Precisamos cair fora do Haiti
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- Andrea
- 16/01/2010
Não há outra expressão para esclarecer o que as tropas brasileiras estão fazendo no Haiti senão aquela versão popular: "está segurando a vaca para os Estados Unidos mamarem".
Os militares brasileiros que acabam de morrer naquele país, vítimas do terremoto que o assolou recentemente, tiveram, infelizmente, uma morte inglória.
O Haiti é a nação maldita pelos países ricos do mundo. Motivo disso foi a sua guerra de independência – a primeira do continente latino-americano. Em vez de uma rebelião de ricos senhores de terras contra a metrópole, o que se viu no Haiti foi uma rebelião de escravos africanos contra a França.
Transgressão desse tamanho não pode ser esquecida, porque o exemplo tem grande potencial desestabilizador. Por isso, tome repressão!
A versão oficial sobre a pobreza do país faz parte desse processo de repressão: "os negros não conseguem se entender e não foram capazes de tocar uma economia açucareira extremamente produtiva que os franceses haviam estabelecido na ilha, na base das "plantations" coloniais". Mentira rematada. O Haiti teria todas as condições de manter-se como uma economia baseada na pequena agricultura de cultivo do café (o melhor do mundo).
A instabilidade política decorre precisamente das intrigas dos países ricos, interessados em explorar a população. Os Estados Unidos, por exemplo, ocuparam militarmente o país de 1915 a 1934 e novamente de 1991 a 1994.
Para se ter uma idéia a respeito da perseguição ao Haiti, basta dizer que a poderosa França exigiu até o governo de Aristide o pagamento de indenização pelos prejuízos sofridos no começo do século XIX em decorrência da insurreição haitiana!
Como um país assim não há de ser pobre?
Corre solta a versão de que os Estados Unidos não intervêm no Haiti para explorá-lo, mas para manter um mínimo de ordem pública dada a incapacidade de auto-governo dos haitianos. Os que a defendem ou agem por ignorância ou por má fé. O que os norte-americanos exploram no Haiti é a mão-de-obra barata.
Para se ter idéia de como é barata essa mão-de-obra, basta ter presente que é grande o número de jovens haitianos que vivem de vender sangue para abastecer de plasma sanguíneo os hospitais de Miami.
A opinião pública brasileira precisa exigir a retirada das nossas forças armadas daquele país. Não temos nada com esse complô de ricos contra o Haiti e não devemos manchar nossas mãos nesse massacre.
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Comentários
Mas precisamos ver as coisas nos pontos mais influentes: A ocupação da MINUSTAH garante o domínio do Haiti pelas grandes potências capitalistas e a submissão do mesmo ao Banco Mundial, ao FMI, etc.
Essa submissão ao livre comércio fez o Haiti, antes auto-suficiente em arroz, ser dependente de importações dessa mercadoria. O mesmo livre comércio fez com que haitianos precisem importar cimento. Como normalmente não podem importar, as casa são mal construídas: o terremoto teve sua devastação aumentada por isso.
Os trabalhos positivos do exército, citados por você, não precisam ser feitos por militares. Contudo, não tenho nada contra eles serem feitos por militares! A questão é que o exército brasileiro não deve aceitar esse papel de dominador no Haiti para submetê-lo ao capital internacional. Continuar com esses trabalhos admiráveis citados por você não depende disso.
Em suma, ajuda: não repressão.
Quanto a sua citação da frase nas cédulas do Real, algumas considerações: Sim, seguir os ensinamentos de Jesus é bom. Jesus foi um dos homens mais sábios que o mundo já viu.
Agora, 'buscar a Deus' é muito vago pra essa discussão. Tem a ver com uma crença sua, não aplicável a várias outras pessoas. Dizer que a solução é 'ouvir o criador' é igualmente vago.
E quanto à frase no dinheiro, seria melhor que não tivesse. Ofende os que crêem pois coloca o nome de 'Deus' num objeto de adoração que não corresponde ao cristianismo. Ofende os que não crêem pois dá a entender que o Estado assume uma posição religiosa.
Peço perdão se me extendi demais.
Abraços.
Sem hipocrisia, é fácil filosofar nessas condições, pois coloco-me como um desses que acabo de descrever.
Então, por conhecer um militar que esteve no Haiti, sabendo de sua idoneidade como ser humano, o que torna seus argumentos, pelo menos, merecedores de serem ouvidos, fui ter com ele.
