A recessão nos EUA e seus reflexos
- Detalhes
- Altamiro Borges
- 11/01/2008
Agora não são somente os críticos do desastroso governo Bush que alertam. Até os economistas ortodoxos, ligados aos círculos financeiros, prevêem que os EUA entrarão em recessão em 2008. Numa enquete recente, a agência de notícias Bloomberg constatou que a maioria dos analistas de mercado avalia que o PIB do país sofrera retratação já neste primeiro trimestre. Goldman Sachs, Merrill Lynch e Morgan Stanley, poderosas máfias financeiras, também temem o pior, apesar das nuances nas analises entre os mais e os menos pessimistas – sem que haja nenhum otimista.
Motivos para temores não faltam, já que a situação da economia ianque é grave.
Ela é totalmente parasitária, endividada, e está enferma há tempos. A crise
imobiliária, no ano passado, foi apenas a ponta do iceberg, levando ao despejo
milhares de estadunidenses. O dólar continua derretendo no mundo, abalando um
dos pilares do império. O desemprego volta a bater recordes, atingindo 5% da
população economicamente ativa em dezembro. As compras do Natal passado foram as
piores dos últimos anos e o Iraque virou o novo Vietnã. O pessimismo toma conta
dos ianques!
O declínio do império
Segundo recente pesquisa da CNN, 57% dos estadunidenses avaliam que o país já
se encontra em
recessão. Para David Brooks, do La Jornada, este pessimismo é
compreensível. “Milhares perderam suas casas com a crise da divida hipotecária,
um em cada 10 padece de fome, o salário real da grande maioria dos
trabalhadores não melhora a mais de 30 anos... O ‘sonho americano’ se define
muito simplesmente: a nova geração gozará de melhor nível de vida do que a
anterior. Mas este mito fundamental no país está se desvanecendo rapidamente.
Pesquisa recente detectou que somente 16% acreditam que seus filhos terão
melhores condições financeiras do que a sua”.
Em certo sentido, a ameaçadora recessão confirma a tese do declínio relativo –
e não do colapso imediato – do “império do mal”. Como afirma o jornalista
Umberto Martins, “a crise imobiliária e a crise do dólar revelam a fragilidade
da economia estadunidense, que ingressou no século 21 amargando o colapso do
‘Nova Economia’ e a recessão de 2001. São fatos desconcertantes para quem
apostou as suas fichas no relançamento da hegemonia econômica dos EUA e
alimentou a idéia de que a superpotência em declínio seria a grande locomotiva
da economia internacional pelo menos até 2050. Felizmente, a realidade tem o
dom de dissipar ilusões”.
Otimismo excessivo do BC
Diante deste cenário sombrio, que aterroriza os donos do capital, quais os
reflexos no restante do mundo? É certo que, mesmo combalida, a economia ianque
ainda ocupa posição de destaque no planeta. Caso entre realmente em recessão,
toda a economia mundial será atingida – inclusive a brasileira. Um dos efeitos
será o da redução das importações, principalmente das dependentes e limitadas
commodities. Também poderá ocorrer fuga de capitais, inclusive nos
investimentos diretos, e quebradeira das poderosas multinacionais ianques, com
os seus efeitos devastadores.
Neste sentido, não se justifica o excessivo otimismo de Henrique Meirelles,
presidente do Banco Central, para quem o país está preparado para enfrentar as
conseqüências da recessão nos EUA. “O Brasil esta muito bem colocado hoje
dentro do cenário mundial”. Esse otimismo exagerado inclusive não bate com as
intuições do presidente Lula, que na última reunião do seu conselho político,
confessou temer os efeitos da crise nos EUA. Bem melhor seria que os
responsáveis pela política economia já se debruçassem sobre as medidas
necessárias de defesa da economia nacional, como a adoção de mecanismos para o
controle do fluxo de capitais.
É certo que o Brasil hoje está menos vulnerável aos humores externos. Até
setores críticos da política macroeconômica do governo reconhecem este avanço.
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., por exemplo, não acredita que a
retração nos EUA paralisará o crescimento brasileiro. “A recessão americana
teria que ser muito forte para produzir esse efeito... A menos que se instaure
um cenário externo caótico, a economia brasileira continuará crescendo. Mesmo
que os EUA entrem em recessão”. De qualquer forma, é bom se prevenir!
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, editor da
revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo”
(Editora Anita Garibaldi).
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