Correio da Cidadania

'Democracia' dos meios de comunicação nos 'governos populares'

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Finalmente, uma reflexão sobre a democracia e os meios de comunicação desde o ponto de vista de governos populares.

 

A esquerda brasileira é predominantemente liberal e somente cosmeticamente marxista ou radical, razão pela qual não avança de maneira decidida na democratização dos meios de comunicação, embora professe apreço pela democracia todos os dias. Observem, por exemplo, a política oficial do governo Lula no que diz respeito a concessões públicas de rádio e televisão, para verificar que não existe razão plausível para que a UNE, a CUT, a FENAJ, ou outras entidades, não possam dispor de canais abertos de televisão e rádios com alcance nacional.

 

Perguntem a razão pela qual podemos dispor de 60 ou mais canais na televisão fechada, enquanto condenamos grande parte da população à miserável programação dos canais abertos que, a rigor, não oferecem opções reais. Afinal, a falta de uma política de concessões efetivamente democrática só pode ser entendida como uma declaração de aberto temor quanto à capacidade da opinião pública em decidir sobre os rumos do país quando for melhor informada, quando conseguir “ouvir os dois lados”, mesmo quando a esquerda, ou o que sobrou dela, está quase que completamente domesticada.

 

Quando decidiu apoiar abertamente e preparar durante meses a greve petroleira de dezembro de 2001, que gerou grave crise econômica e a paralisação quase completa do Estado, a RCTV sabia que violava abertamente a busca da verdade e as leis que deveria respeitar. Da mesma forma, quando decidiu participar ativamente da derrocada do presidente Chávez no golpe de abril de 2002, a RCTV sabia que o governo bolivariano representava uma ameaça de democratização dos meios de comunicação. A RCTV sabia que a greve petroleira preparava o golpe de poucos meses depois e, portanto, violando a “liberdade de imprensa”, jogou suas cartas tentando criar mais um presidente marionete em substituição ao “inflexível ex-coronel golpista”.

 

A Venezuela está vivendo grandes transformações e seu governo não está imune de cometer erros. Contudo, é igualmente óbvio, para qualquer escritor ou jornalista honesto, que grande parte das transformações opera no sentido de dar mais poder às maiorias, historicamente afastadas das decisões. Não podemos ignorar que, mesmo sofrendo a completa oposição dos monopólios dos meios de comunicação, da igreja católica, da Embaixada de Washington, das multinacionais petroleiras, do empresariado local, o presidente Chávez venceu no voto todos os desafios. Mas não apenas isso: as medidas que tomou até o momento, na grande maioria dos casos, favoreceram o controle que todo povo deve ter sobre o Estado. O controle nacional sobre a riqueza petroleira, o fim do analfabetismo, a democratização de empresas estatais, os referendos e plebiscitos constantes indicam que o Estado venezuelano se fortalece na exata medida em que se democratiza. Portanto, é perfeitamente compreensível que o cerco midiático à Revolução Bolivariana siga com força nos próximos anos, pois se trata de um exemplo que não pode prosperar.

 

Quando comparamos esse contexto com o que ocorre no Brasil, entende-se melhor por que toda medida tomada pelo presidente Chávez representa uma ameaça para os interesses consolidados em nosso país, o que motivará a oposição conhecida. Não haverá informação, nem mesmo oposição inteligente. Restará a censura voluntária ou o culto do ceticismo pseudocrítico que, evitando a crítica orwelliana em seus pontos centrais, cultiva as conclusões mais convenientes para os objetivos de manutenção da ordem, afirmando que, “em política, nada mais podemos fazer do que concluir qual dos dois males é o menor”. E claro, já fica estabelecido que a Revolução Bolivariana é o pior dos males em análise.

 

O fim da concessão pública à RCTV continuará sendo objeto de “incompreensão” por parte de jornalistas e escritores independentes e da opinião pública manufaturada, pois a relação governo/mídia no Brasil pode ser observada claramente quando, em episódio recente, um dos comentaristas de horário nobre da Rede Globo – principal monopólio no Brasil – é demitido de suas funções e, pouco tempo depois, assume a condição de ministro de Estado sem constrangimentos. Os “críticos” de esquerda logo dirigiram suas baterias contra um jornalista famoso responsável pela violação do sagrado princípio ético da independência, fato que certamente contribuiu para arranhar ainda mais a já combalida credibilidade da profissão. É sintomático que estes mesmos críticos não focaram no fundamental: a linha que deveria dividir os interesses públicos – e o governo – do reino dos monopólios.

 

Contudo, aqui não há com o que se preocupar, pois, como todos sabem, a liberdade de imprensa e a democracia estão mesmo sendo atacadas é na Venezuela!

 

 

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