Correio da Cidadania

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Se as elites sabiam, desde o final da Segunda Guerra Mundial, que o futuro seria dos aviões de grande porte, exigentes de pistas de pouso e decolagem longas e, pelo menos desde 1960, que essa exigência obrigaria o aeroporto de Congonhas a ser ampliado, impondo a reserva de áreas urbanas e o impedimento da construção de prédios, ruas e avenidas no seu entorno original, por que nada fizeram nesse sentido?

 

Se nada fizeram, talvez não sendo possível processá-las criminalmente, resta colocar a nu sua incompetência, miopia e ganância. Afinal, permitiram que a especulação imobiliária funcionasse a toda, tanto no entorno de Congonhas, quanto nas rotas de pouso e decolagem das aeronaves que se dirigem àquele aeroporto, tornando quase impossível o alongamento das pistas e a construção de áreas de escape.

 

Se as inúmeras administrações das elites sabem, há muito, dos problemas de segurança nos procedimentos de pouso e decolagem do aeroporto de Congonhas e, apesar disso, nos anos 1990, decidiram dar prioridade à reforma do seu terminal de passageiros, elas apenas continuaram em sua rota de incompetência, miopia e desprezo pela vida das pessoas.

 

Se as companhias aéreas sabem, há tempos, que as máquinas, quanto mais complexas, mais manutenção preventiva exigem, e que as aeronaves a jato "podem" até voar só com um dos reversores, e mesmo só com um dos motores, mas não "devem" fazê-lo, como autorizaram que isso ocorresse? Apenas para continuar vendendo passagens, apesar de saberem que não tinham número suficiente de aeronaves, nem de tripulações, para cobrir todos os vôos programados?

 

Se a busca de lucros levou as companhias a cobrir suas malhas de linhas aéreas sem dar folga às aeronaves, para a manutenção, nem às tripulações, para o descanso, elas introduziram mais um fator de risco numa situação que, mais cedo ou mais tarde, com chuva ou sem chuva, com "grooving" ou sem "grooving", causaria um desastre de proporções. O acidente com o Fokker da TAM, anos atrás, foi um aviso não avaliado. O acidente atual é resultado e comprovação de irresponsabilidades e ganâncias de longo curso.

 

Se o governo tivesse atentado que as elites só são competentes e cuidadosas quando tratam de seus próprios interesses, teria acertado as contas com os desmandos da era FHC, inclusive no setor aéreo, e teria atacado fortemente a situação criada pelo acidente da Gol. Foi um erro fatal acreditar na boa vontade das elites e subestimar a competência delas em desestabilizar governos sobre os quais não têm domínio completo.

 

Se o governo pensa que as elites vão se satisfazer com a nomeação de um "presidente paralelo" de sua grei, vai se enganar novamente. Elas não só vão continuar pautando-o como responsável pelo caos aéreo, mas também como responsável por futuros apagões de energia e transportes terrestres. Naco a naco, pretendem reverter no tapetão a vitória popular de 2006, jogando no colo do governo Lula todos os seus desmandos históricos.

 

 

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

 

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