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Guerra da Ucrânia: expectativa da Rússia em torno dos aliados da Ucrânia

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Guerra da Ucrânia: expectativa da Rússia em torno dos aliados da Ucrânia

Os custos ao Kremlin têm sido superiores aos benefícios, mas contexto ocidental pode enfraquecer resistência ucraniana.

Virgílio Arraes


A lamentável efeméride dos seis meses de invasão da Ucrânia por tropas da Rússia coincide em certa extensão com a da celebração da independência do país agredido, a mais marcante desde a recuperação da soberania em agosto de 1991, em decorrência da imensa fragmentação atual de seu território – cerca de um quinto sob recente supervisão ou das forças armadas moscovitas ou de comunidades russófilas separatistas.

Desde 2014, tenta-se alterar nestas regiões o norte da maioria da população local para Moscou ao invés da costumeira Kiev. Com o ingresso maciço dos contingentes invasores, apressam-se medidas de incorporação dos habitantes locais à nacionalidade russa.

Desta maneira, ocorre a necessidade de incorporar de modo gradativo as comunidades das áreas conquistadas ao cotidiano russo como a substituição progressiva do professorado nas instituições de ensino ou como a adoção do rublo ao invés da grívnia no pagamento dos servidores públicos.

O auge do processo de mudança do Kremlin será em breve a realização de plebiscitos concernentes à escolha da soberania. Com isso, reduz-se a possibilidade de configurar dois novos pequenos países como outrora se vislumbrava: Donetsk e Lugansk.

Destaque-se que o sistema de ‘russificação’ não se inicia no presente século com a administração corrente, nem no passado durante a fase comunista – ele tem raízes profundas, ao remontar à monarquia absolutista. Referente à disputa com a Ucrânia, por exemplo, a própria Crimeia havia sido anexada a primeira vez em abril de 1783, ou seja, na época da dinastia Romanov.

Nem o impacto econômico da ampliação da presença russa no cotidiano de outros povos, fosse na monarquia, fosse no comunismo, também não era uniforme. Nas nações da Ásia central, o investimento soviético em direção à industrialização e ao desenvolvimento da infraestrutura havia sido mais significativo que nas bálticas ou na ucraniana.

Até o momento, os custos ao Kremlin têm sido superiores aos benefícios, haja vista a duração do confronto cujas consequências têm sido o amplo isolamento político do governo de Vladimir Putin e a debilidade financeira crescente, refletida na queda do produto interno bruto (PIB), como a efeito este de incisivas sanções do arco norte-atlântico lideradas de forma resoluta por Washington e por Bruxelas.

Como contraponto à determinação de punição da coligação ocidental, Moscou especula que o braço europeu não se arriscará a permanecer por muito tempo sem a importação de cereais e em especial de gás, ainda mais com o inverno à vista - dezembro.

Sem o acesso tradicional ao produto, seu preço elevar-se-á; como consequência, o restante da economia será afetado em desfavor do dia a dia dos europeus. O Kremlin aposta que a depender da demora das restrições o eleitorado começará a queixar-se das agremiações no poder.

No outro lado do Atlântico, o desempenho do Partido Democrata na eleição do meio de mandato daqui a algumas semanas poderá ter impacto no posicionamento da diplomacia norte-americana. Se reduzir sua participação no Congresso, o governo de Joe Biden se deparará com dificuldades para manter o mesmo grau de apoio a Kiev – bilhões de dólares em armamentos.

Por consequência, a Rússia vislumbra o distanciamento dos aliados momentâneos da Ucrânia em breve; com isso, ela espera consolidar sua posição no país atacado, ao assegurar literalmente para si seu quinto.

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Virgilio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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