Correio da Cidadania

Caravana em defesa do Velho Chico

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O “Velho Chico”, como o rio São Francisco é carinhosa chamado pelos que dele dependem, está correndo mais um sério risco. Sendo um rio de dimensões nacionais - nasce nas Minas Gerais e percorre vasta extensão do território brasileiro - é a grande fonte da água necessária à vida da flora, da fauna e das populações humanas dessa região do interior e de parte da população mais próxima ao mar. Entretanto, grupos de “cidadãos” gananciosos ou mal informados vêm continuamente depredando suas margens, destruindo as matas ciliares (matas nativas), que são a sua proteção contra as erosões e o assoreamento do seu leito. Pois bem, o São Francisco está em processo de morte lenta. Agora, um projeto de transposição de parte significativa de suas águas para o semi-árido (nordeste) ameaça acelerar sua morte. No mínimo vai complicar mais a sua vida e dificultar a vida de muitos trabalhadores rurais que vivem às suas margens.

 

Entretanto, esse mega-projeto, que segundo os discursos oficiais deverá levar água para o povo pobre da região, nada mais é que um projeto de um governo que deseja deixar bem visível a marca de sua passagem pela presidência da República. Lula já tinha declarado publicamente que essa será sua grande obra de governo. Portanto, uma demonstração de megalomania, pretendendo deixar seu nome gravado, como o fizeram alguns desastrados administradores públicos, tipo Maluf e seu “minhocão” (o elevado Costa e Silva, em São Paulo). Se levada avante, essa obra será sua “Torre de Babel” e o povo brasileiro pagará muito caro por mais um engodo.

 

Tão sério como a megalomania é o fato de que essa transposição irá, na verdade, atender aos interesses do agro-negócio que prolifera no nordeste. Segundo técnicos do governo, 70% da água a ser bombeada continuamente irá beneficiar o agro-negócio e apenas 26% chegará às cidades, onde já existe água ou onde o problema pode ser resolvido de maneira bem mais simples e barata. E mais, essa água desviada a partir de Cabrobró e Itaparica irá fazer falta mais adiante, dificultando a vida do povo ribeirinho.

 

A obra, orçada em R$ 4,5 bilhões, já tem um reajuste de mais R$ 2,1 bilhões e ainda nem foi iniciada. Quanto custará realmente, ninguém sabe, porque será necessário muito tempo para sua construção e - sabendo-se que os contratos públicos são sempre cheios de válvulas de escape que permitem sempre novos reajustes nos custos - irá gerar um ciclo vicioso sem fim e muitos outros bilhões de Reais irão rodar, atendendo aos interesses inescrupulosos das grandes empreiteiras.

 

“Levar um caneco d’água para um nordestino que está passando sede". Esta seria, segundo declarações de Lula em 23/09/04, a finalidade do projeto. Pouco mais de dois meses após, no dia 28/11/04, o engenheiro e assessor da presidência da Companhia Hidro Elétrica de São Francisco (CHESF), João Paulo Maranhão Aguiar, fez o seguinte alerta, no jornal Estado de Minas: "É desonestidade afirmar que o objetivo da transposição é matar a sede de cearenses, potiguares, paraibanos e pernambucanos. O Governo tem que dizer que pretende usar a água do São Francisco para criar novos pólos de desenvolvimento baseados na agricultura de irrigação". Mais claro é impossível.

 

Em vista de todos esses desmandos e riscos por demais onerosos para o povo brasileiro, cidadãos e cidadãs empenhados em defender a revitalização do São Francisco, em contraposição à sua morte, organizam uma caravana nacional. Passarão pelas principais cidades do país com o objetivo de esclarecer a opinião pública, de protestar contra mais esse crime nacional e colaborar para que o povo organizadamente se oponha à continuidade do projeto. Dessa caravana fazem parte intelectuais, engenheiros, professores de universidades (de Minas Gerais e Rio Grande do Norte), do Ministério Público, da CPT (Camisão Pastoral da Terra) e de vários organismos e movimentos, todos estudiosos do assunto, com muito conhecimento técnico e científico acumulados. A caravana terá início no próximo dia 19 de agosto, começando por Belo Horizonte, e se encerrará no dia 1º de setembro em Maceió.

 

Seus integrantes estarão em São Paulo, no dia 23 de agosto. A Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco será palco do debate público com os membros da caravana e acontecerá às 10 horas da manhã.

 

 

Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.

 

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