Correio da Cidadania

Toda pobreza será ocultada

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As providências que estão sendo tomadas pelas autoridades policiais para esconder os moradores de rua do Papa, durante sua passagem por São Paulo, são vergonhosas. Segundo informação veiculada pelos responsáveis, eles terão de sair da Praça da Sé durante o tempo em que o Papa estiver celebrando missa na Catedral.

 

Pintar as casas das ruas pelas quais Catarina a Grande iria passar, em suas viagens pela Rússia, era a única providência dos nobres russos para esconder a situação deplorável dos mujiques. A elite paulistana não conseguiu imaginar outra medida para evitar que o ilustre visitante veja a praça central da cidade como ela é realmente.

 

Vergonha não é mostrar a pobreza, mas a existência de uma enorme população de miseráveis, em um país que dispõe de tantos recursos naturais.

 

Nos termos da Constituição, os pobres "domiciliados" na Praça da Sé são cidadãos brasileiros como todos os outros. Ou só se deve entender por domicílio a casa de alvenaria em rua asfaltada, onde a pessoa vive permanentemente?

 

Os "moradores de rua" aí vivem unicamente porque tiveram a infelicidade de nascer em uma sociedade tão mal organizada que não conseguem uma casa digna para morar.

 

Isto não quer dizer que deixem de estar garantidos pelo preceito constitucional que afirma serem todos os brasileiros iguais perante a lei.

 

Os bispos de São Paulo, o clero e o laicato estão na obrigação de exigir respeito a esses membros da nossa comunidade e de fazer com que o Papa os veja.

 

Só vendo essa realidade, Bento XVI poderá tomar conhecimento pessoal de uma tragédia que os relatórios e estatísticas não conseguem descrever.

 

Razões de segurança não podem se sobrepor a esse dever cristão. De resto, se há um lugar onde a vida do Papa não sofrerá qualquer risco, é no meio dos pobres de São Paulo.

 

A visita do Papa deve ser um estímulo ao avanço da democracia. Trágico será ela servir de pretexto para legitimar uma política de criminalização da pobreza.

 

 

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