Correio da Cidadania

Guerra da Ucrânia: dilema dos Estados Unidos

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Invasão da Ucrânia: veja seis possibilidades do que pode acontecer na região
Foto: Getty Images

Ao invadir a Ucrânia no final de fevereiro, a Rússia demonstrou dois objetivos imediatos: o de substituição do presidente Volodymyr Zelensky, eleito no segundo turno em abril de 2019 com quase três quartos dos votos embora bastante impopular na altura do ataque, haja vista o índice de aprovação em torno de 30%, e o de incorporação de bom quinhão da região do Donbass, local onde há significativa população de ascendência russa, espraiada em duas províncias - https://www.npr.org/2022/01/27/1076199817/where-president-zelenskys-popularity-stands-with-people-in-ukraine.

Com quase seis meses de conflito, o primeiro alvo teria sido descartado em decorrência do apoio maciço do povo ucraniano ao dirigente, dado que ele segue sem tentativa de golpe de Estado ou sem pressão exacerbada de renúncia até o momento – Zelensky havia recusado proposta de liderar a resistência fora do país.

De modo similar, há a solidariedade de governos euro-americanos na correta retórica em defesa da autodeterminação da nação ucraniana e no auxílio do envio contínuo de equipagem, em sua maioria estadunidenses e britânicos.

No tocante ao segundo tópico, porém, Moscou tem conservado os territórios assaltados, ainda que Kiev contra-ataque de quando em quando, malgrado o modesto êxito.

Na semana passada, a atenção da sociedade global deslocou-se para outra parte do globo em função da controvertida viagem da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi (Partido Democrata), a Formosa, polo ideológico oposto ao da China. A concorrência entre ambas é uma das últimas questões oriundas do tempo da Guerra Fria.

De maneira gradativa, Pequim recuperou áreas outrora controladas por potências europeias: Portugal com Macau e Grã-Bretanha com Hong Kong. O embate entre nacionalistas e comunistas durante cerca de duas décadas ocasionaria fragmentação: um governo identificado com a primazia da Casa Branca e outro, com a do Kremlin.

A cisão seria ponto de tensão na rivalidade amero-soviética porque desaguaria em disputa singular: a representação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (CS/ONU). Até 1971, Formosa seria a titular; depois, o assento seria encaminhado à China, com quem permanece, devido à alteração de postura dos Estados Unidos no correr da gestão de Richard Nixon: aproximar-se de Pequim, a fim de fortalecer o distanciamento dele de Moscou; todavia, sem renunciar à soberania de Taipé.

Meio século seguinte, a administração de Joe Biden situa-se diante de questões delicadas, afora a da China: no plano interno, há a inflação crescente e no externo a inaptidão bilateral com nações como Afeganistão, Arábia Saudita, Irã e Rússia, apesar de que no multilateral o país tenha revitalizado, quando muito: a pauta da segurança, ao reforçar os laços com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN); saúde, ao combater o vírus corona via cooperação científica como o desenvolvimento de vacinas; e clima, ao aceitar de novo em janeiro de 2021 os termos do Acordo de Paris de dezembro de 2015.

No horizonte próximo, haverá a denominada eleição do meio do mandato (presidencial), processo por que os democratas podem perder a maioria na Câmara e no Senado. Caso a vantagem seja marcante, parlamentares de estirpe republicana poderão influenciar Washington a propor cessar-fogo entre Moscou e Kiev, mesmo desfavorável a este, sob justificativa de que a Casa Branca deveria concentrar-se mais em assuntos internos.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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