Correio da Cidadania

Ano eleitoral: o desafio de manter a luta

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Não gosto de traçar prognósticos. Para essa edição resolvi focar menos nas expectativas que tenho em relação ao ano que começa e me voltar para uma questão que será importante ao longo do ano e tende a concentrar as atenções dos brasileiros e das organizações políticas: as eleições municipais. O foco, já adianto, é entender o espaço que as lutas terão no contexto de disposição das principais organizações voltadas para o pleito eleitoral.

Adianto a resposta. De acordo com o histórico, teremos uma invisibilização e colocação em segundo plano das lutas, o que a meu ver alimentam um ciclo vicioso e pernicioso de tentar recauchutar uma democracia cada vez mais apodrecida. Isto, por sua vez, acaba por nos reservar surpresas desagradáveis como a ascensão de um governo como o de Bolsonaro e sua possível continuidade ou mesmo substituição por uma “direita sensata” depois de feito o serviço sujo de reformas e privatizações.
Fundamentalmente, as eleições municipais vêm servindo de prenúncio para as eleições presidenciais e estaduais que acontecem dois anos depois.

Foi assim em 2016, quando a derrota acachapante, e não digerida, da esquerda institucional pavimentou caminho para que a direita assumisse o poder na sua versão mais extrema, mediante o fracasso de sua vertente civilizada. Não tende a ser diferente em 2020, creio até que será mais contundente esse movimento de defenestração em que a esquerda se agarrará em algumas pequenas vitórias, deixando de olhar o saldo geral.

Indo direto ao ponto: o governo federal é sempre um fator que influencia muito, em especial em municípios menores, que se tornam fundamentais para a configuração nacional posterior. Em 2016, tínhamos um governo contestado com baixa popularidade, o que não parece ser o caso de agora, ainda que Bolsonaro tenha dúvidas se conseguirá registrar seu partido, o que coloca uma incógnita de cara, mas nada que o impeça de apoiar candidatos e liberar verbas específicas já mirando 2022, coisa que Temer não tinha em mente ou não conseguiu fazer, ainda que o cenário tenha sido funesto para a esquerda.

Outro ponto importante envolve o aproveitamento do financiamento público de campanhas e a capacidade de financiamento individual que sempre coloca uma linha borrada na arrecadação das campanhas, criando diferenças que são marcantes e costumam favorecer a direita.

Mais um ponto antes de chegarmos ao fim: a esquerda tende a ficar em uma discussão geral sobre as condições do país – em 2016, envolvia divulgar o golpe – e esquecer que as dimensões locais importam mais para quem está votando. Talvez o caminho seja dialogar com a população por meio de projetos locais claros, mas como fazer isso apenas no ano da eleição, muitas vezes na véspera? Não cola.

Esses três pontos me levam a acreditar em um prognóstico que não é dos melhores para o campo da esquerda: a direita apresenta melhores condições e, pior, a extrema-direita com sua moralidade à frente tem grandes chances de ampliar sua capilaridade ao longo do país, preparando terreno para uma nova eleição em 2022.

Bem-vindos a 2020, é o início da segunda década do terceiro milênio...

Marcelo Castañeda é cientista social e professor da UFRJ.
Twitter: @celocastaneda
E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. 

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