Correio da Cidadania

Se for para valer

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Enquanto a hipocrisia da direita campeia, como se vender gado com nota fria fosse crime apenas do senador Renan Calheiros, não é demais relembrar como findou o regime militar e a transição para o regime político democrático-liberal no Brasil. Foi sob o peso da crise do tradicional pacto dos capitais estatais com os capitais privados, e das transformações do capitalismo em nível global. Sem saber para onde ir, a burguesia brasileira jogou suas fichas na solução neoliberal, primeiro com Collor-Itamar, e depois com FHC.
 
As políticas do Consenso de Washington, ou neoliberais, aplicadas à risca entre 1989 e 2002, conduziram a um brutal rearranjo patrimonial do capitalismo no país. Levaram ao predomínio dos capitais privados estrangeiros na economia brasileira, causaram uma profunda desindustrialização, arrancaram do Estado seus mais importantes instrumentos de política industrial, com a privatização da maioria das empresas estatais, e desmontaram a capacidade estatal de planejamento.
 
O controle da inflação foi realizado à custa do crescimento econômico, e rebaixando a renda dos mais pobres. Diferentemente do que propalavam, as políticas neoliberais não aproveitaram as possíveis vantagens oferecidas pela globalização capitalista. Aprofundaram o processo de oligopolização e monopolização da economia, e condenaram o país a crescimentos medíocres, agravando a desintegração de seu tecido social.
 
A estrutura econômica brasileira hoje mais parece um frankeinstein. A maior parte de suas forças produtivas teve agravadas suas desigualdades e desequilíbrios. O Brasil viu quase desaparecer sua indústria naval, ficou atrasado na constituição de um parque eletrônico, e deixou de produzir uma série de bens de capitais que já fabricava. Suas cadeias produtivas possuem enormes buracos, impedindo que criem sinergias e aproveitem suas possíveis vantagens comparativas. E seu núcleo científico e tecnológico é insuficiente até mesmo para o estágio atual do desenvolvimento econômico.
 
Sua infra-estrutura de transportes é distorcida e está em frangalhos. A malha rodoviária, responsável pelo movimento de mais de 60% das cargas do país, há muito não recebe investimentos, e seu estado afeta negativamente toda a produção. O Brasil não mais possui marinha mercante, e suas ferrovias estão muito aquém do necessário, e do papel que podem desempenhar para reduzir o tão propalado Custo Brasil. A infra-estrutura energética, por falta de investimentos, continua apresentando riscos de apagão, principalmente se a economia voltar a crescer de modo consistente.
 
Assim, se for para valer e desmontar a corrupção, um dos principais sub-produtos das políticas neoliberais, seria melhor puxar a corda pela privatização das teles e outras estatais. O gado do senador viria a reboque, lá no fim da fila.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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