Ele defendeu a permanência do Exército lá por que ele percebeu que estão fazendo alguma coisa pelo povo. Trabalhos de engenharia e de infra-estrutura, construção de escolas, apoio médico e sanitário a população. O povo mais pobre do Haiti considera o Sd brasileiro como amigo.
É claro que existe interesses escondidos, de projeção, mas incluir o Brasil como repressor é um exageiro sem tamanho.
O Sd brasileiro é sensível a pobreza de um povo, porque também é pobre, pertencente, na maioria das vezes, a classes sociais baixas do Brasil.
Não adianta somente jogar pedra, é necessário fazer alguma coisa. Os erros do passado servem como ensinamentos para o presente e esperança para o futuro.
Não adianta, numa situação como hoje que os haitianos estão passando, apontar culpados, isso não resolve.
Agora é o momento de reconhecer erros e mudar com a intenção de ajudar. O Exército lá e capaz de ajudar, não só como braço forte (que é necessário para dar o mínimo de segurança), mas como mão amiga para reacender, pelo menos, a esperança de um povo.
O nosso dinheiro trás uma frase que poucos leem. Pegue uma cédula, talvez você até tenha uma de cem na sua carteira, lá está escrito \\\"Deus seja louvado\\\", talvez se a humanidade buscasse a Deus e seguisse os ensinamento de Jesus, poderia vir a ter esperança para o mundo....
O Haiti e sua tragédia é apenas uma sombra do que vai acontecer com toda a humanidade se não ouvir o seu criador.
\\\"Quem tem olhos que veja\\\".
Agradeço as respostas, que bom que vocês estão pensando mesmo nos órfãos, velhos, doentes e famintos do Haiti.
Que Deus os abençoe.
Felipe Sá
Alegre de sabe-lo trabalhando com indigenas na Guatemala.
Concordo inteiramente com suas palavras.
Abraço, Plinio
Muito obrigado pelo seu comentário. Mas pobreza é um adjetivo que necessita justificativa. Dito assim isoladamente não vale como argumento para um debate.
Abraço, Plinio
inteiramente de acordo com suas judiciosas considerações.
Obrigado pela participação no debate.
Abraço, Plinio
muito obrigado pelo seu comentário, mas não concordo com ele, pelos mesmos argumentos que enviei ao Felipe.
Peço que os leia.
Abraço, Plinio
Agradeço seu comentário, mas discordo dele. A tropa brasileira não está no Haiti para prestar solidariedade ao povo haitiano, mas para manter, em nome da ONU, o dominio norte americano naquele país. Dou-lhe um argumento irrespondível. Está na Folha de hoje: Tropas dos Estados Unidos comandam o aeroporto de Port au Prince e decidem que aviões saem e que aviões ficam. Há algum lugar mais estratégico do que o Aeroporto no Haiti?
Abraço, Plinio
Marcar pontos aos olhos do mundo é o mesmo que oprimir os miseráveis, pois a opiniao pública da mídia global é interpretada aos olhos dos ricos.
Não é covardia ou lavar as mãos o retiro do Exército Brasileiro do Haiti. Ajuda humanitária nao precisa de soldados, podemos enviar outro tipo de missao.
O artigo contextualiza o verdadeiro papel do Brasil no Haiti.
Em março de 2008 os haitianos prostestaram contra o aumento do preço de arroz, que fizeram os \"humanitários brasileiros?\", reprimiram. (basta pesquisar as matérias sobre este período, vao encontrar aos montes)
No segundo semestre de 2009 estudantes de medicina foram reprimidos por protestar em contra a ocupaçao brasileira.
Haíti está em guerra, sua crise social o fez mais frágil a tragédia do terremoto. É isso que precisa ser entendido, a relação causal entre a repressao histórica de França, EUA e Brasil e sua miséria social, que os torna fragéis a qualquer tragédia natural.
O que o Haíti precisa é de ajuda para se tornar um país soberano e auto.governado. Isso não é o que estão fazendo as tropas brasileiras.
Lavar as mãos é não enxergar a opressão histórica dos haitianos.
Muito bom artigo. Falar a verdade é o mais incoveniente, principalmente quando estamos cegos pelo medo e ingenuidade.
Weslei Venancio
brasileiro que trabalha em comunidades indigenas em GUatemala.
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