Correio da Cidadania

O Brasil e os trabalhadores

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Brasil passa de 130 mil mortes por Covid-19 | Coronavírus | A Crítica |  Amazônia - Amazonas - Manaus
O Brasil já passa de 130 mil mortos pela Covid 19 e segue tendo mais de mil mortes por dia, mas esse número já não causa mais nenhuma comoção. As pessoas perderam o interesse no drama da Covid. Já não é mais a sensação da hora. O desconhecido cantor Kauã, que sabe-se lá porque ocupou as telinhas por semanas, saiu do hospital curado e parece que isso inaugura uma nova fase.

Na televisão vai escasseando o tema e a vida assume a mesma “normalidade” de sempre. Não existe nenhum novo normal. É tudo como dantes no quartel de Abrantes. Nas redes sociais cresce a discussão sobre as eleições e as gentes vão se preparando para mais essa “festa da democracia” que é oferecida de dois em dois anos, sob o comando do poder financeiro. Ou seja: ganha quem tem maior poder de compra. Compra mesmo, real.

No campo da política o mesmo roteiro de toma-lá-dá-cá vai se fortalecendo no Congresso Nacional, casa do povo onde o povo não entra e onde os deputados sentam em cima dos pedidos de impedimento do presidente porque, afinal, “ele não está fazendo nada de errado”. Não há ministro da Saúde, não há combate à pandemia, mas há anúncios de novos programas sociais que irão amortecer a pobreza. Muda o nome, mudam os logotipos, mas a política é a mesma. Digestão moral da fome, como diria Nildo Ouriques.

No campo da moral as redes se enchem de memes sobre o assassinato do marido de uma pastora pentecostal, aliada do presidente. O marido saiu desse plano justamente porque a pastora contratou os assassinos. Foi a mandante e chorou como uma carpideira no enterro. Fotos da assassina com o presidente, com os filhos do presidente, com a mulher do presidente são publicadas à exaustão, mas isso, na verdade, não diz nada para os seguidores do mandatário. Afinal, tirar fotos com alguém não é crime. Assim, a ligação da assassina com o presidente não se faz. E é óbvio.

A mídia comercial, que é aliada da política de Bolsonaro para o Brasil, tampouco faz questão de ligar lé com cré. Nada parece turvar as águas do governo, que segue popular nas pesquisas.

E enquanto isso vão rolando no legislativo nacional algumas propostas de Reforma Tributária que igualmente são ignoradas pela mídia, e acabam não chegando na maioria da população, justamente os que vão sofrer a política. Propostas de manutenção da tributação já existente, hegemonia do empresariado nas propostas e a esquerda liberal discutindo a possibilidade de taxar as grandes fortunas.

Conforme muito bem explica o advogado e doutor em direito tributário, Marcos Palmeira, taxar as grandes fortunas não muda em nada o estado das coisas, pois continua se admitindo que haja a concentração da riqueza. Ele lembra o exemplo da Argentina, que tem um percentual - baixíssimo - de taxação sobre as grandes fortunas e isso não altera o processo de distribuição dos recursos. Os pobres continuam pobres e os ricos mais ricos. A taxação não faz nem cosquinha no abismo que existe entre as classes.

Falta definitivamente um debate sério sobre o país, uma crítica radical e uma proposta plausível para a transformação. O professor Nildo Ouriques insiste que só uma revolução brasileira pode mudar os rumos do país e ele está certo. Não há como humanizar o capitalismo já que é da natureza desse modo de produção ser assim: para que um viva, outro tem de morrer. Para que um homem como o dono da Amazon tenha sua fortuna aumentada em bilhões, mesmo numa pandemia, é preciso que uma gigantesca massa de gente esteja na penúria, fugindo das guerras, arriscando-se no mar ou morrendo de fome no cotidiano das grandes cidades.

O Brasil de hoje é o gigante adormecido, entregue às mãos da mesma velha elite que domina essa capitania desde os tempos da invasão. Há reações, pequenas e pontuais, dos trabalhadores. Mas é uma ação que precisa crescer e se espalhar. Nada virá de bom grado do Congresso Nacional e muito menos as ações isoladas – sobre alguns inimigos intraclasse – do STF farão diferença no andar dessa carruagem capenga.

A prisão dos agora inimigos de Bolsonaro não fortalece a esquerda, pelo contrário, ela serve para afirmar junto a claque que o atual governo não tolera a corrupção, embora seja fruto da barganha cotidiana que se dá no judiciário e no legislativo nacional. É um competente jogo de cena.

Só a luta renhida da classe trabalhadora muda o mundo. Nada mais.

Elaine Tavares

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC

Elaine Tavares
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