Correio da Cidadania

Usinas nucleares, taxação da energia solar, derrame de petróleo

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Meste segundo semestre de 2019, como foi o primeiro, o atual governo de extrema-direita tem mostrado a que veio. E não foi por falta de aviso. Tem se caracterizado com grande número de absurdos, polêmicas, eventos desgastantes em nível nacional e internacional, e decisões no sentido de desconstrução de políticas públicas, principalmente as sociais.

Na área de energia-meio ambiente (entrelaçadas), o que acontece de trágico não é diferente do que acontece na área de saúde, educação, costumes, segurança pública, direitos das populações tradicionais; e também na economia, com verdadeiro estelionato eleitoral, com 13 milhões de desempregados sem perspectivas.

A chegada de um almirante (sem nenhum preconceito) ao posto de ministro de Minas e Energia alavancou propostas adormecidas em seu ministério. Defensor do uso da energia nuclear para geração elétrica e para a propulsão de submarinos, Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior
é, obviamente, mesmo sem declarar, favorável à construção de artefatos bélicos nucleares (estória do Brasil grande). Algumas decisões de seu ministério foram tomadas sem transparência, à margem de uma necessária e imprescindível discussão nacional.

A construção de usinas nucleares é uma das decisões mais polêmicas, e que mereceria algumas (muitas) discussões devido à quantidade de mentiras, informações manipuladas, compra de apoios, etc. Uma verdadeira enxurrada de informações com a participação ativa de uma mídia comprometida com este governo é utilizada no Brasil para o “convencimento” da população, particularmente a pernambucana, de que as usinas favoreceriam o desenvolvimento regional, proporcionando a geração de empregos e renda.

O que choca é o papel da imprensa. A chamada ética jornalística é deixada de lado, e jornalistas, blogueiros se prestam a distorções e falsidades. No mínimo, por que não ouvir os famosos “dois lados”? Querem mostrar que existe um consenso nesta discussão?

O Brasil não precisa da energia elétrica gerada por uma tecnologia que tem vários riscos e atenta contra a vida humana em uma escala incomparável.

Em 2018 a produção nuclear (Angra 1+Angra 2) foi de 15.674 GWh (1GWh = 1 milhão kWh), comparada com a produção total no Brasil de 636.375 GWh, representando menos de 2,5% de toda energia gerada. Já em relação à potência instalada, as duas Angras somam 1.990 MW, enquanto a potência total foi de 163.441 MW. Ou seja, a nuclear representou 1,2% da potência total instalada.

Os números mostram a insignificância da contribuição da energia nuclear na matriz elétrica brasileira. E mesmo com Angra 3 e outras seis usinas instaladas até 2050, continuará sendo desprezível a contribuição desta fonte energética. E ainda afirmam que precisamos das usinas para impedir apagões!

Outras questões defendidas pelos grupos de interesse da energia nuclear são indefensáveis em um debate sério sobre o tema. Lamentável que ao invés de debates preferem “trabalhar” com falsas notícias e mentirosos, maledicentes e capciosos argumentos.

Estes mesmos defensores da energia nuclear sempre foram contrários ao desenvolvimento da energia solar e eólica no país. É só procurar os ataques que faziam contra as fontes renováveis nas entrevistas, nos artigos, nos posicionamentos daqueles que hoje e sempre defenderam a energia nuclear. Este posicionamento retardou em anos a implantação de projetos solares e eólicos no país.

Com o desastre de Fukushima, o principal argumento dos insanos caiu por terra. De que em uma usina nuclear NUNCA ocorreria um acidente severo. E hoje, oito anos depois do desastre no Japão, continuam na mesma direção, de minimizar um acidente nuclear, agora justificando-se por meio da nova tecnologia de reatores a serem adotadas, chamada de geração 3 (EPR - Evolutionnary Pressurized Reactor).

A França saiu antes nesta tecnologia, e iniciou a construção de um reator de geração 3 em Flamanville (Normandia). A construção demorou três vezes mais do que o tempo previsto, que era de 7 anos, e os preços aumentaram exponencialmente. A central que deveria custar 3,5 bilhões de euros chegou a 12,4 bilhões de euros (1 euro = 4,5 reais).

Façam suas contas de quanto custariam então seis usinas. E se perguntem o que poderia ser realizado com esta fortuna, em se tratando de projetos com energia solar fotovoltaica e energia eólica, novos protagonistas e menos agressivos ao meio ambiente.

Estamos em vias de mudar a legislação da autogeração de eletricidade sob o pretexto de que esta modalidade gera prejuízo à sociedade. Mas desde quando a Aneel defende a sociedade?

A Agência Nacional de Energia Elétrica é um “puxadinho” da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE), lobista eficiente, e aprovou no dia 15/10 a abertura da última etapa da revisão da Resolução Normativa 482, que regulamenta as regras da mini e micro geração distribuída de energia elétrica no país. Informação mentirosa, e que tem o objetivo de enganar a sociedade é o argumento usado para a mudança que propuseram, e que somente beneficiará as distribuidoras/concessionárias.

Se a mudança se consumar, segundo a ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar), pode causar um enorme retrocesso ao país e inviabilizar a modalidade que permitiu aos brasileiros gerar e consumir a própria eletricidade em residências, comércios, indústrias e propriedades rurais; podendo reduzir em mais de 60% a economia do cidadão que investe na geração de sua própria energia elétrica. Mentir, enganar, iludir, usar falsos argumentos é especialidade de um governo que defende usinas nucleares e é contra a energia solar descentralizada.

Vazamento de óleo

Já em relação ao crime ambiental que atingiu maior extensão até hoje no Brasil, em torno de 2.200 km da costa brasileira, impacto equivalente à mais de ¼ da extensão de todo litoral brasileiro, a mentira foi logo desvendada em relação à omissão do governo federal na demora em adotar as medidas de proteção necessárias. Neste caso Estados nordestinos ingressaram com ações civis públicas contra a União e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA.

Enquanto o Ministério de Meio Ambiente (MMA) afirmou que os procedimentos previstos no Plano Nacional de Contingência (PNC) de 2013 estão em curso desde o início de setembro, o presidente do IBAMA em audiência no senado (17/10) declarou que o PNC foi acionado no dia 11/10.

Este é um exemplo de quanto se mente, e não se respeita o bem estar da população. O que se verifica neste episódio é que esta calamidade atinge as principais praias nordestinas, afetando brutalmente o turismo na região e toda sua cadeia produtiva.

Exemplos reveladores, que mostram como o presidente da República, que já declarou que não gosta dos nordestinos (e a recíproca é verdadeira), e seus seguidores, agora defendem usinas nucleares localizadas no “véio” Chico. Criam mais dificuldades para a disseminação da energia solar descentralizada. O que estranha (nem tanto) são os nordestinos “infiltrados”. Estes sim, sempre existiram na história do Brasil.

Em todos estes episódios relatados cabe a frase dita pelo escritor José de Sousa Saramago “O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira todos os dias”.

Heitor Scalambrini Costa é professor aposentado Universidade Federal de Pernambuco.
Retirado de Ecodebate.

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