Correio da Cidadania

Lula e Boulos

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Exclusivo: Lula, Ciro e Marina Silva já gravaram para a campanha de Boulos  - Eleições - SBT News                           Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Tenho visto com muita preocupação militantes petistas afirmarem com veemência que não apoiarão a candidatura de Guilherme Boulos ao governo de São Paulo. Será que a esquerda não aprendeu nada com o que aconteceu no Brasil nos últimos anos? Não aprendeu a identificar qual o lado, o compromisso de cada um e a importância de ao menos uma frente ampla?

Boulos tem sua trajetória construída ao lado dos sem-teto, um dos segmentos mais excluídos deste país, coibido no direito essencial à moradia. Diversas vezes tive oportunidade de presenciar sua abnegação. Foi viver na periferia e lutar com o povo mais sofrido. É uma liderança com pé no barro, e faz o que prega. A coerência é valor fundamental para todos nós que queremos mudar a sociedade.

Boulos esteve ao lado de Lula nos momentos mais difíceis, quando muitos não queriam estar, com medo de prejudicar sua imagem frente à opinião pública. Foi às ruas defender Dilma contra o golpe. Esteve em São Bernardo, junto com milhares de sem-teto, para lutar contra a prisão injusta do ex-presidente. Visitou Lula no cárcere de Curitiba. O próprio Lula já me manifestou sua admiração e carinho por Boulos.

Na eleição para a prefeitura de São Paulo, Boulos mostrou ser uma grande liderança da nova geração de políticos progressistas críticos ao neoliberalismo. E parece que isso incomodou, em especial setores da esquerda que ainda não se abrem às novas lideranças jovens. A esquerda precisa ter a capacidade de se renovar, de abrir espaço para os que chegam, de mostrar caras novas. E Boulos representa muito bem essa renovação.

Na atual e trágica conjuntura em que o Brasil se encontra é triste ver que ainda há quem se apega a diferenças menores e enxerga inimigos onde eles não existem. São os fantasmas de Shakespeare. Guimarães Rosa, pela boca de Riobaldo, em “Grande Sertão, Veredas”, afirma que, ao longo da vida, a pessoa perde aos poucos o medo de viver e de morrer, o medo maior, então, é de “nascer”. Nascer ali significa viver situações inéditas, escolhas diante das encruzilhadas da vida, fatos que simbolizam novos surgimentos esperançosos, como a figura política de Boulos. Não há que ter medo desta nova liderança. Tenho absoluta certeza de que Lula é a pessoa mais preparada para derrotar Bolsonaro e tentar reconstruir o país. E ele sempre soube fazer isso valorizando seus aliados.

Boulos tem todo o direito de lançar sua candidatura ao governo de São Paulo, principalmente após a bela campanha que fez na capital, ao lado de Luiza Erundina. Considero inclusive a melhor chapa: Lula para presidente e Boulos para governador. Seria um grande sinal de abertura para a renovação.

Se o PT tomar outra decisão, paciência, está também em seu direito. Mas acredito que o momento histórico cobra de nós unidade. E caso não haja acordo, o mínimo que se espera é respeito. Ataques e falta de generosidade aos que sempre estiveram do mesmo lado, junto com desconfianças de traição, não é um bom caminho, exceto para a direita, que torce pelo fracasso da esquerda.

Em minha trajetória aprendi a valorizar mais o compromisso social do que a filiação partidária. Essa bússola me permite manter-me firme com os valores que abracei, tendo em vista o sonho de uma sociedade justa e solidária.

Espero votar, ano que vem, em Lula e Boulos. E que os partidos da esquerda tenham discernimento para construir um ambiente de respeito e unidade, focando suas críticas naqueles que, de fato, são adversários e inimigos da maioria do povo brasileiro.

Frei Betto

Assessor de movimentos sociais. Autor de 53 livros, editados no Brasil e no exterior, ganhou por duas vezes o prêmio Jabuti (1982, com "Batismo de Sangue", e 2005, com "Típicos Tipos")

Frei Betto
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