Correio da Cidadania

Eu não abro mão de um presidente que faz ocupação

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São tantas as dúvidas e inquietações com a situação eleitoral que é necessário ter cuidado com o tom do debate entre os lutam pelas causas dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, dos negros, dos LGBTs e dos excluídos desta sociedade marcada pela mais profunda desigualdade. Mas é preciso ter um norte. Algumas tempestades chegam para testar a força das nossas raízes. Qualquer análise que desconsidere o fato de que esta eleição ocorre após um golpe midiático, jurídico, parlamentar é surreal, é “a negação direta do materialismo dialético, ainda que nomeie a Marx em cada frase”. Não compreende que estamos num processo eleitoral antidemocrático e absolutamente desigual.

A começar pela prisão e exclusão do ex-presidente Lula do processo eleitoral, acompanhadas de uma incrível e descarada parcialidade da justiça que cria obstáculos aos que se opõem ao golpe, porém não pune golpistas flagrados em atos de corrupção, não conclui a investigação do assassinato de Marielle e Anderson, não pune os hackers que invadiram a páginas das mulheres contra o Bolsonaro. Não é um acaso que a candidatura de um neofascista tenha ocupado o espaço que ocupou.

Neste contexto adverso, a ousadia de lançar uma chapa de “um presidente que faz ocupação”, Guilherme Boulos, e de uma liderança indígena, Sonia Guajajara, despertou a esperança de milhares e milhares de ativistas em todas as regiões do país, trouxe o novo. Que enfrenta, sem titubear , o neofascismo e todos os tons de golpistas. Não faz acordo com golpistas, nem muda o discurso para agradar as elites na expectativa de recompor um pacto pela manutenção das coisas nos limites das falidas instituições deste regime podre, como faz o PT.

Não abandona as pautas da classe trabalhadora, pois sabe que quem fez o que fez nos últimos dois anos não tem disposição de aceitar um resultado diferente daquele planejado: a aplicação de um plano econômico que retire direitos sociais, trabalhistas, previdenciários, que entregue nossas riquezas para o capital internacional, que restrinja ainda mais nossas limitadíssimas liberdades democráticas.

Não se combate o avanço do neofascismo de braços dados com os poderosos. Estes não têm o menor compromisso com as liberdades democráticas e com os destinos do país. São inúmeros os exemplos históricos do fracasso desta postura. O neofascismo se combate nas ruas, nas redes sociais e também nas eleições. Sem concessões ou contemporizações.

Neste sentido, cada militante do PSOL, PCB, MTST e demais movimentos sociais, com certeza, se orgulha desta histórica campanha que está fazendo, construindo uma proposta para além de uma eleição, uma proposta para uma geração.

Felizmente, a parcela mais consciente e democrática da população está se levantando para enfrentar o neofascismo. É nas ruas, nas lutas, nas mobilizações, na mais ampla unidade de ação que podemos impedir que as ideias reacionárias se consolidem. As mulheres assumiram a vanguarda desta luta, com a disputa das redes sociais e a convocação das manifestações do dia 29 de setembro. Vamos precisar de todo mundo.

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Paulo Pasin é metroviário e ex-presidente da Federação Nacional dos Metroviários. Escreve uma coluna no Esquerda Diário, onde este texto foi publicado.

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