Correio da Cidadania

Não dá para esperar

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Nada indica que durante 2009 a crise financeira e econômica global arrefeça nos países centrais - EUA, União Européia e Japão. Mas não deixa de ser interessante a montanha de interpretações sobre suas causas, e sobre os motivos que estão levando tal crise a ter efeitos secundários, e diferenciados, nos países emergentes, como Brasil, China, Rússia, Vietnã, Cingapura, Coréia e outros.

 

No fundo, até os neoliberais mais radicais do passado recente culpam o neoliberalismo pelos atuais dissabores do capitalismo, numa tentativa simplória de omitir que o problema reside justamente nas contradições do capital, com sua férrea necessidade de aumento das taxas de lucros e de sua reprodução ampliada.

 

São essas necessidades que vão levar os países centrais não só a fazer empréstimos bilionários às grandes corporações, para salvá-las da falência, mas também a investir em obras de infra-estrutura, criando novos empregos e, portanto, gerando mercado comprador para substituir por algum tempo a depressão e o desemprego, criados pela redução das atividades industriais.

 

Por outro lado, tais investimentos vão demandar equipamentos e materiais de plantas industriais que os capitais desses países transferiram, nos últimos 20, 30 anos, para os países emergentes. Isto aponta tanto para os limites da superação da crise quanto para as possibilidades de os países emergentes continuarem desenvolvendo seus parques industriais e sua produção, tendo como alvo os mercados dos países centrais.

 

Além disso, os países emergentes também terão que investir em infra-estrutura e na ampliação de seus serviços públicos, de modo a criar novos empregos, capazes de substituir, por algum tempo, os postos perdidos com o fechamento de indústrias de bens de consumo, que estavam voltadas fundamentalmente para as exportações destinadas aos mercados dos países centrais.

 

Bem vistas as coisas, apesar de alguns tremores e desajustes, os países emergentes podem ampliar seus mercados internos e manter em crescimento suas indústrias, principalmente as de máquinas e equipamentos, tanto para atender aos investimentos de seus governos quanto aos dos governos dos países centrais.

 

E muitas empresas de países emergentes, assim como multinacionais dos países centrais, tenderão a continuar buscando mercados para instalar plantas industriais, tendo em conta a necessidade de aplicar excedentes de capitais e aproveitar-se das demandas de investimentos e do crescimento dos mercados domésticos não afetados seriamente pela crise global.

 

Mas elas só farão isso quando estiverem seguras de que os Estados nacionais tomaram a decisão de arrancar água da pedra e de investir pesadamente em infra-estrutura para criar emprego e renda, ou seja, mercado para vender seus produtos. É por isso que o governo brasileiro, não pode esperar que o empresariado o ajude a superar a crise. Isto pode representar a perda de um tempo inestimável.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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