Correio da Cidadania

Lula, eleições e um ensaio sobre o que virá

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Foto: José Cruz / Agência Brasil EBC

Com a pesquisa Datafolha divulgada na última quinta (26) mostrando Lula com 48% das intenções de voto (54% dos votos válidos) existe uma evidente possibilidade das eleições se definirem em 02/10/2022. Logo, estamos a pouco mais de quatro meses do pleito.

A alta rejeição de Bolsonaro (54% não votam nele), o fracasso de iniciativas como o Auxílio Brasil em reverter votos, a fome e miséria, a inflação cada vez mais galopante e o contexto internacional desfavorável sinalizam que será difícil para o atual presidente se reeleger.

Um fator a ser observado é a fragilidade das instituições democráticas, com um Congresso rendido e um Judiciário acossado por ameaças. Essas tensões constituem o maior risco para que Lula ratifique sua vitória, pois tem tudo para ganhar no primeiro turno.

É provável que até o primeiro turno, as tensões nas esferas institucional e social aumentem e tornem o clima do país mais beligerante. Resta saber que mobilizações podem ou não garantir o resultado eleitoral. Importante olhar a lâmina dos movimentos da sociedade.

Se o “bolsonarismo” possui uma base mobilizada e disposta a um Capitólio brasileiro, do lado “progressista” observam-se tensões e desconfianças de movimentos em relação a institucionalidade que podem afetar a defesa de Lula em caso de contestação do resultado.

Esse é o único risco no momento: a contestação do resultado em caso de uma derrota de Bolsonaro. Isso mostra que não estamos em condições normais. Pelo contrário, vivemos uma agudização da crise de representação, que não se resolverá com a eleição de outubro.

Um sinalizador dessa impossibilidade de resolução é o fato de Bolsonaro sair ileso, livre para torpedear o governo eleito a partir do momento em que for derrotado, e creio que começará por não reconhecer o resultado, continuando por se forjar como oposição.

Nesse contexto torna-se fundamental construir condições e pontes para que a escolha eleitoral seja garantida, sob pena de vivermos momentos que deixaram o caos parecendo o paraíso, em especial pela piora generalizada das condições de vida e existência.

Não quero dizer que não se pode criticar Lula ou seu governo. Pelo contrário, deve ser feita a crítica que for precisa, imprecisa, necessária ou não. O que deve ficar claro, porém, é que no caos das ruínas do neoliberalismo, saídas coletivas tendem a ficar estreitas e reduzidas.

Logo, é preciso restituir também um patamar mínimo em que a contestação se faça possível de afetar o poder constituído, o que não parece ter acontecido após o golpe de 2016. Logo, creio que cabe um recuo que pode ser visto como estratégico.

No mais, que as diferentes organizações da sociedade civil e movimentos sociais consigam articular novas possibilidades de caminhos que sejam efetivamente democráticos e lidem com as rachaduras que são cada vez mais evidentes no tecido social.

Acredito que da sociedade surgirão novas possibilidades, mas vejo que a esfera institucional da política ainda determina boa parte das condições para que as lutas se deflagrem. É preciso conjugar, combinar, coordenar esforços.

 

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