Aqui estamos
- Detalhes
- Fagner Torres
- 04/05/2018
Estou atônito, enquanto penso no que sempre fizeram com todos aqueles que ousaram alterar a ordem das coisas estabelecidas neste país. O destino sempre foi este: a masmorra, o exílio ou a morte.
Minha geração só não estava acostumada. Os livros, por mais devorados que tenham sido, não me deram a dimensão exata.
Fico a lembrar de Josué de Castro, coitado, que morreu deprimido porque foi enxotado do país. Lá fora o colocaram como Diretor-Geral da ONU, enquanto ele queria estar no Capibaribe, criando política pública para os famélicos.
Celso Furtado, outro inglório militante do desenvolvimento à brasileira, viveu no expurgo.
Darcy Ribeiro tentou colocar os indígenas na pauta. Foi expulso do país. Tentou educar as crianças. Morreu fugindo do hospital para se tratar, como diz a música.
O Brasil é o Brizola sendo ridicularizado como defensor de bandido.
O Brasil é o quarto de despejo da Carolina Maria de Jesus.
O Brasil é o Frei Tito enforcado numa árvore.
O Brasil são os tiros que mataram Chico Mendes.
O Brasil são as quatro balas na cabeça da Marielle.
É isso: um país de elitismo miserável, fome e assassínio.
O Brasil é a acumulação por espoliação.
O Brasil não é o “capital produtivo”. Não fazemos a menor ideia do que seja isso.
A riqueza do Brasil existe pela miséria generalizada, inclusive a intelectual, e dela é eterna dependente.
Aqui só mesmo o capital destrutivo, mesquinho, parasitário, genocida, escravocrata.
Eis o Brasil. Um país que sobrevive transformando corpos em estatísticas.
Fagner Torres é jornalista e apresentador do Lado B Rio, podcast semanal veiculado pela webrádio Central3.