Correio da Cidadania

A escolha das opções

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Os que defendem um PAC Social, relacionado ao desenvolvimento do ecoturismo, da agricultura e da pesca familiares, parecem não se dar conta que esse tipo de modelo econômico foi historicamente incapaz de suprir as necessidades materiais e culturais da humanidade. Além disso, as sociedades que foram mantidas nesse estágio de desenvolvimento também foram incapazes de enfrentar com sucesso as ameaças de sociedades que desenvolveram a indústria.

 

Resumindo, pretender retornar ao modo de produção agrário familiar, mesmo adornado pelo ecoturismo, seria um retrocesso histórico. Colocaria o Brasil numa condição de fraqueza e dependência ainda maior do que a existente no passado imperial e na maior parte da história republicana. E não conseguiria superar a existência dos oligopólios na economia, nem da estrutura produtiva especializada em matérias-primas e produtos de baixo valor agregado.

 

Para fazer com que o país produza manufaturas tecnologicamente avançadas, de alto valor agregado, será precisa dar um salto em sua estrutura industrial, tomar a ciência e a tecnologia como as principais forças produtivas e estimular as inovações. O que é impossível obter sem desenvolver a infra-estrutura econômica.

 

Para romper com o domínio dos setores oligopolistas é preciso democratizar a propriedade, tanto agrária, quanto urbana, apoiando a expansão das pequenas e médias unidades agrícolas e industriais, comerciais e de serviços, introduzindo a ciência e a tecnologia nesses setores, e estimulando-os a inovar. O que também não pode ser obtido sem uma infra-estrutura econômica desenvolvida.

 

O PAC, portanto, ao desenvolver a infra-estrutura econômica, está reforçando as condições de existência e crescimento não só dos setores oligopolistas, mas também dos setores agrícolas e industriais de pequeno e médio porte. E dá uma base efetiva para tornar o país tecnologicamente avançado e produtor de manufaturados de alto valor agregado. No entanto, inevitavelmente, a apropriação dessas condições de existência e crescimento, assim como da base tecnológica, será resultado de um embate de classes, em geral feroz, mesmo que silencioso.

 

É claro que o governo deveria privilegiar as pequenas e médias empresas, seja diretamente, seja através dos capitais estatais. Mas isto só será possível se a pressão democrática e popular for igual ou maior do que a pressão dos grandes grupos econômicos. Isto pelo simples fato de que não se trata de uma escolha puramente econômica. Trata-se de uma opção política, com ampla repercussão social, principalmente se considerarmos que a democratização da propriedade representará a ampliação da classe dos trabalhadores assalariados, em especial dos trabalhadores industriais, e o aumento de seu peso ou força social, como ocorreu durante as décadas de 1950, 1960 e 1970.

 

No caso brasileiro, a estrutura e a legislação ‘frankstein’ e oligopólica tolhem o desenvolvimento econômico e social dos pequenos empreendimentos. Estão fundadas na brutal desigualdade de riqueza e de propriedade. Até mesmo uma reforma estritamente burguesa, como a agrária, é tratada ideologicamente como um rompimento, e não como um reforço do sistema capitalista.

 

Em tal contexto, não basta ao governo querer. Para privilegiar os pequenos empreendimentos na apropriação das condições criadas pelo desenvolvimento da infra-estrutura, é preciso romper com aquelas estrutura e legislação. O que depende tanto da força popular e democrática, quanto da disposição das classes dominantes em fazer concessões. Ou de perder os anéis, na expectativa de não perderem os dedos. Sem entender isso, atacam-se os amigos, não se mobilizam os aliados e se deixam os inimigos rindo de propostas que, no fundo, são tão ou mais reacionárias do que as defendidas pelos oligopólios.

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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Comentários   

0 #1 Ao Debate, poisRaymundo Araujo Filho 01-05-2009 13:38
Uma das ferramentas utilizadas por aqueles que pensam que estão de posse da verdades, apenas por apoiar estruturas de governo que se venderam ao discurso falso da macroeconomia, é tentar desfazer e parecer insuficientes as propostas que permitem a estruturação de um foco de resistência e sobrevivência dos trabalhadores do campo e da cidade, os encaminhando como bois para o abate, como se o único destinmo para esta gente fosse o de servir de mão de obra barata para grandes empreendimentos e oligopólios capitalistas.

Sob a égide da "tecnologia de ponta" e outros quetais, avacalham, esta é a palavra, com qualquer ato de resistência a esta Rampa de Abatedouro que é a sociedade dos empregados e patrões.

Ora! Na Agricultura Familiar por exemplo, é fato que 60 a 70% do que chega na mesa do brasileiro é proveniente desta pequena e média agricultura, lamentavelmente entregue aos atravessadores e proprietários dos meios de transformação agroindustrial.

Da mesma forma que capitulam ao capital, por falta de uma proposta e vontade política séria, de estimular as técnicas de produção ecológicas e da disseminação de pequenas agroindústrias por este país, muito mais produtivas e de positiva relação custo-benefício ao agricultor-pequeno industrial.

A necessidade de se mudar as legislações, notadamente a sanitária, não pode ser usada como argumento impeditivo mpara esta obra. Hoje, temos tecnologias de baixo impacto e complexidade tecnológica e de fácil gerenciamento e manutenção, que conferem uma excelente qualidade aos produtos transformados e com valor agregado, que coloca por terra estes argumentos falaciosos, esta é a palavra, como se quiséssemos uma volta ao passado, simplesmente.

Outro sim, a proposta que desenvolvemos profissionalmente não pode ser, a não ser por ignorância ou má fé, desqualificada como impeditiva de dar respostas competentes às necessidades do país. Coloco-me à disposição para qualquer debate, com qualquer debatedor sobre este assunto, no qual me especializo há 25 anos.

O que o prezado Wladimir Pomar não leva em conta é que a nossa divergência de fundo é quanto ao TIPO de desenvolvimento que pretendemos, que definitivamente, não é de subsidiários do Capitalismo Globalizado Internaciomnal, que ao meu ver, tomou conta das mentes e almas de antigos revolucionários.

Há que se operar neste nosso Brasil e Continente uma Revolução Cultural, para que se possa contemplar o já velho jargão "Um outro Mundo é Possível". E para isso, precisamos fazer valer que A Esperança tem de vencer o Medo.
E, colocar como condição que para isso é necessário uma mobilização popular de porte, é esquecer que foi esta escalada foi justamente interrompida com a eleição de lula, que se elegeu com um discurso, traído desde o primeiro dia de mandato. E mobilização popular necessita de lideranças corajosas e não acomodas ao Poder. Não brota expontaneamente, pois.

O resto parece papo do Xico Graziano, e não de quem quer o desenvolvimento humano e não da macro economia.
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