Correio da Cidadania

16ª Romaria da Terra e das Águas de Goiás

0
0
0
s2sdefault

No dia 2 de setembro milhares de romeiros e romeiras, trabalhadores e trabalhadoras de toda a Diocese de Goiás e também de outras Dioceses do estado se encontraram na cidade de Itapuranga (GO) para a realização da 16ª Romaria da Terra e das Águas (e das Sementes).

O tema escolhido foi "Organização popular e Luta por Direitos" e o lema “Memória, Rebeldia e Esperança.

Com a escolha do tema e do lema, a Romaria quis destacar a necessidade de ampliar e intensificar a organização popular para combater a concentração das terras, a destruição dos biomas brasileiros (de maneira especial, do Cerrado), a contaminação das águas e a criminalização dos movimentos populares. Quis destacar também a necessidade de ampliar e intensificar a luta por direitos para defender a Mãe Terra, as sementes, a agroecologia familiar e comunitária, a soberania alimentar (direito de todos(as) de produzir, distribuir e consumir alimentos saudáveis) e todos os direitos que estão sendo tirados. “Nenhum direito a menos!”.

Quis destacar ainda a necessidade de fazer a memória das lutas populares, dos mártires e da Igreja da Caminhada; a necessidade de rebeldia dos cristãos(ãs) - sobretudo jovens - e de todas as pessoas frente ao sistema capitalista neoliberal, que é um sistema de exploração e ganância; e a necessidade de alimentar a esperança de uma boa convivência com o meio ambiente e de um mundo fraterno e justo em Cristo.

No mesmo dia da Romaria, na parte da manhã, a Pastoral da Juventude da Diocese de Goiás realizou o Dia Nacional da Juventude (DNJ), que contou com aproximadamente 500 jovens. O encontro aconteceu na Igreja Nossa Senhora de Fátima - iniciando às 8h e encerrando com o almoço - e foi marcado por momentos orantes, oficinas culturais, danças e muita cantoria. O DNJ teve como tema: “Juventude em defesa da vida, dos povos e da Mãe Terra”. No período da tarde, os jovens continuaram celebrando seu dia participando da Romaria da Terra e das Águas.

A Romaria foi organizada pela Diocese de Goiás, CPT (Comissão Pastoral da Terra) diocesana e CPT Regional Goiás, com o apoio da CNBB Regional Centro-Oeste e da Comissão das Pastorais Sociais da CNBB Nacional. Logo na chegada (no início da tarde), os romeiros e as romeiras foram recepcionados por grupos da Paróquia de Itapuranga que davam informações e orientações sobre a Romaria.

Na Feira Coberta da cidade - éramos quase cinco mil pessoas (entre as quais muitos(as) jovens) - começou a Romaria com a acolhida das diversas caravanas de romeiros e romeiras que vinham das Paróquias da Diocese de Goiás e também de outras Dioceses do estado. Da Paróquia Nossa Senhora da Terra do Jardim Curitiba III (Arquidiocese de Goiânia) éramos uma delegação de mais de oitenta pessoas (dois ônibus).

Foram acolhidos também representantes de movimentos populares do campo e da cidade, de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras e alguns políticos (infelizmente, poucos), que apoiam a luta popular.

Ainda na Feira Coberta houve algumas falas concluindo com um momento de oração, presidido por Dom Eugênio Rixem, bispo de Goiás. Logo em seguida a equipe de animação convidou a todos e todas para a caminhada pelas principais ruas do Centro de Itapuranga. Estavam presentes também Dom Messias, bispo da Diocese de Uruaçu e Presidente da CNBB Regional Centro-Oeste e Dom Guilherme, bispo da Diocese de Ipameri e Presidente da Comissão das Pastorais Sócias da CNBB Nacional.

Durante a caminhada, foi feita - com uma bonita encenação - a memória dos mártires da luta. Terminada a caminhada, todos e todas nos encontramos às margens do lago da cidade onde houve shows culturais, fala dos movimentos populares e lançamento do CD “o Povo Canta sua luta” da Diocese de Goiás.

A Romaria concluiu com a Celebração Eucarística, presidida por Dom Eugênio Rixen e concelebrada por Dom Messias, Dom Guilherme, Pe. Antonio Motta (Vigário Geral), Pe. Celso Carpenedo (Pároco de Itapuranga e Coordenador Diocesano de Pastoral) e alguns padres que estavam no meio do povo. A Celebração - que começou às 19h e terminou depois das 21h - foi um tempo forte de espiritualidade libertadora que nos confirmou a todos e todas na luta. Por ser uma Celebração muito rica em beleza e simbologia, representou - com seus cantos - o ápice do dia.

Em sua homília Dom Eugênio iniciou saudando a todos os presentes e disse: “passamos esse dia e foi um dia muito lindo, muito bem preparado, onde muita gente se envolveu realmente e nós ficamos felizes de estarmos juntos aqui na mesma luta e no mesmo sonho”. Lembrou ainda que a pior coisa que pode acontecer é matar a esperança do povo e conclui citando a frase do mártir vivo Pe. Francisco Cavazzuti: “Aqui as forças da morte não venceram a vida”.

A Diocese de Ipameri irá acolher a 17ª Romaria da Terra, das Águas e das Sementes (http://www.diocesedegoias.org.br).

Na Romaria da Terra e das Águas fizemos a experiência da presença do Deus dos Oprimidos(as) – excluídos(as), descartados(as) - , que caminha com seu povo e é um Deus Libertador. “Vi a miséria do meu povo, ouvi o seu clamor e conheci seu sofrimento, por isso desci para libertá-lo” (Ex 3, 7-8).

Por acreditar nesse Deus Libertador e por ser seguidor de Jesus de Nazaré (o maior revolucionário da história) - com dor no coração, mas com amor à Igreja - quero denunciar e lamentar o desinteresse e a indiferença da Arquidiocese de Goiânia e de outras Dioceses de Goiás (sobretudo de seus pastores, bispos e padres) em relação à Romaria da Terra e das Águas. Esse desinteresse e essa indiferença é um pecado de omissão.

Comunico aos romeiros e romeiras da 14ª Romaria da Arquidiocese de Goiânia - que foram a Aparecida do Norte justamente na data da Romaria da Terra e das Águas de Goiás - que perderam a viagem. Nossa Senhora Aparecida não estava lá, mas tinha ido a Itapuranga (GO) para participar da Romaria da Terra e das Águas. No dia 2 sentimos - de maneira muito forte - sua presença no meio de nós e às 18h (horário da Missa da Romaria da Arquidiocese de Goiânia em Aparecida do Norte), Nossa Senhora Aparecida estava nas margens do lago da cidade de Itapuranga, para participar - junto com todos os trabalhadores e trabalhadoras - da Celebração final da Romaria da Terra e das Águas.

Tenho certeza de que Nossa Senhora Aparecida teria gostado muito que a Arquidiocese de Goiânia tivesse incentivado os romeiros e as romeiras a irem a Itapuranga, deixando a Romaria a Aparecida do Norte para outra data.
 
Lutemos por uma Igreja pobre, para os pobres, com os pobres e dos pobres! É o sonho de Jesus de Nazaré! É o sonho do Concílio Vaticano II e de Medellín. É o sonho, hoje, da Igreja das catacumbas.

 

Frei Marcos Sassatelli é frade dominicano, teólogo e professor aposentado da UFG.
0
0
0
s2sdefault