Correio da Cidadania

Visões da realidade

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A liderança mais combativa do movimento estudantil universitário resolveu fazer demonstrações de protesto ostensivas a fim de despertar a opinião pública para o sucateamento do ensino superior no país.


O objetivo da campanha é alertar a sociedade brasileira para um processo de rebaixamento da qualificação dos profissionais brasileiros - um objetivo que se encaixa na política neoliberal de formar, nos países periféricos do sistema capitalista, profissionais universitários menos instruídos para servir como espécie de auxiliares baratos dos profissionais de alto nível formados nas universidades do Primeiro Mundo (quem duvidar disso pode ler os documentos de política institucional do Banco Mundial, a respeito da reforma universitária).


A fórmula adotada é a ocupação de edifícios universitários em vários estados do país.


Obviamente, a ocupação dos recintos universitários não é nada agradável e (também obviamente) causa mesmo algum prejuízo ao desempenho escolar.


A direita cai em cima dessa realidade e alunos bem comportados assim como professores pouco conscientes do que está acontecendo com a sua profissão têm dado munição à tese reacionária de que o movimento é minoritário, chefiado por "baderneiros" que buscam pretexto para não estudar.


Sem dúvida, seria bem melhor debater esse problema através de seminários, em que estudantes, professores e governantes de ambas as posições expusessem suas razões publicamente; ou por meio de intercâmbio de artigos contraditórios nos jornais e revistas de grande circulação; como também por meio de debates televisivos em horário nobre nas emissoras de grande audiência.


Mas isto suporia um grau de civilidade que a política brasileira ainda não conquistou. O divórcio entre as autoridades e os cidadãos é tão grande que os estudantes não são sequer recebidos pelas autoridades universitárias - motivo, aliás, da ocupação recente da reitoria da USP.


Do mesmo modo, os veículos de comunicação de massa, defensores incondicionais dos interesses privados, não abrem sequer uma fresta para que os estudantes exponham suas justas queixas à opinião pública.


Como é que esses "bem comportados" alunos e que esses "zelosos" professores querem que os inconformados manifestem sua opinião sobre o que consideram um sucateamento da universidade? Nos jornaizinhos do centro acadêmico ou no mural da faculdade?


Curiosamente, os que se sentem tão ultrajados com a barbárie das ocupações não se lembram, nem por um minuto, de que o Estado e a sociedade negando aos estudantes meios adequados para fazer chegar suas reclamações à opinião pública ferem um direito garantido na Constituição.


Para a elite brasileira, ferir a Constituição não é barbárie; barbárie é realizar um ato público (com direito a Tom Zé e tudo o mais) no pátio da Faculdade de Direito.

 

 

 

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