Correio da Cidadania

É possível a recuperação econômica na conjuntura atual?

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Examinar o estado geral de um paciente enfermo, de certa gravidade, e comunicar os seus resultados à pessoa doente e a seus familiares, são momentos distintos de um diagnóstico médico, que muitas vezes não coincidem no tempo, por razões ou conveniências sociais conhecidas.

 

Outro enfoque e outro método científico se aplicam ao diagnóstico de um sistema econômico em crise; mas há de comum nos dois casos o peso da comunicação social, tanto na recuperação quanto na própria determinação do grau da enfermidade.

 

O exame preliminar dos sinais de funcionamento da economia brasileira neste primeiro bimestre do ano, principalmente no mês de fevereiro, nos dá conta, ainda de forma muito tênue, de pequenas melhorias na situação econômica: a inflação desacelerou, o déficit externo diminuiu sensivelmente, houve certa recuperação dos preços externos do ferro e do petróleo bruto e a atividade econômica, a julgar pelo consumo de energia elétrica aumentou levemente (2% no último mês).

 

Mas esses sinais preliminares da conjuntura, de certa forma refletem uma porção do sistema econômico, ao redor de 30%, que seria influenciado pelo movimento do chamado sistema de preços dos mercados reais, tanto para cima quanto para baixo. No caso brasileiro em particular, dada nossa recente especialização no comércio externo, são as mercadorias mundiais (commodities), de origem primária os tais mercados reais relevantes.

 

Por outro lado, algo como 70% da saúde do sistema econômico dependem do jogo da economia política em curso (jogo da renda e da riqueza em disputa na crise). E neste jogo os papeis da política e da comunicação social são determinantes à apropriação do excedente econômico prospectivo. Daí que o movimento dos mercados reais fica subordinado a uma outra entidade ideológico-teológica: o mercado ídolo.

 

Observe o leitor, que se examinada a aparência – os sinais estritos de funcionamento da economia, com tênues indicações de recuperação; tal sinalização não se confirma no jogo da economia política. O movimento hegemônico no campo político e midiático é diametralmente oposto: reativar o processo do impeachment da presidente Dilma e promover verdadeiro cerco e aniquilamento ao ex-presidente Lula, com vista a inabilitá-lo a uma disputa presidencial em 2018.

 

Esse movimento conjuntural de exacerbação da crise política não apenas conspira contra a recuperação econômica, como também se aproxima perigosamente da ruptura da ordem democrática constitucional de 1988. Esta é a salvaguarda dos direitos políticos e sociais, que em última instância se chocam com os interesses hegemônicos em disputa no jogo indefinido da economia política.

 

Mas é preciso cortar o nó da recessão e do desemprego, que caminha em 2016 para repetir os péssimos resultados de 2015, com agravante de que agora se opera explicitamente para fazer “uma ponte para o passado” em matéria de estado direito. Este dilema que já está posto, provavelmente por um erro de operação tática da República da Lava Jato no dia 4 de março (prisão imotivada do ex Presidente Lula), não se resolverá de forma trivial. Ou a história da outra república similar, a da "República do Galeão", de 1954, se repetiria como farsa?

 

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Guilherme Costa Delgado é doutor em economia pela UNICAMP e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

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