomar é analista político e escritor.

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