Correio da Cidadania

Estamos todos no mesmo avião

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A política, neste mês, girou em torno da tragédia com o avião da TAM e centrou-se na busca dos culpados. Uma a uma, todas as possíveis causas do acidente vieram a público, nas falas de técnicos, pilotos, políticos e colunistas: falha humana, defeito do Airbus, pista escorregadia, sobrecarga de operações, ganância da TAM, corrupção da Infraero, falta de investimento em infra-estrutura de segurança, conivência da ANAC com as empresas aéreas e incompetência do governo.

 

Nada ficou de fora.

 

Um olhar menos míope e menos dependente de interesses imediatos teria que atribuir o acidente não a um ou dois fatores, mas a todos eles em conjunto. Com efeito, cada um deles contribuiu para o resultado. A correção de um ou de outro não será suficiente para solucionar o problema. Sem uma política pública adequada para o transporte aéreo, que abranja toda a problemática desse meio de transporte, as medidas pontuais deixarão de ter eficácia.

 

É preciso, porém, completar o raciocínio: até mesmo uma política de transporte aéreo adequada será insuficiente para solucionar o problema de maneira cabal. O desastre revelou que esse setor, até hoje preservado, também foi atingido pela deterioração geral da infra-estrutura e dos serviços públicos após 15 anos de desmantelamento sistemático (e ideologicamente motivado) do aparelho de Estado brasileiro.

 

Tragédias do mesmo porte e gravidade ocorrem freqüentemente nos desabamentos de morros, nos incêndios de favelas, nas enchentes de rios, nos choques de ônibus em estradas esburacadas e sem sinalização, na deterioração de remédios e nos tiroteios entre bandos criminosos.

 

Contudo, essas tragédias humanas - tão graves quanto a perda de vidas nas tragédias aéreas - não chamam a atenção da opinião pública e dos veículos de comunicação de massa com a mesma intensidade, pois envolvem aquela parte da população que não conta na sociedade de apartheid em que vivemos.

 

Enquanto os brasileiros não se convencerem de que também as tragédias que castigam o povão precisam ser evitadas, não haverá a menor possibilidade de que aquelas que envolvem as camadas superiores da pirâmide social também o sejam, porque a sociedade é um sistema e a deficiência de um setor reflete-se necessariamente no conjunto.

 

Queira-se ou não, estamos todos no mesmo barco - ou no mesmo avião, se preferirem.

 

 

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