Correio da Cidadania

Violência golpista em marcha na Bolívia

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A covarde agressão praticada pelos golpistas bolivianos nesta sexta-feira deixou ao menos 10 mortos, 125 feridos à bala e mais de 200 presos em Sacaba, no departamento de Cochabamba. O morticínio não consegue impedir a ampliação da resistência interna contra os fascistas, além de multiplicar o rechaço internacional ao governo da autoproclamada presidente Jeanine Añez.

Em Sacaba, ao ordenar que as ambulâncias fossem barradas nos pontos de controle para socorrer os trabalhadores rurais alvejados, policiais e militares ultrapassaram todos os limites, declarou o representante da Defensoria do Povo da Bolívia em Cochabamba, Nelson Cox. A triste expectativa é que a gravidade dos ferimentos feitos por armas de grosso calibre multiplique a perda de vidas nas próximas horas, pois muitos já foram diagnosticados com morte cerebral.

O banho de sangue fez com que até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenasse o “uso desproporcional da força policial e militar”, frisando que “as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais”. Armas extremamente precisas e letais utilizadas por franco-atiradores entrincheirados ou por homens fardados a curta distância.

Derrubar a ditadura fascista


Um dos manifestantes atingido na face

Conforme o relato de um comerciante de Sacaba, que assistiu a repressão passo a passo, “inicialmente o comando militar havia autorizado que a Marcha Pacífica prosseguisse até a cidade de Cochabamba, mas que, para isso, necessitariam abandonar paus ou qualquer objeto que estivessem carregando e que oferecesse risco”.

“Contentes de que prosseguiriam, todos os que portavam algo largaram suas coisas. Logo depois veio uma segunda ordem, separando as mulheres – que foram postadas à frente da marcha – dos homens. Foi então que vieram os tiros e a matança”, disse o comerciante, que não se identificou “com medo do que estão fazendo, pois o terror foi instalado”.

Ao longo da semana, na capital, La Paz, continuam aparecendo corpos de manifestantes desaparecidos após os gigantescos protestos realizados contra o golpe e pelo retorno do seu presidente reeleito. Neste sábado, foi a vez do cadáver de um jovem de El Alto aparecer boiando em um rio.

A delegada da Defensoria do Povo do Departamento de La Paz, Teresa Zubieta, expressou sua enorme preocupação “ante a barbárie, ante a violação dos direitos humanos, sobretudo da nossa gente humilde”.

“O fato de sair às ruas e fazer suas próprias reivindicações por acaso precisa ser respondido com a perda de suas vidas?”, questionou Zubieta.
E denunciou: “Estão matando a nossos irmãos como se fossem animais”.

Exilado no México, o presidente Evo Morales conclamou os criminosos a que “parem o massacre”. “condeno e denuncio ao mundo que o regime golpista que tomou o poder por assalto em minha querida Bolívia reprime com balas das Forças Armadas e da Polícia o povo que pede pacificação e a reposição”.

A autoproclamada Jeanine Áñez, o fascista Luis Fernando Camacho e o fantoche Carlos Mesa estão sintonizados, justificando todo e qualquer atropelo que impeça o retorno do “proceso de cambio” liderado por Evo. “Para justificar o golpe, Mesa e Camacho nos acusaram de ‘ditadura’. Agora sua ‘presidenta’ autoproclamada e seu gabinete de advogados defensores de violadores e repressores, massacra o povo com as Forças Armadas e a Polícia como a verdadeira ditadura”, sentenciou Evo.

Fortalecendo o caráter fascista da repressão, o governo golpista emitiu um Decreto exonerando de responsabilidade penal os militares que “participarem de operativos para o restabelecimento de ordem interna”, dando sinal verde para a repressão, a tortura e o assassinato em larga escala.

Em contraposição, neste sábado começou a circular pela internet o protesto de 63 soldados que prestavam serviço militar no Regimento Escola de Polícia de Saavedra e solicitaram sua baixa. De acordo com o cabo Ramos, “preferem o afastamento do que reprimir pais e familiares”, ressaltando que, a partir de agora, “se unirão à luta contra o golpe de Estado”.

A decisão da “ministra de Comunicação” de silenciar a imprensa internacional, abrindo “processo penal” com acusação de “sedição” contra os jornalistas que “desinformarem” – isto é, saiam fora do script ditatorial -, depois que todos os órgãos de imprensa estão ocupados por tropas ou fora do ar, dá uma boa demonstração da falta de limites dos golpistas na repressão às liberdades de expressão e manifestação.

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Leonardo Wexell Severo é jornalista.

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