Correio da Cidadania

“Não precisa explicar.... eu só queria entender!”

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Em tempos passados, podia-se assistir na TV a um programa humorístico em que o macaco perguntava e ele mesmo respondia às questões referentes à vida sócio-econômica e à política nacional. E essa frase me veio à mente, tão logo li as palavras do presidente Lula, durante sua passagem por Cuiabá: “Os que estão vaiando são os que mais deveriam estar aplaudindo. Posso garantir que foram os que ganharam muito dinheiro neste país, no meu governo. Aliás, a parte mais pobre é que deveria estar mais zangada, porque ela teve menos do que eles tiveram. É só ver quanto ganharam os banqueiros, os empresários, e vamos continuar fazendo política sem discriminação”.

 

Nítido como água cristalina que jorra da nascente do alto da serra. Lula teve a coragem de se desnudar e afirmar que, de fato, privilegiou o capital, em detrimento do povo trabalhador. Mas os céticos, os apaixonados pelo lulismo não querem enxergar a realidade. É preciso que o “cacique mor” explique, que repita mais uma vez, esclarecendo sua opção política. Tem mais: é ele mesmo quem reafirma que vai continuar essa política que - ao contrário de sua última palavra na frase acima - é discriminatória, em que os pobres continuarão com as migalhas que caem das faustosas mesas dos ricaços. 

 

Bem, aí vem a outra parte dessa história trágica, trágica porque diz respeito à vida e à felicidade que o povo tanto busca, caso contrário seria cômica: o PT conclama seus filiados a defender Lula da “oposição de direita que ataca o governo..., nos pontos mais fracos de nossa atuação, nos flancos que deixamos abertos e nos erros cometidos”, enquanto que o próprio Lula responde com mais uma bravata: “se alguns quiserem brincar de democracia, ninguém neste país sabe colocar mais gente nas ruas do que eu”.

 

Ora, o PT e seu governo viraram as costas para o povo, dando-lhes migalhas, como confessa o presidente, escolheu como novos parceiros os banqueiros, os empresários da cidade e do campo e, agora que está sendo “picado pelo escorpião” (*) que vem carregando às costas, pretende chamar os que foram e são por eles marginalizados para ir às ruas em sua defesa? 

 

De Lula podemos compreender sua atitude em blefar com quem também blefa, porque “ameaçam” sua estabilidade política (pois nenhum capitalista que tem garantidos lucros tão avantajados vai querer comer sua “galinha dos ovos de ouro”). Entretanto, vindo isso do PT é cinismo puro, é querer nos passar a idéia de que são representantes do pensamento popular, privilégio que usufruiu nos primeiros anos de sua existência, época em que seus principais militantes vinham dos movimentos sociais organizados e combativos. 

 

O PT fez questão de aparelhar os movimentos populares, de desmobilizá-los, de transformá-los em meros instrumentos eleitoreiros. Tendo-lhes virado as costas, quer agora que saiam em defesa de quem rejeitou sua participação nos destinos da nação?

 

Como dizia o macaco, “não precisa explicar”. O Lula já explicou.

 

(*) Da fábula sobre o sapo e o escorpião.

 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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