A reorganização do lulopetismo
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- Leonardo Santos
- 08/07/2019
Governadores do PT em Brasília fazem concessões à Reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro
Eu complementaria o assustador diagnóstico do filósofo Marcos Nobre com a seguinte observação: Bolsonaro vai radicalizar, sim. Porém, ao mesmo tempo fará acenos à direita tradicional, com o objetivo de isolar a esquerda (entenda-se o arco lulista). E exatamente isso vai levar a uma intensificação da busca da aliança entre tal esquerda e a direita que sempre esteve lá.
Ao invés de se distanciar desses dois blocos, até para não ser isolado, o PT, dito de esquerda, fará de tudo para cair nas graças da direita e mostrar para a elite que é sim (e é verdade!) um grande parceiro das classes dominantes. Diria mais: o PT é a esquerda que as elites sempre sonharam, mas que por burrice acabou não reconhecendo.
Tal “esquerda” já deu suficientes mostras de que vai disputar com
Bolsonaro a simpatia da direita. A aliança entre Maia e petistas no âmbito federal, a aliança entre PT e o PSL bolsonarista no âmbito fluminense, somado ao apoio dos governadores petistas à reforma previdenciária são grandes aperitivos do que ainda vem por aí.
Longe de se lançar numa frente de oposição ou de luta contra extrema-direita ou direita, o lulopetismo vai partir para a velha fórmula da conciliação. Mas agora, diante do crescimento do bolsonarismo, ele vai com a cara mais limpa desse mundo jogar com o velho esquema (que funciona muito bem com a dita "esquerda crítica"): "é preciso lutar agora contra o mal maior!". Só que agora (risos) o mal menor é a própria direita (mais risos). O rebaixamento de expectativas é cada dia maior.
O papo de "serei resistência" não chegará à página 13. O negócio, para o PT, é: “juntos com a direita por um Brasil melhor e sem Bolsonaro”. "Seremos cínicos” é a definição mais correta.
Nada de "frente antifascista" ou "unidade entre as esquerdas". Como sempre fizeram, os petistas falarão uma coisa para as bases, em especial as "suas bases" do PSOL (e lógico que tais bases vão, como sói, engolir) e praticarão outra bem diferente no plano da grande política, das grandes concertações institucionais e eleitorais.
Vai ser curioso os petistas disputarem a tapa o apoio e a aceitação da direita. É certo que os petistas fluminenses inovaram, pois viram mais jogo em se aliar diretamente com a própria extrema-direita. Mas qual a importância disso diante da nova foto da Tabata Amaral com o FHC, é ou não é?
Ou seja, quem sai ganhando com tudo isso é a velha oligarquia dos Maias, Sarneys, Barbalhos e todos os clãs que povoam siglas como o PMDB, DEM e PP. Esta vai seguir lucrando, seja com Bolsonaro seja com o lulopetismo.
Cá pra nós: sempre foram aliados, por mais de 13 anos - antes, durante e depois do "golpe". Só que agora o farão de maneira aberta e sem nenhum pudor.
Ao fim e ao cabo, a Direita prevalecerá.
A esquerda lulista vai ter que se agarrar a bastante foto da Tabata Amaral ou factoides laterais pra tentar camuflar sua grande concertação entre a velha e deplorável direita.
Haja paciência.