A política dos direitos nos negócios da República
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- Roberto Antonio Deitos
- 06/06/2016
“BDELICLÊON: Essas intenções agradam ao povo; e eu, porque desejo proporcionar a meu pai a boa vida de Môrico (poeta ateniense, amante da boa vida) e afastá-lo dos processos, das delações que tiram o sono dele, sou acusado de conspiração e de ser partidário da tirania.
FILOCLÊON: Você bem merece; por mim, prefiro a vida que você quer que eu abandone, em vez da maior prosperidade. Um processinho recheado é um prato que me agradaria muito mais.
BDELICLÊON: É claro! É um prazer a que você já se habituou. Mas fique calado um instantinho e tente me entender; vou fazer você perceber que está iludindo a si mesmo.
FILOCLÊON: Eu, me iludir, quando só faço justiça?” (ARISTÓFANES, As Vespas (comédia grega), 422 a. C.)
O governo do Estado republicano
Descobriu que existe o povo
Que existe uma Constituição republicana
Descobriu o dever de descumprir princípios e direitos?...
A bem de que República os direitos
Não podem mais alcançar o futuro?...
Se direito não pode ter mais passado
No presente é negado
No futuro apagado
Na memória fica um traço sem começo
Perdido no tempo que lhe é negado
O direito negado no passado
Só pode negar o futuro
Que não será realizado
Qual República pode sobreviver sem futuro
Quando nega seu próprio povo
No passado e no presente?
Quem paga imposto na República?
Os que recebem rendas de toda ordem
Nos postos de trabalho e nas atividades da vida laboral
Os que consomem pelas necessidades várias mercadorias
Esses pagam muito nos dois lados dos tributos
Da renda e do consumo pagando duplamente
Ou os ricos, empresários, banqueiros e afortunados
Que pagam sem falar menos de um por cento de impostos?
Vivem reclamando dos infortúnios
Que é pagar impostos que dizem que pagam
Para atender trabalhadores e o povo
Naquilo que o Estado não quer mais
Chamam de deveres que não suportam mais
As políticas sociais incluindo os aposentados
Por que ser velho e aposentado virou estorvo da nação?
Quem paga pouco ou quase nada de imposto
É quem ganha muito e bilhão
Fica sempre incomodado com o povo
Que fica sempre precisando da nação
Que lhe abandona sempre
Quando os poderosos querem mais
Aumentar seus ganhos tirando de muitos.
É proibido se aposentar
É proibido ficar doente
É proibido ter casa para morar
É proibido querer emprego
É proibido querer estudar
É proibido trabalhar
É proibido descansar
É proibido tomar remédio
É proibido boa alimentação
É proibido querer cultura
É proibido querer acabar
Com o corrupto sistema da dívida
É proibido querer a reforma agrária
É proibido plantar e produzir
É proibido acabar com a miséria e a fome
É proibido reclamar e protestar
É proibido lutar e sonhar
É proibido pensar
É proibido mudar o mundo
É proibido viver?...
É proibido morrer?...
É proibido achar que nação existe
É proibido querer ser cidadão
É proibido República que tenha povo
Senhores governantes?...
É proibido saber a qual classe de gente
Os senhores pertencem?...
É proibido também perguntar
Duvidar e criticar?..
Quem é que vai proibir os poucos
Que querem todos os outros proibir?...
Qual poder tem mais poder sobre a vida
Do que o poder de emancipação dela própria?
Na humanidade que não pode ser negada
Em cada ser que se faz humano
Quando sua própria humanização
Só pode existir na humanização do outro
Como parte do todo da emancipação humana?
É proibido nos negócios republicanos
O povo que nela vive de querer viver; por quê?...
Só falta agora ser proibido perguntar!...
Roberto Antônio Deitos é poeta e professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE.