Correio da Cidadania

Hora de decisão na esquerda socialista

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O ano de 2010 começou e os gargalos da crise social e dos limites da política econômica já são bem visíveis.

 

No terreno social, as enchentes no sudeste e sul do país e o tremendo drama humano que as sucedem (já com mais de 200 mortos desde o início de dezembro) evidenciam de uma só vez três gargalos sociais que não há propaganda oficial ou oba-oba que consiga esconder: as questões da habitação, da infra-estrutura e da saúde pública. O Maranhão já tinha vivido o mesmo drama das enchentes no final do ano passado.

 

Na política econômica, o aumento do endividamento do Estado pela via da dívida pública e a volta dos déficits nas contas externas mostram por seu lado a vulnerabilidade da economia e a dependência do capital financeiro. Uma elevação das taxas de juros nos EUA, uma revalorização do dólar ou alguma nova bolha (e já existem novas ameaças no mercado) poderiam provocar abalos hoje impensáveis na atual estabilidade.

 

É certo que o capital e o governo controlaram a crise, que quando chegou ao país provocou uma mini-recessão em tempo recorde. Também é verdade que o cenário de estabilidade interna e a popularidade do governo Lula favorecem amplamente a que uma disputa sem projetos marque as eleições de 2010, com tendência bastante favorável à candidata do presidente.

 

Mas, pelas razões expostas acima e sem desconhecer as dificuldades para os que pretendem apresentar uma alternativa de esquerda real às mazelas sociais do país e sua política econômica, há condições e espaço para a afirmação de uma autêntica frente de oposição de esquerda anticapitalista em 2010, que parta das demandas e gargalos reais que afligem dezenas de milhões de brasileiros, para os quais não há solução estrutural alguma prevista no estágio atual do capitalismo e sua crise estrutural.

 

Tempo perdido

 

Aqui está o problema. Pois embora estejamos a menos de dez meses das eleições, esta questão não está resolvida no âmbito da esquerda socialista. Particularmente no PSOL.

 

Parte dessa indefinição deveu-se à política desastrosa da maioria da direção do partido em apostar suas fichas numa aliança com Marina Silva e o PV.

 

Possibilidade que nunca existiu pelas seguintes razões:

 

1) Marina não rompeu com a política econômica do governo Lula. Não por acaso filiou-se ao PV, que está na base de sustentação do governo federal e de governos estaduais tucanos e "democratas", além de declarar que considera positivo o modelo econômico e que Lula tenha dado continuidade ao que FHC começou.

 

2) Não por acaso também, levou para o PV um grupo de capitalistas e articula um deles como vice, mostrando para onde estava direcionada sua política de ampliação.

 

3) E vamos combinar que não há discurso ético que sobreviva à convivência na mesma sigla com membros da família Sarney (um dos mandatários da legenda verde).

 

No entanto, precisou Fernando Gabeira surgir no cenário, com aval de Marina, anunciando a política de coligação com PSDB/DEMO na sua candidatura ao governo do Rio, para que o grosso das forças dirigentes do PSOL praticamente descartasse as negociações com o PV.

 

Mas não existe vácuo em política e o tempo perdido pode custar caro à manutenção e ampliação de um espaço que por obrigação caberia ao PSOL aglutinar em torno de uma alternativa de verdade à polarização Dilma-Serra. Assim como, a essa altura do campeonato, aglutinar nossas forças para reeleger nossos combativos parlamentares e lutar por uma necessária ampliação das bancadas federal e estaduais, francamente ameaçadas.

 

Por exemplo, até aqui a conseqüência mais preocupante desta indefinição política foi o programa de rádio e TV do partido no último dia 7 de janeiro, que pecou pela completa ausência de política eleitoral, e ainda por cima pela injustificável ausência do então único pré-candidato próprio do partido à presidência, Plínio Arruda Sampaio.

 

Uma das principais personalidades da esquerda brasileira e uma das principais figuras públicas do próprio partido ter ficado fora do programa foi uma expressão (nada delicada) das inúteis e equivocadas ilusões que estavam sendo depositadas na hipótese Marina Silva.

 

Candidatura e campanha pra valer

 

Mas, ainda que correndo atrás de um prejuízo, há tempo e forças para o partido e a esquerda socialista retomarem a iniciativa e buscarem construir uma firme intervenção no processo eleitoral, apresentando o PSOL como uma verdadeira alternativa de esquerda - para além das eleições inclusive.

 

Da nossa parte, como é público, não temos dúvidas de que está no nome de Plínio a melhor possibilidade de apresentar com seriedade inquestionável uma política de oposição de esquerda pra valer ao jogo de cartas marcadas que se anuncia nessas eleições.

 

É inegável sua capacidade de aglutinação de uma frente de esquerda e de sua ampliação, como o recente apoio de Dom Cappio evidencia. A incorporação à defesa da pré-candidatura por companheiros de expressão em nosso partido, como o deputado estadual Marcelo Freixo e o vereador Renatinho (de Niterói), também demonstram que esta é uma candidatura de partido, de unificação e fortalecimento do PSOL.

 

Além da questão do nome, é urgente o partido definir sem mais adiamentos as bases de uma plataforma programática, tática e objetivos de campanha.

 

A plataforma deve ter como referência os pontos programáticos aprovados pelo Diretório Nacional de dezembro, que permitem construir um programa de campanha anticapitalista, que parta das demandas reais e bandeiras históricas não resolvidas pelo Capital e seus governos.

 

Estamos diante do desafio de realizar uma campanha que alavanque a inserção social do partido e contribua para a necessária manutenção e ampliação de uma bancada parlamentar socialista e combativa que no Congresso Nacional e nas assembléias legislativas sejam as porta-vozes das demandas, reivindicações e lutas populares.

 

Isso significa em termos muito práticos acabar com a enrolação no partido, realizar um democrático debate que permita definirmos essas questões em março, como previsto, sem qualquer adiamento. O que seria inaceitável, pois qualquer postergação agora é condenar o PSOL a ter uma candidatura sem expressão e tempo hábil de entrar na disputa, uma verdadeira candidatura "laranja" na prática. E de quebra contribuindo para sacramentar um cenário de fragmentação da frente de esquerda.

 

O PSOL tem, portanto, a responsabilidade de apresentar uma candidatura com densidade e história para unir a esquerda em um projeto socialista para o Brasil.

 

Fernando Silva é jornalista, membro do Diretório Nacional do PSOL e do Conselho Editorial da revista Debate Socialista.

 

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Comentários   

0 #9 eleições 2010Antonio Lucas Maciel 12-02-2010 14:20
É inegável que a candidatura do Plínio a presidência é um avanço gigantesco em relação ao apoio a Marina Silva.
Porém, é preciso discutir o programa.De nada adianta a candidatura do Plínio se ela se apresentar com um programa rebaixado.A pressão eleitoral
não deve interfirir no programa.
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0 #8 PSOL e eleiçõesSílvio Alexandre 05-02-2010 09:09
Caro Fernando Silva: o PSOl, desde seu nascimento vem priorizando o debate eleitoral e os interesses dos Caciques do partido(Heloisa Helena no país e aqui no Rio Grande do Sul, a família Genro-Robaina).É um anexo do PT. A esperança é o PSTU e os verdadeiros militantes de esquerda!
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0 #7 A tarefa do PSOLPaulo Gouveia 03-02-2010 10:44
A grande decisão que o PSOL precisa fazer é se vai apresentar uma candidatura real aos trabalhadores do Brasil ou se vamos ter um candidato "pra constar", voltado mais para disputa interna. O companheiro Plínio é o único dos candidatos que pode nos permitir ampliar o diálogo com os setores que almejam uma candidatura de esquerda mas não necessáriamente se reconhecem no PSOL. Plínio também tem uma vasta história de coerência que o credencia perante os movimentos sociais autênticos, muitos dos quais ainda não estão nitidamente na oposição ao Lulismo, mas vivem de forma cada vez mas aguda as contradições que daí advêm. Além disso, o companheiro Plínio tem uma vasta experiência política, especialmente na capacidade de dialogar e disputar a consciência dos trabalhadores, garantindo uma expressão de massas (mesmo que muito minoritária, obviamente) ao projeto que o PSOL tem a missão de encabeçar.
Resumindo, seja para disputar consciências, seja para unir a esquerda (inclusive para depois de outubro), seja para possibilitar uma votação respeitável, seja para garantir a manutenção e o fortalecimento de nossa aguerrida representação parlamentar, a melhor alternativa do PSOL é, sem dúvida, Plínio de Arruda Sampaio.
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0 #6 De fato...David Carneiro 26-01-2010 11:34
A autocrítica é muito importante para este momento de consolidação do PSOL como o partido de alternativa para o Brasil. O nome de Plínio, um ícone da esquerda brasileira, é uma escolha que não podia ser melhor.
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0 #5 Plinio sim!Sturt 23-01-2010 12:38
Até achei o progama do psol bom,de acordo com as perspectivas ,esperava coisa pior.
Percebi mesmo que a questão eleitoral foi descartada do progama o que faz pensar que o projeto de uma candidura de esquerda pode ser laranja.
Mais pior do que isso foi a ausência de Plinio ,acredito que a melhor campanha para conduzir o Brasil rumo ao socialismo, nesse momento, seria um opoio ao Plinio mesmo.
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0 #4 hora de decisãoguimarães s. v. 23-01-2010 12:08
caro companheiro Fernando, pra um psolista novato e do interior baiano, o texto se mostra bastante informativo. ainda que não "assine em baixo", concordo com o pano de fundo geral apresentado. quero destacar, na parte final "Campanha e candidtura pra valer", o 6º parágrafo que começa com "Estamos diante do desafio", onde se enfatiza a necessidade de ampliar as bancadas federais e estaduais. ampliação vital para que ecoem com mais força e volume a propagação de nossas ideias e propostas concretas. e também a denúncia dos erros do rumo que o país está seguindo. sobre a candidatura a presidente, insisto em que o escolhido deve trazer consigo a capacidade de "arrastar" o eleitor para nossa tese e programa de campanha, vital para a ampliação das bancadas. não vejo em nenhum dos candidatos já lançados esta condição de "puxador de voto". o Plínio é bastante conhecido em São Paulo com trânsito nacional. o Matiniano,há na memória uma vaga lembrança das lutas sindicais nos idos de 1981-1982, talvez seja bem conhecido em Goiás, apenas. já o Babá, conhecido no Pará e agora no Rio de Janeiro, com alguma repercussão na mídis grande pelo comportante "exótico", não me parece que possa encarnar a figura do puxador de voto. daí, que o Plínio me parece o candidato mais apresentável, na falta de outro melhor. é isso aí. vamos em frente, ousar lutar, ousar vencer.
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0 #3 Alceu A. Sperança 23-01-2010 08:59
Muitas lúcidas as observações. O caminho é uma frente anticapitalista. A burguesia nacional, além de calhorda, morre de amores pelos banqueiros e pelas transnacionais, aos quais se associa sem o menor pudor em prejupízo do povo brasileiro.
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0 #2 eleiçõees x internismomilton temer 22-01-2010 17:10
Recuperar o equívoco do apoio a Marina nos termos deste artigo, não ajuda a recompor as forças internas necessárias ã formação de maioria, na Conferência Eleitoral, a favor da indispensável candidatura de Plínio.
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0 #1 A decisão era ontemAldir Nunes 22-01-2010 17:05
O articulista e dirigente psolista tem toda razão... O programa do Psol em 7 de janeiro foi uma aula de "deslealdade" ao próprio Partido... A esquerda brasileira precisa reconhecer que o PT/lulista e seus derivados fazem parte, aliás, sempre fizeram, do projeto de revigoraçao oligárquica das elites brasileiras e seus aliados imperialistas. O Partido de esquerda socialista tem que apresentar uma alternativa socialista..
Aldir Nunes é filiado ao Psol do Piaui
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