Correio da Cidadania

Reformar o capitalismo ou ir além do capital?

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As lutas dos socialistas ao longo dos dois últimos séculos têm se dado de forma diferenciada, dado que o capitalismo é um sistema que não se reproduz linearmente.

 

Desta maneira, encontramos diversificadas formas de organização por parte dos trabalhadores na sua luta contra o capital. Ações diretas, partidos, sindicatos, movimentos, luta armada, luta ideológica, marchas, caminhadas, dentre outras, compõem o mosaico de atividades da esquerda. E, dependendo do estágio de organização dos trabalhadores, estas ações encaminharam para projetos reformistas, revolucionários ou totalmente integrados à ordem capitalista, como aconteceu nos últimos vinte anos.

 

A questão das reformas sempre apareceu na ordem do dia dos socialistas, comunistas e outros revolucionários. Mas, para estes, a reforma não era um fim em si mesmo, ou melhor, não buscavam apenas um capitalismo reformado. Porém, muitas vezes, estas lutas organizadas por revolucionários sinceros foram passíveis de ser assimiladas e, pior, integradas ao projeto de reprodução do capital, como no caso da Europa.

 

Outras vezes defendia-se a necessidade das reformas para que alguns países pudessem construir um sistema produtivo e uma classe trabalhadora organizada como, por exemplo, por diversas ocasiões, com este intuito, o antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) defendeu as reformas. Neste caso, lutavam pela reforma agrária, reforma urbana, reforma do ensino, reforma trabalhista etc.

 

Mas também temos casos em que as reformas apresentam-se como um fim em si mesmo, sem que as críticas ao capitalismo fossem colocadas em pauta. É o caso da social-democracia européia. Outras vezes, as reformas não questionam o capitalismo e servem ao projeto de reprodução do capital, como é o caso do governo petista no Brasil atual.

 

Hoje, com o Brasil injusto, porém moderno e capitalista, ainda seria necessário lutarmos por reformas? Creio que, mesmo que a mudança para além do capital não esteja "batendo na porta", não podemos ficar mais parados esperando ela "vir bater". Precisamos colocar a questão do socialismo na pauta das lutas, em lugar das reformas. O capitalismo, no atual estágio, não necessita mais ser reformado. Necessita ser superado.

 

Se o capitalismo já teve um caráter civilizatório, na sua luta contra o feudalismo, hoje não mais se sustenta. São mais de 500 anos em que nega o direito ao trabalho a milhões de pessoas, destrói o meio ambiente, nos torna dependentes da mercadoria. Não mais merece o crédito da reforma.

 

Desta forma, proponho que a esquerda abandone o termo "reforma" nas suas reivindicações e, mesmo que a luta esteja dentro dos marcos do capitalismo, se busque um termo mais apropriado para o momento atual. Os últimos 20 anos, neoliberais, foram anos de muitas mudanças, na economia, na cultura e na política. Porém, estamos vivendo um momento de esgotamento deste período e, com certeza, os capitalistas já buscam outras formas de reprodução do capital. Assim, precisamos neste momento, mais do que nunca, disputarmos nosso projeto de sociedade que deve ir além do capital.

 

Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, doutor em educação, professor universitário e autor do livro "Além da terra: cooperativismo e trabalho na educação do MST".

 

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