Correio da Cidadania

As vitórias surgem das lutas do povo

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Informações recentes nos dão conta de que se encerraram os trabalhos do Fórum Nacional da Previdência, aquele órgão criado pelo governo Lula para elaborar um projeto de reforma previdenciária, e que foi composto de empresários, entidades sindicais e membros do próprio governo. Segundo as mesmas fontes, o Fórum não conseguiu chegar a um consenso que contemplasse a proposta do governo e que fixasse em 67/ 65 anos a idade mínima para que o trabalhador obtivesse sua justíssima aposentadoria. Além da elevada idade limite, o governo deseja que a diferença de cinco anos para menos em favor da trabalhadora seja eliminada. Um outro ponto em pauta era a desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo, permitindo acentuado rebaixamento dos já míseros trocados que recebe hoje o aposentado, e, finalmente, a eliminação do benefício pago aos trabalhadores rurais.

 

A pergunta que se pode fazer é por que esse Fórum, notadamente patronal e governista, não conseguiu chegar a um consenso. Os fatos políticos podem nos sugerir que, em primeiro lugar, as Centrais Sindicais, embora afinadas com o governo Lula, e por ele beneficiadas com a recente e parcial reforma sindical, não ousaram ainda enfrentar a ira crescente de suas próprias bases, ante a subserviência das suas “direções” a um governo que vem eliminando direitos históricos da classe trabalhadora. Por mais que os sindicatos submissos a essas centrais divulguem inverdades e meias verdades sobre a política governamental, isso não impede que os trabalhadores tomem conhecimento dos fatos através das informações que são divulgadas pela própria mídia - embora ela o faça com o intuito de defender os interesses do capital – e das informações que circulam através da imprensa alternativa, da internet e dos movimentos sociais que se mantêm em defesa intransigente dos direitos trabalhistas.

 

Um outro fator importante tem sido a mobilização dos sindicatos e movimentos populares que não se calaram, que não foram seduzidos pelo “canto da sereia” do capital e do governo, que arregaçaram as mangas e foram à luta. As várias mobilizações populares, incluindo a recente Marcha a Brasília, com a participação de cerca de 15 mil trabalhadores de todos os cantos do Brasil, deixaram patente que a classe trabalhadora não ficará de braços cruzados ante o assalto aos seus direitos. Pois, se somarmos os que já começaram a ocupar as ruas e os que demonstram que também estão dispostos a fazê-lo, veremos que a imensa maioria do povo rejeita a traição. Um outro fato que acentua tal disposição é o resultado do plebiscito, em que 98% dos participantes deram um sonoro NÃO às mudanças propostas. Recentemente, pesquisa realizada junto à população revela que 78% discordam da proposta de idade mínima de 65 anos e 73% são contra a eliminação da diferença de cinco anos em favor das mulheres.

 

Assim, termina em crise a vida do Fórum, que devolve ao governo Lula a tarefa de apresentar sua proposta ao Congresso Nacional (Câmara de deputados e Senado) para que seja debatida e votada. Tal fato, automaticamente, retarda sua entrada em pauta no Congresso, onde haverá nova batalha dos prós e contras – embora pelo menos 90% que são picaretas se sujeitem às exigências do Executivo, desde que o governo “molhe” suas mãos com a “água benta” do dinheiro do orçamento nacional. E o próprio Lula mostrará sua verdadeira face.

 

Mas será um outro momento em que a sociedade muito provavelmente estará mais mobilizada e mais disposta a ocupar as ruas; em que parte significativa dos trabalhadores da ativa estará disposta a paralisar a produção capitalista deste país, demonstrando sua força e determinação. Como 2008 será um ano eleitoral, pode até acontecer de o governo levar mais uma vez em banho-maria essa reforma, para retomá-la em 2009, mais próximo das eleições federais. De qualquer forma, as novas forças de trabalhadores que se constituem na Conlutas e na Intersindical, além de sindicatos independentes, dos partidos que se mantêm de fato na esquerda, das pastorais sociais e dos movimentos populares, não se deixarão enganar por uma possível “paz de cemitério” e permanecerão vigilantes e mobilizados a fim de evitar mais surpresas desagradáveis.

 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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