Correio da Cidadania

A bandeira jamais será... capaz de nos enganar

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Coitados dos consumidores, principalmente os que estão com dificuldades de pagar sua conta de luz. Além de pagar a tarifa vice-campeã de carestia - https://www.iea.org/reports/energy-prices-2020 -, ainda tem de sofrer uma tentativa de disfarce de que as bandeiras tarifárias são “baratinhas”.

Ninguém no mundo usa preços por 100 kWh. Ou se usa R$/kWh ou R$/MWh. Quando se mostram as bandeiras em R$/MWh, o aparente pequeno valor é multiplicado por 10 e assim pode ser comparado a outros preços.

Vejam a sequência de bandeiras que já pagamos.


O vermelho mais escuro é a bandeira vermelha patamar 2. A preta é a de escassez hídrica. A verde não aparece pois não acrescenta mais custos às contas.

Vejam o quanto as bandeiras tarifárias representam em % da tarifa. O último valor representa um aumento disfarçado de 24%.



Como podemos comparar a atual bandeira “Crise Hídrica” de R$ 142,4/MWh?

Eis alguns exemplos:

Leilão de Eólicas em 2019; Preço médio = R$ 104,89/MWh.
Leilão de Fotovoltaicas em 2019, Preço Médio = R$ 125/MWh
Leilão de Energia de Belo Monte a preços de 2020 = R$ 88/MWh.

Portanto, uma bandeira vermelha patamar 2 que cobra do consumidor final R$ 142,4/MWh supera todos esses indicadores de energia nova.

Não se deixem enganar. Além de uma das mais caras tarifas do planeta, estamos pagando um preço extra que, superando valores de leilões, mostra que faltam usinas. Faltam investimentos. Se tivéssemos mais usinas, os reservatórios não estariam tão vazios.

O plano e a realidade

Vamos dar uma pausa na discussão sobre a “Pior crise Hídrica” e dar uma olhada no que imaginamos para 2021 no setor elétrico, o PLANO 2021 feito em 2011. Os dados do planejamento foram coletados no documento abaixo e os dados são reais, alguns oficiais da ANEEL, outros obtidos no mês de agosto de 2021 adotando-se médias nos devidos casos.

O gráfico abaixo resume essa comparação.



O que se percebe é que ocorreram “Surpresas e Frustrações”. Surpresa quando o valor supera o previsto e frustração quando ocorre o inverso.

• Frustração de 17,7 GW médios do consumo = – 20%
• Frustração de 8,4 GW nas Hidráulicas = -7,1 %
• Surpresa de 8,3 GW nas térmicas = + 28%
• Surpresa 2,7 GW na Biomassa = + 20%
• Frustração de 1,5 GW na Nuclear = – 44 %
• Frustração de 1,9 GW na PCH = – 27%
• Surpresa de 2,3 GW na Eólica = + 14 %
• Surpresa de 3,4 GW de Solar + Infinito (o plano não previa solar)
• Surpresa de 4,9 GW no Total Instalado = + 2,6 %

O que chama a atenção é que para um consumo de 88 GW médios, o plano 2021 imaginava ser necessário 186,2 GW instalados. Isso significa que seriam necessários 2,2 GW instalados para cada GW médio de consumo.

Mas na realidade, apesar de ter uma carga menor (70,3 GW médios), foram necessários de 190,6 GW instalados. São 2,71 GW para cada GW médio de consumo; 28% acima do previsto. Já vamos entender a razão.

A primeira observação é que, necessitando mais fontes, a realidade deve ser mais cara, o que “confirma” a explosão de tarifas brasileiras.

Examinando um pouco mais, percebe-se que houve frustração da ampliação de hidráulicas e surpresa no surgimento de usinas térmicas, que se ampliaram em quase 30% em relação ao previsto.

Chama a atenção a ausência de Angra III na realidade e a ausência de fotovoltaicas no plano.

Mas, a grande mudança é uma espécie de troca de hidráulicas por térmicas. Segundo dados da ANEEL, já temos 44 GW de térmicas! O número é diferente do gráfico porque a base de dados da ANEEL mistura térmicas que fazem parte do sistema interligado com térmicas que atuam em caso de falta de luz em certas indústrias e comércio. Nem essa necessária coordenação temos!

Reparem que, em construção ou planejadas, continuamos agregando mais capacidade térmica. Eólicas e fotovoltaicas estão em construção, mas as térmicas continuam mantendo sua participação em torno de 30%.



Enquanto não entendermos que usinas hidráulicas não são meras fábricas de kWh e são as únicas capazes de enfrentar a intermitência das solares e eólicas, vamos continuar pagando caro e esvaziando reservatórios.

Roberto Pereira D’Araujo é engenheiro, ex-assessor da Eletrobrás e diretor do Instituto Ilumina.

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